Investigação em Enfermagem nº 17 Fevereiro 2008 |
Trinta e oito excert os à procura da esência
Thirty-eight excerpt in search of essence
Paulo Joaquim Pina Queirós, PhD
Director da RIE, Professor Coordenador Fundamentos de Enfermagem
A Enfermagem enquanto profissão e enquanto disciplina científica conduz-nos para as seguintes questões: O que é a enfermagem? O que é ser enfermeiro? Ou seja, leva-nos à procura da clarificação disciplinar e profissional, tentando encontrar a especificidade da abordagem de enfermagem nas respostas humanas aos problemas de saúde e de doença.
De uma forma despreocupada, mas empenhada, julgo de alguma utilidade como ponto de partida para o aprofundamento da reflexão sobre as questões colocadas, a visita a algumas obras de autores de referência editadas entre nós, e aqui encadeadas em excertos de pequenos textos.
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Foi Nightingale que considerou as enfermeiras como um corpo de mulheres escolarizadas quando as mulheres não eram nem escolarizadas nem trabalhavam no serviço público.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Nightingale … descreveu a função específica da enfermeira, ao colocar o doente nas melhores condições para que a natureza actue sobre ele e expôs a ideia de que a enfermagem era baseada no conhecimento das pessoas e do seu ambiente, que era uma base de conhecimento diferente da que os médicos usavam na prática.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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No início do século XX, a enfermagem não era nem uma disciplina académica nem uma profissão. Contudo, as concretizações do último século levaram ao reconhecimento da enfermagem em ambas as áreas.
… disciplina e profissão estão definitivamente interligadas, mas cada uma tem significados específicos que são importantes para a enfermagem.
- Uma disciplina é própria da academia e diz respeito a um ramo do ensino, a um departamento da aprendizagem ou a um domínio do conhecimento.
- Uma profissão diz respeito a um campo especializado da prática fundado com base na estrutura teórica da ciência ou conhecimento daquela disciplina e nas capacidades da prática que a acompanha.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Watson (1992): A enfermagem pode definir-se como uma ciência humana de experiências de saúde doença, que são mediadas por uma transacção de cuidados profissionais, pessoais, científicos, estéticos, humanos e éticos.
Abreu, Wilson Correia (2007): - Formação e aprendizagem em contexto clínico. Fundamentos, teorias e considerações didácticas. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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[Virginia] Henderson declarou que “a única função da enfermeira é a de assistir o ser humano, doente ou saudável, no desempenho das actividades que contribuem para a saúde ou para a recuperação (ou para a morte pacífica) e que ele iria desempenhar sem auxílio caso tivesse a força, a vontade ou os conhecimentos necessários para o fazer de modo a ajudá-lo a conquistar a independência tão rápido quanto possível”
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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A enfermagem é a profissão que, na área da saúde, tem como objectivo prestar cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos social em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível. (ponto 1 do artº 4 do Decreto-Lei nº 161/96, de 4 de Setembro, com nova redacção dada pelo Decreto-Lei nº 104/98, de 21 de Abril).
Regulamento do exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE). Ordem dos Enfermeiros Portugueses
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Cuidados de enfermagem são as intervenções autónomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no âmbito das suas qualificações profissionais. (ponto 4 do artº 4 do Decreto-Lei nº 161/96, de 4 de Setembro, com nova redacção dada pelo Decreto-Lei nº 104/98, de 21 de Abril).
Regulamento do exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE). Ordem dos Enfermeiros Portugueses
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Um dos primeiros e mais importantes trabalhos sobre esta problemática [a natureza da enfermagem] foi desenvolvido por Carper (1978). Esta autora, com base na análise da literatura de enfermagem, entendeu que uma das suas características fundamentais era os seus padrões de conhecimento. Como tal, propôs quatro padrões fundamentais e duradouros de saber que os enfermeiros valorizam e usam na prática:
- Saber empírico ou a ciência de enfermagem
- Saber ético ou a componente moral do saber na enfermagem;
- Saber pessoal na enfermagem
- Saber estético ou a arte na enfermagem
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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… O que é o conhecimento em enfermagem? Por exemplo, em 1978, Carper idealizou quatro padrões fundamentais do conhecimento em enfermagem: (1) conhecimento empírico (ciência de enfermagem), (2) conhecimento estético (arte de enfermagem), (3) conhecimento moral (ética da enfermagem) e (4) conhecimento pessoal (uso terapêutico de si próprio).
