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Da Aprendizagem Construída ao Desenvolvimento Pessoal e profissi

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Descrição

ISBN: 972-8485-69-7
Autores: Manuel Alves Rodrigues; Ana Maria Pereira; Carlos Santos Ferreira 
Nº de Páginas: 152
Formato: 15 X 21 cm
Editora: Formasau
Ano de edição: 2006

 

PREFÁCIO

A característica fundamental dos humanos manifesta-se por duas actividades principais: uma elaboração cuidada dos dados da situação e/ou da tarefa a levar a efeito e, simultaneamente, uma adequada atribuição de significação, orientada para a acção a desenvolver. Acção esta que pode ter por objectivo uma intervenção profissional ou uma pesquisa de fundo a desenvolver ou, ainda, uma simples hipótese a formular ou reformular. Ambas, a elaboração e a significação, expressam-se em actualização das potencialidades pessoais perante as circunstâncias, adentro das rotas do quotidiano, em termos de rotina e de ruptura. Na certeza de que nunca a rotina prevalece sobre a ruptura, nem a ruptura sobre a rotina. Com efeito, rotina sem ruptura é estagnação-paragem na repetição, do mesmo modo que a ruptura sem rotina é desenraizamento-paragem no desenvolvimento. Acima de tudo, só e sempre o desenvolvimento pessoal ao longo duma «aprendizagem» construída.
Uma breve explicitação, a partir duma tão interessante como exigente iniciativa.
Esta a fórmula simples duma iniciativa inovadora, apoiada numa reflexão informada, aplicada a uma observação técnica sobre uma etapa do desenvolvimento humano, um pouco negligenciada ou esquecida pelos «cultores» da Ciência do humano, num momento privilegiado que é o Ensino Superior enquanto preparação directa para uma actividade profissional. Acresce que se trata duma actividade profissional de incidência directa sobre a saúde, directamente orgânica. A fortiori não se pode esquecer quando se trata duma intervenção directa sobre a saúde pessoal, englobando a dita «orgânica» e a dita «mental» numa unidade experiencial e experienciada, fundamental para uma atitude de alegria confiante ao longo do existir.
Antigamente, muito antigamente (50 anos em História da Ciência!) quando se tratava do cuidar da saúde dos humanos, em termos de prática de Enfermagem, dizia-se: «basta um pouco de bom-senso e alguma caridade». Posteriormente, para cuidar ainda da saúde dos humanos, uma adequada «competência técnica» era desejável e foi sendo aplicada. Para o século XXI vai ser, inevitavelmente, algo de diferente, na sequência duma reflexão mais específica sobre o humano. Com efeito, basta pensar que se trata, efectivamente, de humanos e não  apenas de organismos. Humanos, tanto o utente como o profissional da saúde.
A característica específica do humano é o agir e, em presença de outro(s) humano(s) é interagir, expressar sociabilidade, espontânea ou organizada, ou as duas.
Por outras palavras: da aprendizagem técnica, passando pela elaboração pessoal dessa aprendizagem técnica até chegar ao desenvolvimento pessoal do técnico, preparando-o para uma atenção criativa, dispensada à variedade e à variabilidade das expressões dos utentes e até da equipa de saúde, encontramo-nos perante passos consideráveis, válidos e valiosos para a promoção da saúde. Esperemos… irreversíveis.
Comparativamente: um docente para expor uma determinada matéria, praticando uma licenciatura ou mais alguma «coisa», pode sempre servir-se dum manual, em princípio mais ou menos o adoptado; um engenheiro pode servir-se de instrumentos de cálculo mais ou menos estandardizados para colher informações; mesmo um médico pode «recorrer» a um prontuário mais ou menos actualizado ou, na sua forma actual, em termos de programa de computador. Um profissional da saúde, dito Enfermeiro, por enquanto ao menos (alguma vez poderá acontecer?!) de nada disto dispõe. Acessíveis ou ao seu dispor, simplesmente sinais, palavras e gestos, adentro duma variedade e variabilidade culturais sempre a ter em conta, vantajosamente no sentido de bem servir.
Com efeito, porque se trata de «vida», vivenciada pessoalmente ou seja, «aspiração a viver», apresenta-se algo de inevitável, pois de humanos se trata: a atribuição pessoal de significação aos sinais, que manifestam pessoalmente, duma forma ou doutra, o uso de autênticos símbolos. O profissional da saúde encontra-se perante um humano. De modo algum, um simples organismo. E o próprio organismo não é apenas o que a Anatomia e a Fisiologia descrevem, mas também o que o utente vivência, expressando--se, de modo algum apenas, «reagindo». Este é um vocábulo ultrapassado definitivamente, por ser inevitavelmente inadequado. Portanto inútil, ao prestar um serviço.
