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SUMÁRIO

  • IMPACTO DA CIRURGIA BARIÁTRICA SOBRE O AUTOCONCEITO, A IMAGEM CORPORAL E A SEXUALIDADE - REVISÃO SISTEMÁTICA
  • ECONOMIA DA SAÚDE: ELEMENTOS DISTINTIVOS E ESPECIFICIDADES DO SECTOR
  • EMPOWERMENT COMUNITÁRIO: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
  • DESERTIFCAÇÃO: O PAPEL DA ENFERMAGEM COMUNITÁRIA
  • PROMOÇÃO DE ESTILOS DE VIDA SAUDAVEIS, PREVENÇÃO DE DOENÇAS (DIABETES MELLITUS TIPO I): EXPERIÊNCIA DE UM CASO CLÍNICO
  • DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE SAÚDE DA COMUNIDADE DE ENFERMEIROS DO HOSPITAL DISTRITAL DE SANTARÉM

EDITORIAL
Desde há já alguns anos que tenho vindo a alertar, aqui e noutros fora, para o desinvestimento que tem sido realizado nos recursos humanos da saúde, nomeadamente de enfermeiros, com risco sistemático para a segurança dos doentes. Ora os sistemas de prestação de cuidados de saúde são compostos por organizações complexas, de mão-de-obra intensiva, onde a tecnologia não tem um caracter substitutivo dessa força, (a OMS diz mesmo que não há cuidados de saúde sem força de trabalho), então significa que as opções de política de gestão do sistema não têm sido as melhores quando desvalorizam aquele que é o seu principal capital.
Assistimos, portanto a uma desvalorização do trabalho e da sua importância para os resultados que se pretendem obter e a um consequente debandar intenso de técnicos altamente qualificados para os quais o estado investiu muitos Euros na sua formação e que não aproveita. Esta desvalorização é visível quer quando se fala de vencimentos, que caíram significativamente, quer quando nos referimos á forma como os sistemas de emprego tratam os seus trabalhadores, promovendo comportamentos que levam a uma insatisfação generalizada e a uma grande desmotivação o que condiciona a própria obtenção de resultados positivos.
Existe hoje também um fenómeno interessante, que deve preocupar gestores e profissionais, que tem a ver com a desvalorização do trabalho por turnos. Este tipo de trabalho é bastante penalizador para os trabalhadores e, por isso, foi sempre considerada a necessidade de compensar financeiramente a penosidade das horas de trabalho que fogem aquilo que se convencionou ser um horário fixo ou "normal". Ora hoje os enfermeiros não têm incentivos para a realização desses turnos e estamos a assistir a uma grande migração destes profissionais dos hospitais para os Centros de Saúde onde a realização de turnos não é necessária. Surgem então algumas estratégias de minimização de todos estes efeitos, propostas por algumas administrações, que vão no sentido da alteração das tipologias de horário de trabalho. Em muitos casos, do que pude observar, vão diminuir o número de horas de cuidados nas 24 horas por doente, o que já era muito pouco passa a ser menos, e potencialmente vão diminuir o número de satisfeitos com o trabalho e podem potenciar a saída mais uma vez dos hospitais para os centros de saúde.
Numa altura em que era necessário pressionar para que se valorize o trabalho e se dê enfase aos ganhos que podem ser obtidos pelos cuidados de enfermagem, o que significa investir mais nos recursos de enfermagem, colocando um número adequado e uma tipologia de enfermeiros (generalistas e especialistas) que permita dotações seguras e cuidados de alta qualidade, apresentam-se e propõem-se medidas que em muitos casos vão colocar em causa este objetivo.
O SNS provou que pode dar ganhos globais á economia, mas será que esses ganhos não podem ser maximizados com uma política de recursos humanos mais eficaz que potencie os resultados nos doentes? Claro que pode e que deve.

António Fernando S. Amaral, Enfermeiro
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