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Nagle e Mitchell defenderam a diversidade teórica, que é a utilização de múltiplas abordagens à teoria no cenário prático. Meleis declarou que, numa disciplina que lida com seres humanos, não é provável que apenas uma teoria explique, descreva, preveja e modifique todos os fenómenos da disciplina. “Esta aceitação encoberta de uma (única) abordagem (à teoria) asfixia a criatividade, a investigação e o crescimento erudito”.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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O trabalho de Carper foi significativo por realçar não apenas a centralidade do conhecimento teórico resultante empiricamente, mas também por reconhecer, como igualmente importante, o conhecimento obtido através da prática clínica
(Stein, Corte, Colling e Whall, 1998, cit. Por Fawcett et al., 2001).
Abreu, Wilson Correia (2007): - Formação e aprendizagem em contexto clínico. Fundamentos, teorias e considerações didácticas. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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No estado actual do desenvolvimento da disciplina, é possível conceber que o conhecimento disciplinar é contextualizado e inseparável das práticas e padrões culturais.
Abreu, Wilson Correia (2007): - Formação e aprendizagem em contexto clínico. Fundamentos, teorias e considerações didácticas. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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Adoptando uma perspectiva estruturalista, que considera que a estrutura do conhecimento é idêntica nas diversas culturas humanas e que os processos de conhecimento existem em oposição binária, podemos identificar, analisando o desenvolvimento actual da disciplina, oito padrões fundamentais de conhecimento:
- empírico (a ciência de enfermagem, os seus objectos de atenção, as estratégias de ancoragem);
- o estético a “arte de enfermagem”;
- o conhecimento pessoal – que diz respeito à qualidade dos contactos interpessoais, personalização e individualização dos cuidados);
- o ético (a componente do conhecimento moral em enfermagem);
- o processual (linguagem profissional; conhecimentos sistemáticos e assistemáticos que permitem medir o diagnóstico e a acção, adaptados a situações sempre renovadas, sem se constituírem em princípios explícitos. A linguagem profissional pode ser definida como mo conjunto de termos e respectivos significados, que são usados como propósito de indexar e classificar a informação em enfermagem);
- o relacional (relação e interacção com a pessoa ou grupos humanos);
- o cultural (conhecimentos que permitem ao enfermeiro compreender a forma como os indivíduos vêm, sentem e pensam o seu próprio mundo);
- o tácito (é um conhecimento adquirido na prática, que se manifesta na espontaneidade, não sistematizado. È um conhecimento que se expressa na execução de uma dada tarefa, sem ter a necessidade de uma reflexão prévia. São em grande parte intuitivos (conjunto de saberes inscritos na memória, formados em momentos passados, mas sempre passíveis de servirem de matriz para leituras e tomadas de decisão, através de transposições analógicas para situações similares).
Abreu, Wilson Correia (2007): - Formação e aprendizagem em contexto clínico. Fundamentos, teorias e considerações didácticas. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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O saber na componente “conhecimento pessoal” é o mais problemático e o mais difícil de ensinar, na medida em que aponta para a relação com outro ser humano e o confronto deste como pessoa, sugerindo uma relação, não apenas com
os outros, mas também consigo próprio, domínios de conhecimento que se associam ao conceito de transição proposto por Meleis (1991) e que se considera central.
Amendoeira, José (2006): - Uma Biografia Partilhada da Enfermagem. A segunda metade do século XX 1950-2003. Um contributo sócio-histórico. Formasau, Formação e Saúde Lda.