Uma das mais promissoras reflexões, praticadas adentro da Ciência psicologia actual ou Ciência do humano consiste, sem dúvida, na distinção que remonta a 1912, a colocar, vantajosamente em foco neste dealbar do século XXI, aqui mesmo em Portugal (Coimbra) por intermédio de duas dissertações académicas (1964 e 1978). A aprendizagem, tomada como exclusivamente humana não consiste em qualquer «lei do efeito» (Thorndike), muito menos em qualquer tipo de condicionamento (à Watson ou à Pavlov), para ser uma elaboração ou re-elaboração pessoal da informação acontecida ao longo da interacção pedagógica de humanos em presença assim como em simultânea e subsequente actividade de apreciação, possibilitando uma selecção, a preparar o caminho para uma decisão de passagem a acto (acting out). Deste modo, acontece a formulação e a prática dum objectivo, a reformular perante a informação que a própria passagem a acto sempre proporciona.
Numa só palavra: desenvolvimento de cada humano, em termos de projecto. Em vivência de projecto, o humano expressa-se em atitude constante de «tarefa aberta». O mesmo  dizer, motivação. Aberta a quê? À iniciativa ou ao caminhar para o futuro. Por intermédio de quê? Duma atitude tão lúcida quanto personalizada e, consequentemente, personalizante… desenvolvente.
A análise científica do real, do real humano em particular, constitui a base de toda e qualquer intervenção junto do humano, principalmente. Na prática duma tal intervenção directa em termos de organismo (médicos e enfermeiros) ou em termos de personalidade de qualquer profissional de saúde (psicólogos e psiquiatras) pode definir-se como «regra d’oiro», formular uma disjuntiva: «da ou duma personalidade» (1982); e uma  copulativa: «factor estrutural e desenvolvimento» (1985); em suma, «não interessa respeitar a pessoa; sim e só o que a pessoa é» (1971).
Sob a forma duma certeza incontestável: «para agir adequadamente com cada humano, prestando um serviço específico, o pressuposto correcto consiste numa análise rigorosa e específica de o que o humano é».
Neste contexto, situa-se «aprendizagem construída e desenvolvimento pessoal»: experiência de inovação curricular no Ensino Superior de Enfermagem» o que constitui motivo de regozijo, por força da esperança, encontrar esta proposta de reflexão que aponta para a prática, em termos de radicalidade, duma «perspectiva humana do humano». E não apenas no utente dum serviço de saúde. Inovador, radicalmente, por ser uma proposta que tem como ponto de mira o próprio profissional; mais: por fundamentar a proposta, a partir de informação científica, seleccionada de autores abalizados, mesmo entre nós; mais ainda: - aspecto original – trata-se duma reflexão sobre uma experiência concreta numa Escola superior de Enfermagem.
Acima de tudo, esta experiência comporta algo de mais importante, uma hipótese de base: o desenvolvimento – característica específica do humano – aparece a contemplar toda a existência humana, sem terminar por volta dos 18-25 anos. Uma tal perspectiva realça a afirmação, aparentemente paradoxal: «Inexistência da adultez» (1979).
Esta reflexão (desnecessária) que amavelmente fui convidado a introduzir, fundamenta com rigor e segurança as reflexões a que recorre M. Debesse (1958-62) no sentido de evidenciar um momento importante no desenvol-vimento humano, por ele apelidado «jovem adulto». As circunstâncias, di-versificadas, apresentam-se como um convite poderoso a cada humano, de as analisar (referencial cognitivo), de as apreciar, de as seleccionar a ponto de chegar a uma decisão de agir ou de «passar a acto» (referencial afectivo), do melhor modo e pessoalmente… concretizando ou afirmando o projecto existencial próprio.
Restaria acrescentar, realçando a importância que este projecto existencial pode desempenhar para a criação artística, seja em manifestações de criação original seja em expressões de re-criação pessoal, principalmente nos momentos e para a época do lazer, embora não só, mas principalmente, de-senvolvendo a capacidade humana fundamental que consiste no maravilhar-se, perante qualquer manifestação de criatividade em termos de Arte, por ser a mais acessível e aberta à criação e à re-criação.
Retomando: A chave do processo educativo só se pode situar na alegria partilhada entre os diversos actores por serem eles-próprios os autores dum projecto que é desenvolvimento, por intermédio duma análise e duma apreciação onde desabrocha a aspiração a aprender-aprendendo e assim in-dagando para agir com autonomia em termos de futuro: «concepção do pro-jecto, planificação, acção e finalização».
Cada humano «é» e «cria» história que ele próprio «lê». Daí, ao lidar com humanos, o profissional da saúde em situação concreta, encontra-se perante «uma história», a do utente, possivelmente com hiatos, problemas ou «marcas», conservadas em elementos culturais, talvez nos antípodas da Ciência do humano. É operacional ter presente que o próprio profissional também se encontra na mesma situação. Em consequência, é saudável con-vidá-lo a reflectir sobre a sua «história», hoje – Escola – e amanhã – acção profissional – graças às vivências reflectidas na própria Escola em termos de superação constante, isto é, desenvolvimento, por e para explicitação das suas capacidades.
Em perspectiva humana do humano, caminho… é caminhar

Professor Doutor Miranda Santos
Catedrático de Psicologia