Investigação em
Enfermagem nº 14

Fevereiro 2006

 

EDITORIAL

Dir-se-á que o tempo é de férias e descanso. No entanto, nem sempre isso é possível. Pelo menos, quando existem coisas importantes e inadiáveis para realizar. De facto, a FCT abriu recentemente o Concurso para Projectos de Investigação Científica e de Desenvolvimento Tecnológico em todos os Domínios Científicos. Previsto, inicialmente, para o período compreendido entre 15 de Junho e 31 de Julho de 2006, o prazo foi alargado, posteriormente, até ao final de Agosto de 2006. Podem candidatar-se Equipas de Investigação/Instituições públicas ou privadas com curriculum vitae científico reconhecido em domínios de relevância para a execução dos projectos. Evidentemente, que os enfermeiros investigadores, integrados de preferência em grupos multidisciplinares, podem também participar neste concurso. No entanto, a história recente da investigação em enfermagem em Portugal, a menoridade das Unidades de Investigação na área da Enfermagem e a pouca participação em Concursos destas características, leva-nos a supor que as dificuldades são imensas. Primeiro, porque a enfermagem como disciplina autónoma e independente ainda está a dar os primeiros passos e, muitas vezes, ainda não é tida em consideração pela comunidade científica. Segundo, porque a experiência dos enfermeiros é ainda muito pequena no que toca à preparação e organização do processo de candidatura. E, terceiro, porque só muito recentemente é que alguns enfermeiros investigadores têm sido integrados em equipas científicas e lhes tem sido reconhecido o verdadeiro valor. Pensamos que não deverão ser estas as razões para se desistir. Devemos organizarmo-nos e fazermos um esforço de forma a conseguirmos preparar atempadamente as candidaturas, devidamente elaboradas e estruturadas, pois só assim poderemos marcar presença neste mercado altamente competitivo, e ombrearmos com outros investigadores na tentativa de conseguir apoio financeiro para a execução de projectos de investigação. Este passo é fundamental para consecução de investigação na área da saúde e da enfermagem e para a sobrevivência das Unidades de Investigação.
No entanto, se os projectos propostos não forem aprovados, não desistam. Haverá decerto outros momentos para nos candidatarmos ao financiamento de projectos de investigação, seja através da FCT, seja através de outras instituições e, decerto a experiência que adquirimos entretanto, será fundamental para nos candidatarmos a futuros concursos e criarmos dificuldades acrescidas aos respectivos júris nas suas decisões. Portanto, não descure esta oportunidade e meta-se ao trabalho. Há tempo para tudo.

Boas férias!
Arménio Guardado Cruz

 



Revista Investigação em Enfermagem (2006), nº14 - Agosto: 3 - 15

SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: TRÊS OLHARES CRUZADOS

JOÃO FILIPE LINDO SIMÕES (*)
ANA PAULA BELO (**)
MARIA JOSÉ FONSECA (***)
ISABEL ALARCÃO (****)
NILZA COSTA (*****)

 

Palavras chave: Supervisão; Ensino Clínico de Enfermagem; Episódios Significativos.

Resumo
O presente artigo enquadra-se na área da Supervisão da formação inicial de enfermeiros, incidindo na representação dos alunos, enfermeiros cooperantes e docentes sobre a supervisão em ensino clínico de enfermagem. Resulta da triangulação de três estudos realizados na Universidade de Aveiro no âmbito do Mestrado em Supervisão. Desenvolveram-se três estudos exploratórios de natureza qualitativa a partir da narração de episódios significativos no âmbito da supervisão em ensino clínico, tendo-se procedido à análise de conteúdo das referidas narrações. Subjacente a este processo, está a Técnica dos Incidentes Críticos que foi utilizada como norteadora da construção do nosso instrumento de colheita de dados. O conteúdo das narrações foi organizado nas seguintes áreas temáticas: Representações sobre o processo de supervisão em ensino clínico de enfermagem; A relação em contexto de supervisão em ensino clínico; Desenvolvimento de competências em ensino clínico de enfermagem; Estratégias de supervisão utilizadas em ensino clínico; Condições de trabalho para a supervisão em ensino clínico.