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Numa análise de diferentes modelos conceptuais de enfermagem, Kérouac et al. (1994) dividiram-nos por cinco escolas de pensamento em enfermagem: Escola das Necessidades, Escola da Interacção, Escola dos Resultados, Escola do Ser Humano Unitário e Escola do Cuidar.
Escola das Necessidades (V. Henderson, D. Orem, F. Abdelah) centrada no quê da disciplina. no como da disciplina.
Escola dos Resultados ( D. Johnson, L.Hall, M.Levine, C. Roy, B. Neuman) – centrada no porquê da disciplina.
Escola do Ser Humano Unitário (M. Rogers, M. Newman, R. Parse) – centrada no a quem se dirige o exercício profissional do enfermeiro.
Escola do Cuidar (Leinninger, J. Watson, S. Roach) – centrada no como da disciplina.
Paiva, Abel (2006): - Sistemas de informação em Enfermagem. Uma teoria explicativa da mudança Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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O Royal College of Nursing (2003) define enfermagem como o uso do julgamento clínico para a disponibilização de cuidados de saúde de forma a melhorar, manter ou recuperar a saúde, adaptar-se aos problemas de saúde e facultar o melhor nível de qualidade de vida. Esta perspectiva está alicerçada em seis características definidoras da enfermagem:
A. Uma finalidade específica: o propósito da enfermagem consiste em promover a saúde, a assistência, o crescimento, o desenvolvimento e prevenir a doença, o mal-estar e as limitações. Face à doença e à limitação das actividades de vida, o propósito da enfermagem será o de diminuir o desconforto e o sofrimento, ajudando as pessoas a adaptar-se às novas limitações, ao tratamento ou às consequências deste. Quando a morte for inevitável, a enfermagem deverá proporcionar os níveis possíveis de qualidade de vida enquanto esta existir;
B. Uma forma particular de intervenção: as intervenções de enfermagem devem ser conduzidas de forma a optimizar as capacidades e autonomias pessoais, ajudando as pessoas a manterem e conseguirem os melhores níveis de independência.
Para isso, a enfermagem congrega processos intelectuais, físicos, emocionais e morais, o que incluiu: a avaliação das necessidades; a prescrição de intervenções especificas; informação, educação e ajuda e suporte a nível físico, emocional e espiritual. Para a disponibilização da assistência, a prática de enfermagem inclui o desenvolvimento de actividades de gestão, formação e de política específicas;
C. Um domínio particular: o domínio da acção de enfermagem consiste nas respostas e experiências humanas em matéria de saúde, doença ou acontecimentos da vida quotidiana, consideradas no seu ambiente ecológico. As respostas humanas podem situar-se ao nível fisiológico, psicológico, social, cultural ou espiritual, ou ainda diferentes combinações entre estas. Os beneficiários dos cuidados podem ser as pessoas individualmente, as famílias ou a comunidade;
D. Um foco determinado: a enfermagem considera a pessoa e as respostas humanas no seu todo, e não apenas uma dimensão ou patologia em particular,
E. Um conjunto de valores: a enfermagem respeita um conjunto de valores relacionados com a dignidade e autonomia humanas, personalização da relação e respeito pela vontade do utente. Estes valores estão consignados em códigos de ética escritos, os quais informam os diferentes sistemas de regulação da profissão;
F. Envolvimento em parcerias: os enfermeiros trabalham em parcerias com os utentes, com os seus familiares e com outros profissionais da equipe de saúde multidisciplinar. Quando recomendado e necessário, podem liderar ou prescrever o trabalho de outros ou desenvolver actividades interdependentes. Em todo o caso, os enfermeiros assumem sempre responsabilidade pessoal e profissional pelos actos que praticam.
Abreu, Wilson Correia (2007): - Formação e aprendizagem em contexto clínico. Fundamentos, teorias e considerações didácticas. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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… no referido por Shaw (p.1654) “ A única síntese da arte de cuidar e o empirismo da ciência distinguem a enfermagem de outra qualquer profissão de saúde. Assim sendo, o desenvolvimento das capacidades perceptuais e conceptuais, providencia uma forma de manter um único foco de enfermagem.
