Revista de
Investigação em
Enfermagem nº 18

                       

Agosto de 2008 

 

 

EDITORIAL

 

 

Estamos novamente no verão e a pensar em férias. As notícias que vamos ouvindo do estado da nação pioram diariamente, seja devido a factores internos e/ou externos. Estas notícias não são nada moralizadoras e motivantes para a maioria dos portugueses, que têm vindo a sentir uma deterioração progressiva das condições e qualidade de vida, sem se perspectivarem melhorias nos tempos mais próximos.

 

Apesar desta realidade, não será o melhor momento para baixar os braços e desistir da concretização de projectos anteriormente lançados.

 

De facto, desde o seu lançamento que a RIE tem vindo a desenvolver critérios e condições de maior rigor científico como, por exemplo, as alterações efectuadas a nível da ficha técnica ou o registo em bases de dados internacionais, como, a “LATINDEX” e a “CUIDEN”.

 

A RIE continua a apostar em melhorar a sua qualidade e exigência científica, articulando o seu funcionamento com as orientações editoriais internacionais das publicações periódicas científicas na área da saúde.

 

Nesse sentido, alterou-se o Estatuto Editorial apresentado na primeira RIE, lançada em Fevereiro de 2000, nos pontos 1, 3, 4 e 5 (ver novo Estatuto Editorial no verso da capa), salientando-se a criação de um Conselho Científico que zelará pela manutenção de princípios éticos e deontológicos e a pertinência e a qualidade científica dos conteúdos a publicar.

 

Na sequência do novo Estatuto Editorial, foi convidado um grupo de enfermeiros investigadores de reconhecido mérito científico a nível nacional e internacional, como podem confirmar pela análise da Ficha Técnica deste número, que contamos para colaborarem na revisão científica de artigos (peer reviews) e aos quais agradecemos desde já toda a colaboração na RIE que, embora jovem, continua a apostar na qualidade e rigor científico da “divulgação da investigação em Enfermagem como disciplina científica e prática profissional organizada” (Estatuto Editorial, ponto 1).

 

Reforçamos o convite a todos os enfermeiros e outros profissionais na área da saúde, interessados em divulgar a sua produção científica, para que submetam os seus trabalhos à RIE, e desde que reúnam os critérios científicos exigidos nas normas de publicação, decerto surgirá a oportunidade de verem o seu trabalho publicado e divulgado no mundo global do conhecimento.

 

Resta-nos desejar-vos boas férias.

Arménio G. Cruz

 

ESTATUTO EDITORIAL

1- A Revista Investigação em Enfermagem é uma publicação periódica semestral, vocacionada para a divulgação da investigação em Enfermagem enquanto disciplina científica e prática profissional organizada.

2 - A Revista Investigação em Enfermagem destina-se aos enfermeiros e de uma forma geral a todos os que se interessam por temas de investigação na saúde.

3 - A Revista Investigação em Enfermagem tem uma ficha técnica constituída por um director, um director-adjunto e um Conselho Científico, que zelam pela qualidade, rigor científico e respeito por princípios éticos e deontológicos.

4 - A Revista Investigação em Enfermagem publica sínteses de investigação e artigos sobre teoria de investigação, desde que originais, estejam de acordo com as normas de publicação da revista e cuja pertinência e rigor científico tenham o reconhecimento do corpo de revisores científicos (peer reviews) constituídos em Conselho Científico.

5 - A Revista Investigação em Enfermagem é propriedade da Formasau - Formação e Saúde, Lda, entidade que nomeia o director e o director-adjunto. O Conselho Editorial é composto pelo director, director-adjunto da revista, e por outros enfermeiros de reconhecido mérito, competindo-lhes a definição e acompanhamento das linhas editoriais.

 


 

 
CAUSAS DE ERROS NA MEDICAÇÃO
Elisabete de Fátima Dinis Diz(1)
Maria José Almendra Rodrigues Gomes(2)

Resumo
Quando avaliamos uma situação de erro, é fundamental considerar não só a actuação dos indivíduos envolvidos, como também o sistema em que os mesmos se inserem e actuam. Para a génese de um qualquer erro contribuem não só as atitudes e / ou práticas de actuação individual, mas sobretudo os elementos de vulnerabilidade que residem na própria estrutura do sistema organizacional e que facilitam ou potenciam a ocorrência de erros.
Este estudo com características descritivas, teve como principal objectivo identificar causas de erros na medicação.
Os dados obtidos permitem-nos concluir que:
A utilização de abreviaturas na transcrição da medicação e o uso de seringas parenterais para a administração de soluções orais, constituem as práticas contribuintes para a ocorrência de erros. Os enfermeiros assumem os seus erros, não tendo receio em denunciar os mesmos. Contudo, nota-se alguma relutância em fazê-lo perante o doente e a família e em lidar com o erro dos outros.