(*) Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro
(**) Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias
(***) Escola Superior de Enfermagem de Viana do Castelo
(****) Universidade de Aveiro - Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa
(*****) Universidade de Aveiro - Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa

 


 

Revista Investigação em Enfermagem (2006), nº14 - Agosto: 16 - 19

PADRÃO DE ACTIVIDADE FÍSICA DIÁRIA DOS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS

ALEXANDRINA DE JESUS SERRA LOBO (*)

Palavras chave: Actividade física; casa de repouso; idosos.

Resumo:

A Actividade Física regular está associada a baixa mortalidade, mesmo depois dos 60 [1]. O objectivo deste estudo é analisar a AF dos idosos de uma instituição. Um total de 20 (8 mulheres e 10 homens), com uma média de idades de 75,85±9,08 anos, média de peso 72,2±11,4 Kg, média de altura de 1,63±0,075 m. AF foi medida com um acelerometro uni axial MTI Actigraph durante 1 semana e análise de 1 questionário. Os resultados mostram que a participação na Actividade Física (moderada) é maior (< 0,05) durante a semana comparada com o fim de semana. Este estudo sugere que os idosos são menos activos que o recomendado pelo ACSM (American College of Sports and Medicine).

(*) Enfermeira Hospital S. Marcos – Braga Doutoranda em Saúde e Actividade Física, Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto

 

 


 

Revista Investigação em Enfermagem (2006), nº14 - Agosto: 29 - 37
ICDM - Um Inventário de Crenças acerca da Doença Mental

LUÍS MANUEL DE JESUS LOUREIRO (*)

CARLOS AUGUSTO AMARAL DIAS (**)

PAULO JORGE SIMÕES FERREIRA (***)

Palavras-chave: Doença mental; crenças; atitudes; perigosidade.

Resumo

Este estudo descreve o desenvolvimento e validação de um inventário para medir crenças acerca da doença mental (ICDM). Participaram no estudo um total de 385 indivíduos, 254 (66%) vivem inseridos numa comunidade com uma instituição psiquiátrica, e 131 (34%) vivem em comunidades sem proximidade com este tipo de instituição. Foram realizadas diversas análises factoriais (ACP), com rotação ortogonal varimax de modo a determinar a validade de construto do inventário, as quais revelaram cinco factores, incluindo, reconhecimento da doença, incurabilidade, perigosidade, aptidões sociais pobres e responsabilidade pessoal. A estimativa da fidelidade para cada subescala foi analisada, utilizando o alpha de Cronbach e as correlações item-total corrigidas. Foram realizados testes adicionais para avaliar a sensibilidade e validade de construto. Em geral, o inventário revela boas propriedades psicométricas e permite uma forma breve e fácil de medir as crenças acerca da doença mental.

* Professor Adjunto da ESEAF, Área Científica de Investigação no âmbito da Enfermagem.

** Professor Catedrático da FPCE da Universidade de Coimbra.

*** Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria - H.P. Lorvão. Pós Graduado em Pedagogia da Saúde.

 


 

Revista Investigação em Enfermagem (2006), nº14 - Agosto: 38 - 47
ESCALA DE SATISFAÇÃO FAMILIAR POR ADJECTIVOS: TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA

FILIPE NAVE (*)
SAUL DE JESUS (**)
JORGE BARRACA (***)
PEDRO PARREIRA (****)

Palavras-chave: Satisfação, família, validação

Resumo

O objectivo do presente estudo é traduzir e validar para a população Portuguesa a Escala de Satisfação Familiar por Adjectivos de J. Barraca e L. López-Yarto (1999). A escala é composta por 27 itens, com uma distribuição unidimensional de satisfação familiar. Assumimos que a medida satisfação familiar percebida, é susceptível às variações do contexto cultural onde acontece e que tem uma estrutura equilibrada, semelhante à que é apresentada pela versão original dos autores, o que facilita a sua utilização em investigação na versão Portuguesa.Recorremos a uma amostra de 379 indivíduos, pertencentes a famílias com filhos no 4º ano de escolaridade e posteriormente a uma subamostra de 40 indivíduos seleccionados aleatoriamente da amostra geral e a uma amostra de 38 indivíduos com elementos com doença mental para verificar a validade discriminante da escala, que se mostrou bastante congruente. Dos resultados sobressaem, características psicométricas válidas, féis e sensíveis à diversidade cultural em termos de Satisfação Familiar.