Amendoeira, José (2006): - Uma Biografia Partilhada da Enfermagem. A segunda metade do século XX 1950-2003. Um contributo sócio-histórico. Formasau, Formação e Saúde Lda.
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No seu entender [Monti & Tingen, 1999], e porque a enfermagem lida com o comportamento humano em saúde, um único ponto de vista não é suficiente para explicar a variedade de fenómenos e de relações que se estabelecem neste contexto. A unificação teórica funciona como um microscópio, amplia a visão de um aspecto muito específico, porém perde-se a visão do todo. Ao contrário, a multiplicidade de paradigmas permite a visão de diversas facetas de um mesmo problema. Para além disso, estimula o debate. De acordo com a teoria da integração (1) (Meleis, 1991), é o debate e a competição de teorias que contribui definitivamente para a construção da disciplina de enfermagem. (1)Três processos de desenvolvimento de uma disciplina “revolução”, “evolução”, “”integração”.
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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Numa perspectiva evolutiva da construção da disciplina, revela-se o conceito de transição, na medida em que o mesmo permite ilustrar a fase de construção da disciplina, na perspectiva da teoria da integração em que, “os enfermeiros cuidam de pessoas que experienciam transições, antecipam transições ou completam o acto de transição, (…) no que concerne a mudanças no estado de saúde, nas interrelações, nas expectativas ou nas capacidades” (Meleis, p.103).
Amendoeira, José (2006): - Uma Biografia Partilhada da Enfermagem. A segunda metade do século XX 1950-2003. Um contributo sócio-histórico. Formasau, Formação e Saúde Lda.
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…Meleis (1991) propõe a teoria da integração. Trata-se de uma teoria que não tem subjacente o padrão tradicional do progresso por convergência para um paradigma, o que não quer dizer que esta teoria advogue a ausência de um padrão ou um padrão negativo. Defende antes um padrão de progresso no qual possam estar representados as realizações de enfermagem e a sua base teórica sólida. Do referido padrão fazem ainda parte processos como a acomodação (no sentido piagetiano do termo), o refinamento (no sentido de um requinte progressivo) e a coordenação entre pensamentos, ideias e indivíduos. Daqui se pode depreender que esta teoria não subestima a necessidade de desenvolvimento e de progresso inerente a qualquer ciência. Todavia, abre a possibilidade de crítica cuidadosa de tudo o que existe e já foi feito, bem como do que ainda falta realizar (Meleis, 1991). Quando a enfermagem é analisada nestes termos, a sua aceitação enquanto disciplina parece não levantar problemas.
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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É necessário ainda definir um conceito metaparadigmático. Neste contexto, Meleis (1991) propõe a seguinte articulação entre conceitos major: O enfermeiro interage (interacção) com um ser humano numa situação de saúde/doença (cliente de enfermagem), o qual é uma parte integrante do seu contexto sociocultural (ambiente) e o qual está em alguma espécie de transição ou antecipando essa mesma transição (transição); a interacção enfermeiro-cliente está organizada à volta de algum propósito (processo de enfermagem, resolução de problemas, intervenção holística) e os enfermeiros usam algumas acções (intervenções terapêuticas) para aumentar ou facilitar a saúde e o bem--estar.
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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No entender de Newman, Sime & Corcoran-Perry (1991), o foco de uma disciplina deriva de um sistema de crenças e valores acerca do compromisso social da profissão, natureza do seu serviço e área de responsabilidade para o desenvolvimento do conhecimento. Assim, o foco da disciplina de enfermagem será o estudo do cuidar (dos cuidados) no contexto da experiência humana de saúde. Este foco integra, numa declaração simples, conceitos comumente identificados como sendo da enfermagem a um nível metaparadigmático. Este foco implica um mandato social e uma identidade de serviço e especifica um domínio para o desenvolvimento do conhecimento (Newman, Sime & Corcoran-Perry, 1991).