Palavras-chave: Erro; Medicação; Enfermagem

(1) Enfermeira Graduada na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes do Hospital de Santo António dos Capuchos.
(2) Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Bragança/ Escola Superior de Saúde, Mestre em Saúde Pública

 


 

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA LOUCURA - UMA ABORDAGEM QUALITATIVA
Luís Manuel de Jesus Loureiro(1); Carlos Augusto Amaral Dias(2)
Ricardo Jorge Oliveira Ferreira(3); Rui Oliveira Aragão(4)

Resumo
O relatório da OMS (2001), o Livro Verde (2005) da Comunidade Europeia ou ainda, no caso português, o relatório (2007) da Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental (CNRSSM), reconhecem, por um lado, o estigma e discriminação associados às doenças mentais, por outro que as intervenções na comunidade, mais próximas das pessoas são mais efec­tivas, o que implica um progressivo encerramento dos hospitais psiquiátricos. No entanto esse retorno é complexo pois diz respeito à controversa relação entre uns (sãos) e outros (doentes), daí que não se possa pensar numa sociedade «antropofágica» capaz de esquecer as barreiras simbólicas erigidas durante séculos e que tem perpetuado estereótipos dos doentes mentais como perigosos, imprevisíveis e incuráveis.
Partindo destas inquietações e recorrendo aos pressupostos subjacentes à teoria das representações sociais foi desenvolvido o presente estudo qualitativo tendo como objectivos descrever e analisar as representações sociais da loucura. Compreendeu 49 participantes residentes em quatro fregue­sias do concelho de Penacova (Lorvão; Penacova; São Pedro de Alva e Travanca do Mondego), tendo-se utilizado como instrumento de colheita de dados uma entrevista semi-estruturada e como modelo de análise qualitativa de dados uma adaptação das propostas de Spiggle (1994) e Miles & Huberman (1994). Os dados colhidos foram analisados a partir do software ATLAS.ti WIN 5.0. da Scientific Software Development GmbH.
Dos resultados salienta-se que o conceito de saúde significa silêncio do corpo, a doença desponta como uma avaria da máquina, ruído que se faz ouvir. Enquanto na doença o corpo fala porque está doente, na doença mental a verborreia torna-se contínua, é-se doente, distinção entre ser/estar do­ente, uma visão nebulosa que confunde e avoluma destino com doença, constituindo uma espécie de anátema. Emergem representações ancoradas nos conceitos de malevolência versus inocência, introjecção versus projecção. De um lado a imagem do esquizofrénico do outro a do deficiente mental, ou a imagem do deprimido oposta à do alcoólico.

Palavras-chave: Representações sociais, Loucura; Doença mental

(1) Professor Adjunto da ESEnfC - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
(2) Professor Catedrático da FPCE da Universidade de Coimbra.
(3) Enfermeiro no Serviço de Cirurgia Vascular dos HUC. Mestre em Sociopsicologia da Saúde
(4) Professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada

 


 

THE NURSING STRESS SCALE: DESENVOLVIMENTO DA VERSÃO PORTUGUESA DA ESCALA
José Manuel Oliveira dos Santos(1)
Zélia de Macedo Teixeira(2)

Resumo

Fundamento:
Processo de adaptação transcultural e de validação da escala Nursing Stress Scale.

Métodos e Resultados:
O processo iniciou-se com a adaptação transcultural da Nursing Stress Scale. Da tradução da escala (por duas enfermeiras de língua materna inglesa que já há alguns anos exercem a sua actividade em Portugal), seguida da retrotradução (efectuada por duas docentes do ensino superior da área da língua inglesa), e de um pré-teste (junto de 30 enfermeiros) surgiu uma primeira versão da Nursing Stress Scale para a realidade portuguesa.
Depois de lançada a versão adaptada para português, verificou-se a sua validade através de diversos testes de fiabilidade. Testaram-se as respostas de 107 enfermeiros, de cujos resultados se destacam os valores das correlações item-item e item-total, dos coeficientes alfa de Cronbach assim como dos do alfa de Cronbach item-restante e da metade-metade de Spearman-Brown e metade-metade de Guttman.
Finalmente, verificou-se a estabilidade temporal da escala, pela aplicação do teste de Mann-Whitney após lançamento da mesma, passados dois meses, a 57 dos anteriores 107 enfermeiros.

