Revista nº 107 - 

 

 

Sumário

Frutose pode ser a chave para o ganho de peso

O cuidado a pessoa idosa em estado crítico

Comunicação de más notícias

A teoria da transição e a situação da pessoa com deficiência

Gestão da esperanca em cuidados paliativos: O desafio da intervenção

Perspetiva e sobrecarga do familiar cuidador do idoso com Alzheimer

Da fisiologia da micção à reeducação da bexiga desinibida

Dor crónica não maligna no idoso

Intervenções grupais e comunitárias papel dos cuidadores

 

 

EDITORAL

Cada vez mais se nota que nos serviços do SNS existe falta de enfermeiros. Essa escassez de recursos humanos, associada a uma falta crónica de recursos materiais e a um ambiente que  nem sempre favorece um trabalho em equipa saudável, que potencie as competências de cada um para melhorar a qualidade do atendimento e assegurar que os utentes se sentem seguros e satisfeitos, tem criado nos profissionais um clima de insegurança, de insatisfação, em muitos casos de stress grave e de cansaço que é prejudicial para a garantia da qualidade e da eficiência que tantos apregoam. Está mais do que estudado que estes ambientes são propiciadores de erros que podem ser graves. Para além dos erros começa a ser notório a manifesta falta de cuidados de que os utentes e seus familiares já se queixam. Existem doentes que se queixam de que não lhes são prestados os cuidados de higiene (conheço alguns casos) e que o argumento apresentado para essa situação era a falta de pessoal e aconselhando os familiares a reclamarem.

Ora estas situações configuram uma situação grave que é necessário atalhar, dando a conhecer as situações de escassez em relação ao desejável que constrangem a possibilidade da prestação dos cuidados necessários aos doentes, reportando para as Administrações estas situações. Se não o fizermos estamos a incorrer numa responsabilidade que nem sempre é legal, porque partilhada com as administrações, mas que é com certeza ética. Somos formados para cumprir um mandato social, que exige de nós a prestação de cuidados de enfermagem que satisfaça as necessidades das pessoas face às suas respostas às situações reais ou potenciais de saúde e doença e lhes potencie a capacidade de se auto-cuidarem. Para isso as entidades empregadoras, sejam públicas ou privadas, tem que proporcionar as condições necessárias ao cumprimento desse mandato. Sempre que isso não acontecer é nosso dever, enquanto profissionais, denunciar essas circunstâncias, seja para as administrações, seja junto dos utentes e seus familiares para que possam ter a noção daquilo a que, tendo o direito de usufruir enquanto clientes de um serviço, não lhes está a ser fornecido.

Existem já muitos enfermeiros emigrados que começam a relatar as suas experiências e devemos tomar nota delas. Em Oxford diz um enfermeiro aí emigrado que nos dias piores, i.e. nos dias em que há maior carência de enfermeiros, o ratio é de um enfermeiro para 3 doentes em serviços de trauma e de um para cinco nos restantes serviços. Os recursos materiais são em quantidade adequada e quando não existem os materiais necessários a enfermeira responsável reclama imediatamente para a administração.

Temos que tomar consciência de que temos um mandato e que nos comprometemos e portanto devemos exigir as condições, naturalmente dentro dos limites das capacidades financeiras do país, para que possamos cumprir esse mandato e garantir que os doentes são cuidados e bem cuidados.

 

António Fernando Amaral, Enfermeiro