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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O metaparadigma é o nível mais abstracto do conhecimento. Determina os principais conceitos que envolvem o conteúdoe o âmbito da disciplina. Há muitos anos, a pessoa, o ambiente, a saúde e a enfermagem foram propostos quer como fenómenos de enfermagem, quer como os primeiros conceitos metaparadigmáticos de enfermagem e continuaram a ter utilidade enquanto principais conceitos de organização para a disciplina e para a profissão. Powers e Knapp observaram que “existe um entendimento generalizado de que o metaparadigma da enfermagem consiste nos conceitos centrais de pessoa, ambiente, saúde e enfermagem”
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Este foco determina que o corpo de conhecimentos da disciplina de enfermagem inclui o cuidar (os cuidados) e a experiência humana de saúde. Se incluir apenas uma destas vertentes já não é conhecimento específico de enfermagem. Porque, conhecimento sobre saúde são muitas as disciplinas que o desenvolvem, sobre o comportamento humano também e até sobre o comportamento de saúde. Porém, a conjugação dos cuidados e do comportamento de saúde é específico da enfermagem.
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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Enfermagem consiste na facilitação dos processos de transição, no sentido de se alcançar uma maior sensação de bemestar (Meleis & Trangenstein, 1994)
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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A transição. Este conceito, tal como já referi mais atrás, foi proposto por Chick & Meleis (1986) e desenvolvido com o contributo dos trabalhos de investigação de diversos autores (e.g., Bridges, 1980; Brouse, 1988; Catanzaro, 1990; Chiriboga, 1979; Clifford, 1989; Gilmore, 1990). Tal permitiu a Schumacher & Meleis (1994) desenvolverem um trabalho de meta-análise em 310 artigos referenciados na Medline, referentes ao período de 1986 a 1992. da análise destes artigos concluíram que se poderia falar em três tipos de transição: de desenvolvimento, situacional e saúde/doença. Apesar disso, as características presentes em qualquer um deles eram, a passagem ou movimento de um estado, condição ou lugar para outro (Schumacher & Meleis, 1994). Este é um processo que ocorre no tempo, que envolve desenvolvimento, fluir ou movimento e cuja mudança tem uma natureza que varia em função do tipo de transição. Através deste estudo identificaram ainda as condições de transição, nomeadamente:
- significados (i.e., qual o significado que as pessoas atribuem à situação);- expectativas (i.e., quais as expectativas face à situação);
- nível de conhecimento e competências (i.e., quais os conhecimentos quea pessoa tem acerca da situação e quais as competências que já tem para lidar com ela);
- ambiente (i.e., em que ambiente físico mas também psicossocial a pessoa está inserida);
- nível de planificação (i.e., qual a planificação que a pessoa é capaz de desenvolver face à situação) e
- bem-estar físico e emocional (i.e., qual o nível de bem-estar físico e emocional conseguido na situação) (Schumacher & Meleis, 1994).
Lopes, Manuel José (2006): - A relação enfermeiro-doente como intervenção terapêutica. Coimbra: Formasau, Formação e Saúde Lda.
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Chick e Meleis (1986, p.239) expressam que “a transição é uma passagem ou movimento de um estado, condição ou lugar para outro”. Esse processo exige do ser humano, a utilização imediata de mecanismos ou recursos de suporte disponíveis ou não, para o enfrentamento e adaptação, visando a resolução bem sucedida de desajustes, conflitos, desorganização ou desarmonia, encontrando assim uma nova maneira de ser.