Conclusão:
Analisados os resultados à luz da revisão bibliográfica efectuada, pode-se considerar válida a versão portuguesa estudada, que poderá assim vir a ser usada entre os enfermeiros que exercem a sua actividade em Portugal, e à qual se chamou ESCALA DE STRESS PROFISSIONAL DOS ENFERMEIROS.

Palavras-chave: Adaptação transcultural; Escala; Stress profissional; Enfermeiros

(1) Licenciado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, Coimbra. Mestre em Ciências da Enfermagem, pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Universidade do Porto. Doutorando em Ciências Sociais, na Universidade Fernando Pessoa, Porto.

(2) Licenciada em Psicologia Clínica, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Mestre em Psicologia da Educação, pela Universidade do Minho. Doutorada em Psicologia Clínica pela Universidade do Minho.

 


 

GESTÃO ESTRATÉGICA DA IMAGEM: IMAGEM DO SERVIÇO DE URGÊNCIA PEDIÁTRICA
André Caetano de Oliveira(1)

Resumo
A Imagem das Instituições de Saúde e dos próprios Serviços tem um valor intangível, muitas vezes ignorado pelas administrações. Esta Imagem pode condicionar num futuro próximo, num modelo de competição entre entidades públicas e privadas, a sustentabilidade de qualquer instituição. Podendo condicionar os investimentos e as reformas estratégicas a adoptar.
Desta forma, faz sentido falar em Gestão Estratégica da Imagem, que deve regular as tomadas de decisão futuras, ou mesmo, as actividades de prevenção, aquando de uma crise. Neste artigo apresenta-se o Modelo Geral para a Gestão Estratégica da Imagem, de Villafañe, que proporciona o referencial para a compreensão da importância da Imagem e explicita um modelo de regulamentação de uma empresa/instituição. Com este referencial presente, permite a adequação do Modelo SERVQUAL para a “auditoria” da imagem do Serviço de Urgência Pediátrica. Este modelo possibilita calcular as discrepâncias (Gaps), por exemplo entre as percepções dos clientes e as suas expectativas e entre as expectativas dos utilizadores e as percepções dos gestores.
Os resultados obtidos revelam uma Imagem (percepção) negativa, e permitem identificar estratégias de melhoria e de planeamento da mudança.

Palavras-chave: Imagem; Serviço de Urgência Pediátrica; SERVQUAL; Expectativas; Percepções, Estudo de caso

(1) Enfermeiro no Serviço de Urgência Pediátrica do Hospital de Dona Estefânia. Mestrando em Gestão de Serviços de Saúde do ISCTE/INDEG

 


 

 
ANÁLISE DO CONCEITO AUTONOMIA PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM SEGUNDO A METODOLOGIA DE WALKER E AVANT

Anabela Oliveira; Filomena Mota; Gabriela Silva; Manuel Melo; Raul Marques

Resumo
O conceito autonomia é complexo e como tal exige uma abordagem ampla. Este trabalho irá focar-se na autonomia profissional da enfermagem. Para esta análise optamos pela metodologia tradicional de Walker e Avant. Explicaremos as razões da selecção deste conceito, identificaremos os usos do conceito e construiremos os casos que esta metodologia exige.

Palavras-chave: Analise de conceito; Autonomia; Autonomia profissional; Enfermagem; Metodologia tradicional.

 


 

DO FAZER AO PENSAR: QUE AUTONOMIA? DINÂMICA DAS PRÁTICAS DOS ENFERMEIROS ESPECIALISTAS EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICA
Rosa Maria dos Santos Moreira Galhardo(1)

Resumo
No presente trabalho pesquisaram-se os significados que no pensamento, acção e condições sociais possibilitam aos enfermeiros interpretar, o uso que fazem da autonomia profissional na dinâmica das suas práticas. Tomámos como objecto de estudo a via da desconstrução das dimensões que atravessam o constructo que suportam as práticas dos enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica, utilizando a observação participante segundo o Modelo de Leininger (OPR) e a análise do discurso das entrevistas semi-estruturadas segundo o Modelo de Spradley. É um estudo qualitativo, de orientação etnográfica, na vertente da etnoenfermagem.
Da análise temática emergiu um tema que constitui o eixo central dos resultados do estudo: “A autonomia depende da vontade individual”, que indica a concepção que os enfermeiros têm acerca da autonomia nas suas práticas. Trabalham num clima que não dificulta o seu desenvolvimento; são autónomos na escolha do método de trabalho; reconhecem que trabalham num campo de intervenção que lhes permite agir com autonomia; o trabalho em equipa é garante da sua autonomia, embora identifiquem os factores que podem ser condicionantes. Consideram que a “vontade” é fundamental e está inerente a todo o processo para assegurar o desenvolvimento da autonomia profissional.