(*) Escola Superior de Saúde de Faro, Universidade do Algarve
(**) Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve
(***) Departamiento de Psicologia y Educacion, Universidad Camilo José Cela - Madrid
(****) Escola Superior Bissaya Barreto – Coimbra

 


 

Revista Investigação em Enfermagem (2006), nº14 - Agosto: 48 - 56
ESTETOSCÓPIOS COMO VEÍCULO DE DISSEMINAÇÃO DA INFECÇÃO NOSOCOMIAL

 

ENFª GRADUADA FERNANDA MARIA PALMA (*)
ENFª GRADUADA ISABEL MARIA GUERREIRO (**)
ENFª
GRADUADA MARIA DE DEUS PALMA (***)

PALAVRAS-CHAVE: Estetoscópio, infecção nosocomial, medidas preventivas.

RESUMO

A habitual negligencia da limpeza e desinfecção dos estetoscópios, por parte dos profissionais de saúde, bem como a existência de estudos que demonstram elevados índices de contaminação destes instrumentos, levou-nos a avaliar a eficácia da limpeza e desinfecção dos estetoscópios, desenvolvendo-se para tal um estudo de desenho pré-experimental. A população acessível constituiu-se pelos diafragmas dos estetoscópios existentes no H.J.J.F., S.A., em Beja. Fizeram-se colheitas aos diafragmas de 30 estetoscópios, em três momentos diferentes. Para manter a uniformidade das colheitas seguiu-se um protocolo de procedimentos, baseado nas recomendações do CDC e da CCI do referido hospital. Utilizou-se um formulário para a caracterização das variáveis pragmáticas. A análise dos dados foi feita através da estatística descritiva e indutiva com recurso ao programa estatístico STATISCA . Testou-se a hipótese subjacente na pergunta de investigação com o teste U de Mann-Whitney usando α =0,05. Verificou-se que a limpeza e desinfecção dos estetoscópios é eficaz e cultivaram-se estirpes bacterianas patogénicas depois da utilização do estetoscópio no doente. Os dados obtidos permitemnos concluir que é de extrema importância a limpeza e desinfecção dos estetoscópios entre doentes, como forma de prevenir a infecção nosocomial.

(*) Centro de Saúde de Castro Verde
(**) Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio E.P.E., Portimão: Bloco de Partos
(***) Centro Hospitalar do Baixo Alentejo E.P.E., Beja: UCINT.

 


 

Revista Investigação em Enfermagem (2006), nº14 - Agosto: 57 - 68
TAPAR E DESTAPAR A CORPOREIDADE DA PESSOA IDOSA. NA TRIVIALIDADE DO GESTO, A COMPLEXIDADE DE SABERES

MARIA DOS ANJOS PEREIRA LOPES (*)

Palavras-chave: Cuidado de enfermagem, corporeidade, tapar/destapar, pudor, habitus

RESUMO

No estudo ainda a decorrer sobre «o cuidado de enfermagem à corporeidade da pessoa idosa no hospital», emergiu a categoria «manter o corpo apresentável», sendo «tapar/destapar» uma das subcategorias. Um dos objectivos do estudo é realçar os saberes que os enfermeiros da prática de cuidados revelam. Neste artigo saliento o saber de enfermagem inerente ao «tapar/destapar» a pessoa idosa internada no hospital. A metodologia adoptada foi a grounded theory (Strauss e Corbin, 1998). No estudo participaram no total 33 enfermeiros, sendo 18 da unidade de traumatologia, onde decorreu a observação participante. Os restantes pertenciam a unidades de internamento hospitalar diversas: medicina, cirurgia, pediatria, neuro cirurgia Realizei 153 registos de observação, 63 entrevistas informais e 16 entrevistas formais. Na análise dos dados usei o método das comparações constantes. Os achados revelam que invadir a intimidade da Pessoa Idosa é uma área dos cuidados que causa constrangimento nos doentes e nos enfermeiros. Como estratégia para ultrapassar o desconforto os enfermeiros usam os princípios do trato social correcto, vigentes na sociedade ocidental. Os saberes que revelam quando cuidam são de duas ordens: primeiro, reconhecem e aceitam os valores ligados à corporeidade da Pessoa Idosa, segundo, segundo, ultrapassam os preconceitos que pesam negativamente sobre as pessoas idosas.

(*) Meste em Ciências de Enfermagem pela Universidade Católica; Professora Coodernadora da Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda Resende