Machado, Margareth; Zagonel, Ivete (2003): - O processo de cuidar da adolescente que vivência a transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem. v. 8, nº2. Universidade Federal do Paraná
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Três períodos são considerados para transição, a entrada, passagem e saída, os quais variam em duração e irão se confundir um no outro, mais do que serão distintos. Desta forma, é um período entre estados completamente estáveis (Chick e Meleis, 1986) Machado, Margareth; Zagonel, Ivete (2003): - O processo de cuidar da adolescente que vivência a transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem. v. 8, nº2. Universidade Federal do Paraná
… transição é um fenómeno pessoal, não é um fenómeno estruturado. Os processos e resultados de transição estão relacionados a definições de si próprio e da situação de transição. Tais definições e redefinições podem ser feitas pela pessoa experienciando a transição no ambiente”
Machado, Margareth; Zagonel, Ivete (2003): - O processo de cuidar da adolescente que vivência a transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem. v. 8, nº2. Universidade Federal do Paraná
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“a transição requer que o ser humano incorpore um novo conhecimento, para alterar o comportamento e, portanto, mudar a definição de si no contexto social”
Machado, Margareth; Zagonel, Ivete (2003): - O processo de cuidar da adolescente que vivência a transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem. v. 8, nº2. Universidade Federal do Paraná
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“As transições são desenvolvimentais, situacionais ou de saúde-doença. A transição da infância para a adolescência tem o potencial de estar associada com problemas que surgem próprios dessa fase e exigem do adolescente a superação, enfrentamento e adaptação; a transição situacional inclui o nascimento ou morte, situações inesperadas que requerem uma definição ou redefinição dos papéis a que o cliente ou o familiar está envolvido; a transição de saúde-doença inclui transições como mudanças súbitas de papel, as quais resultam ao mover-se de um estado de saúde para o de doença aguda, de bem-estar para a doença crónica ou cronicidade. As transições são, portanto, componentes do domínio de enfermagem (Meleis, 1997).
Machado, Margareth; Zagonel, Ivete (2003): - O processo de cuidar da adolescente que vivência a transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem. v. 8, nº2. Universidade Federal do Paraná
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Virgínia Henderson via o doente como um ser humano que precisa de ajuda para obter a independência . Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Em The Nature of nursing: A Definition and Its Implications for Practice, Research, and Education identificou também as seguintes 14 necessidades básicas dos doentes que compreendem os componentes dos cuidados de enfermagem:
(1) respiração, (2) comida e bebida, (3) eliminação, (4) movimento, (5) descanso e sono, (6) roupas apropriadas, (7) temperatura corporal, (8) corpo limpo e tegumentos protegidos, (9) ambiente seguro, (10) comunicação, (11) culto, (12) trabalho, (13) lazer e (14) aprendizagem.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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[Virgínia Henderson] Identificou três níveis de relações enfermeira-doente nas quais a enfermeira é: (1) substituto do doente, (2) Ajudante do doente e (3) parceira do doente.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Uma correlação com a hierarquia das necessidades de Abraham Maslow pode ser vista nas 14 componentes dos cuidados de enfermagem de Henderson, que inicia com as necessidades físicas e progride para as componentes psico-sociais. Apesar de não citar Maslow como influência, descreveu a sua teoria da motivação humana na sexta edição de The Principles and Practice of Nursing, em 1978.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Maslow (1908-1970) foi um dos maiores especialistas em motivação humana. Apresentou uma teoria da motivaçãoque pressupõe que as necessidades humanas estarão hierarquizadas, dispostas em níveis, de acordo com o seu grau de importância. Na base da pirâmide estão as necessidades mais baixas (necessidades fisiológicas) e no topo, as necessidades mais elevadas, (de auto-realização). A pirâmide de Maslow: Necessidades Fisiológicas; Necessidades de Segurança; Necessidades Sociais; Necessidade de Estima; Necessidade de Auto-Realização. [Necessidades Fisiológicas] Neste nível estão as necessidades de alimentação (fome e sede), de sono e repouso, de abrigo (frio ou calor) e o desejo sexual. Estas necessidades são fundamentais para a sobrevivência do indivíduo e para a propagação da espécie.
As necessidades de segurança são o 2º nível das necessidades humanas. Uma vez satisfeitas as necessidades fisiológicas, a pessoa procura satisfazer a necessidade de se sentir protegida e livre de perigo.