Palavras-chave: Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica; Autonomia profissional; Significados das Práticas; Dinâmica das Práticas; Vontade individual.

(1) Enfermeira, Professora-Adjunta na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Mestre em Ciências de Enfermagem

 


 

VIVÊNCIAS DA MULHER MASTECTOMIZADA - RELATOS EXPERIENCIAIS DE MULHERES MASTECTOMIZADAS DO “MOVIMENTO VENCER E VIVER”

Nazaré Cerejo(1); Cátia Alexandra Lima Vieira(2); Inês Isabel Martins de Almeida(2);Sara Maria de Sá Silva (2)

Resumo
A mulher com cancro da mama aquando da mastectomia, é confrontada com uma nova experiência, na qual o seu corpo assume novas formas, tendo que se adaptar a um novo modo de viver a sua corporalidade. O presente estudo tem como finalidade aprofundar conhecimentos acerca da problemática da mulher mastectomizada ao nível das várias dimensões: Social, Física, Psicológica, Afectiva, Espiritual e Cultural. Deste modo tem como principais objectivos, identificar as vivências das mulheres mastectomizadas e analisar estas vivênciasde modo a responder a duas questões centrais: “Como se sente com o seu corpo após ter sido sujeita a mastectomia?” e “Como vivencia a experiência de ser mastectomizada?”. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, de carácter qualitativo, elaborado à luz de uma abordagem fenomenológica. Realizaram-se entrevistas semi-es­truturadas, a seis mulheres mastectomizadas, pertencentes ao “Movimento Vencer e Viver” da Liga Portuguesa Contra o Cancro, do Hospital Infante D.Pedro, em Aveiro. A informação recolhida foi analisada através do pro­grama informático NUD*IST; este método permitiu realizar uma síntese temática, possibilitando construir um perfil da essência do fenómeno em estudo, assente em seis categorias: Vivências da Corporalidade, Experiên­cia de Ser Mastectomizada, Implicações da Mastectomia, Relação com o Companheiro, Apoio prestado pela Família/Amigos e Adaptação Social.

Palavras-chave: Mastectomia; Vivências da mulher

(1) Professora-Adjunta na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
(2) Estudantes do Curso de Licenciatura em Enfermagem na ESEnfC

 


 

RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA: AS RAZÕES DA MULHER MASTECTOMIZADA PARA A SUA REALIZAÇÃO
Catarina Fernandes (1); Sandra Rocha (1); Sylvie Ferreira(1); Teresa Sequeira(1);  Vanessa Ramos(1); Sandra Pereira(2)

Resumo
A mama feminina está intimamente conotada com a feminilidade, pelo que a distorção da imagem corporal que advém da mastectomia poderá desencadear um desajustamento psicológico, bem como uma diminuição da auto-imagem. A reconstrução mamária visa reconstruir a mama, de modo a que este processo vá de encontro às expectativas da mulher mastectomizada. Esta cirurgia reconstrutiva deve ser uma decisão pessoal, uma vez que só a própria mulher poderá avaliar o significado dessa cirurgia. As acções desencadeadas pelas pessoas são compreendidas por meio de razões expressas, sendo que as motivações influenciam a maneira como cada um se comporta. Este fenómeno é um aspecto da saúde com relevância para a prática de enfermagem, pelo que o estudo das razões que levam a mulher mastectomizada a submeter-se a uma reconstrução mamária pode contribuir para melhor direccionar os cuidados de enfermagem de que carecem.

Palavras-chave: Mulher mastectomizada, Razões para a acção, Reconstrução mamária

(1) Enfermeiras licenciadas da Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo

(2) Enfermeira, Mestranda em Bioética na Universidade Católica Portuguesa, Assistente do 2º Triénio na Escola Superior de Enfermagem de Angra do Hero­ísmo, Universidade dos Açores.