ISBN: 972-8485-61-1
Autores: Maria Teresa Araújo
Nº de Páginas: 160
Formato: 15 X 21 cm
Editora: Formasau
PREFÁCIO
Tive a honra de ser orientador de mestrado da Autora da obra que agora me é dado o privilégio de prefaciar.
Desde Maio de 2001 acompanhei de perto as preocupações, as dúvidas, as incompreensões e os desalentos de Maria Teresa Araújo. Depois de uma carreira, longa de 20 anos, dedicada à causa de enfermagem, com contínua valorização técnico-científica e ascensão progressiva na hierarquia profissional, chega o momento da decisão maior. Enfrentar o mestrado na Faculdade de Medicina de Coimbra e optar pela aliciante mas complexa temática do Síndrome de Imunodeficiência Adquirida.
O impulso foi mais forte do que as vicissitudes.
A partir de Outubro de 1999 e até ao dia da defesa da dissertação em 22 de Julho de 2003 quantas tarefas, quantas questões, quantas insónias.
A autora não percorreu o caminho mais fácil nem escolheu o tema menos ingrato. Abalançou-se a uma investigação que inicialmente intitulou “A SIDA na mulher – as percepções de saúde e as suas implicações na saúde sexual e reprodutiva” e que mais tarde burilou para titular como agora identifica a obra que me apraz comentar.
Tive muito gosto em a acompanhar num percurso investigacional que procura “analisar a percepção da doença e a problemática da sexualidade e das tomadas de decisão sobre gravidez e contracepção em mulheres com infecção por VIH”.
O tema não pode ser mais actual, porque se mantém na agudeza dos seus primórdios, mas, também, porque sobre ele surgem pronunciamentos polémicos dos Conselhos de Ética e de instituições ligadas às políticas de Saúde em Portugal.
Também por isso a obra merece ser lida.
Para saber o que pensam e como reagem as mulheres que, muitas e muitas vezes sem o saberem, são confrontadas, em consulta de rotina de uma gravidez que se presumia sem incidentes, com o diagnóstico de sero-positividade para o VIH.
Quantos dramas! Quantas revoltas! Quantos desesperos! Quanta conflitualidade!
Como transmitir a notícia? Que destino para a gravidez tantas e tantas vezes desejada? Que atitude face ao marido ou parceiro, também ele, quantas vezes, desconhecedor de um problema que é comum e, subitamente, colocado perante um drama de limites inimagináveis.
E o futuro? Como vai ser? Como reagirá aos tratamentos? Como evoluirá a doença de cura duvidosa? Quais os estigmas do recém-nascido? E se tudo correr bem, o que acontecerá no emprego?
A autora escolheu para a sua obra um título feliz, definiu um objectivo ambicioso e concebeu uma estratégia repleta de dificuldades, realizando um trabalho de campo através de questionários que concebeu com acutilância, mas também com simplicidade. Todos estes condimentos produziram um escrito que merece atenta reflexão e é de manifesta actualidade.
Não dando resposta a muitas questões e levantando apenas o véu a algumas controvérsias, dá azo ao leitor para elaborar o seu próprio discernimento e ser parte activa na discussão de um problema que continua a ser, tão só e apenas, a pandemia mais preocupante dos últimos decénios e relativamente à qual se desconhecem muitos dos seus contornos e não se vislumbra sequer uma solução, a curto ou médio prazo, que evite a trágica perspectiva da hecatombe que poderá dizimar continentes.
As reflexões de Maria Teresa Araújo impressas na sua obra, que resol-veu fazer sair do círculo académico restrito em que foi produzida, poderão ajudar a caminhar em sentidos sócio-psicológicos que, se outros benefícios não produzirem, poderão motivar a sociedade civil para a “generosidade, a partilha, confiança e lições de vida” que a Autora teve ocasião de receber das mulheres com quem conviveu durante o estudo que protagonizou e a quem a quis dedicar.
Agostinho de Almeida Santos