As necessidades sociais só surgem quando as fisiológicas e as de segurança se encontram relativamente satisfeitas. Dentro destas necessidades, podemos destacar as de associação, participação, de amizade, de afecto, amor e aceitação por parte dos companheiros.As necessidades de estima estão relacionadas com a maneira como o indivíduo se vê e avalia. Estas necessidades envolvem os sentimentos de auto--apreciação, auto-confiança, necessidade de aprovação social e de respeito, de status, de prestígio e de consideração.
As necessidades de auto-realização são as necessidades humanas mais elevadas. De acordo com a teoria de Maslow, somente quando um nível inferior de necessidade se encontra satisfeito é que o nível imediatamente a seguir mobiliza o comportamento. Nem todas as pessoas chegam a atingir o topo da pirâmide. Em função da sua vivência, estacionam num dos pontos da pirâmide.
Fachada, M. Odete (2000): - Psicologia das Relações Interpessoais, 3º ed. Lisboa: Edições Rumo Lda.
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A definição de enfermagem de Henderson, no que se refere à prática de enfermagem, mostra que a enfermeira, cuja principal função é ser a fornecedora directa de cuidados do doente, irá encontrar uma recompensa imediata na passagem da dependência para a independência do doente. A enfermeira deve fazer todos os esforços para compreender o doente quando lhe falta vontade, conhecimento ou força. Como Henderson declarou “a enfermeira irá entrar na pele do doente”. A enfermeira pode ajudar o doente a avançar pra uma situação de independência apreciando, planeando, implementando e avaliando cada um dos 14 componentes dos cuidados básicos de enfermagem. A abordagem de Henderson ao cuidar do doente era deliberativa e envolvia a tomada de decisão. Na fase de apreciação a enfermeira aprecia o doente em todos os 14 componentes dos cuidados básicos de enfermagem.
Tomey, Ann Marriner; Alligood, Martha (2004): - Teóricas de Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias de Enfermagem), 5º ed. Lusociência.
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Talvez a definição mais conhecida de enfermagem seja a de Virgínia Henderson (1966):
“A função específica da enfermeira é assistir o individuo, doente ou são, na realização das actividades que contribuem para a saúde ou sua recuperação (ou para a morte pacífica) e que ele executaria sem ajuda, se para isso tivesse a necessária força, vontade ou conhecimento, e fazer isso de modo a ajudá-lo a ganhar a independência o mais rapidamente possível”.
E continua descrevendo o que a enfermagem realiza citando 14 “actividades de vida diária”. Sugere ainda que enfermagem
é: “Ajudar o doente nas seguintes actividades ou promover as condições em que ele possa realizá-las sem ajuda:
1 – Respirar normalmente
2 – Comer e beber adequadamente
3 – Eliminação corporal
4 – Movimentar-se e manter as posturas desejáveis
5 – Sono e repouso
6 – Escolher o vestuário adequado, vestir-se e despir-se
7 – Manter a temperatura corporal dentro dos limites aceitáveis, pela adequação do vestuário e adaptação do ambiente.
8 – Manter o corpo limpo e arranjado, e proteger a pele.
9 – Evitar os perigos do ambiente e evitar ferir outras pessoas.
10- Comunicar com os outros, exprimindo emoções, necessidades, medos ou opiniões.
11- Praticar a religião que processa.
12- Trabalhar de modo a ter uma sensação de realização
13- Jogar ou participar em diferentes formas de recreação.
14- Aprender, descobrir ou satisfazer a curiosidade que leva ao desenvolvimento normal e á saúde, e utilizar os recursos de saúde existentes.”
Esta abordagem na análise da enfermagem foi bem aceite pelas enfermeiras inglesas, e Roper, Logan e Tierney desenvolveram o conceito de Henderson num modelo que se centra nas actividades que os indivíduos praticam para viver.
[Modelo de Enfermagem de Actividades de Vida].
Pearson, Alan; Vaughan, Barbara (1992): - Modelos para o Exercício de Enfermagem, Lisboa: ACEPS.
Continuemos
Paulo Queirós