Investigação em Enfermagem nº 8 Agosto 2003 |
EDITORIAL
Recentemente, foi publicado o livro “Investir no Futuro” de autoria de um grupo de jovens investigadores portugueses a trabalhar em universidades na área da tecnologia nos EUA. O conteúdo deste livro baseia-se nas conclusões a que chegaram diversos especialistas que participaram num fórum onde foram clarificados diversos conceitos, apresentadas experiências e discutidas as políticas de investigação e desenvolvimento naquele país.
Não pretendemos analisar esse livro em pormenor. Mas, um dos aspectos referidos no mesmo e que nos fez pensar um pouco é o ênfase dado à relação existente entre as universidades e as indústrias. Essa relação é tão forte e importante tanto para o desenvolvimento da investigação realizada como para o desenvolvimento das respectivas instituições e do país. Os benefícios dessa relação são tão evidentes, que os professores universitários chegam mesmo a passar alguns períodos nas indústrias, assim como, alguns especialistas industriais intervêem nas actividades universitárias.
Analisando o que se vai passando em Portugal, não a nível industrial que é uma área desconhecida para nós, mas a nível do ensino, investigação e práticas de enfermagem, o que se verifica?
Felizmente, nalguns casos (muito poucos) já se observa uma relação mais próxima e interesses comuns entre os diversos sectores. No entanto, parece-nos que ainda estamos muito longe das necessidades nesta matéria. Os interesses particulares e as mentalidades pouco flexíveis continuam a prevalecer. Não será altura de pensarmos mais naquilo que de útil podemos ser para os cidadãos e para os seus verdadeiros problemas?
Os resultados das pesquisas que vão sendo realizadas por todo o país, serão decerto importantes para atingir esses objectivos, mas as relações institucionais e profissionais deverão ser fomentadas e os preconceitos observados rapidamente anulados.
Mudando de assunto e concentrando-nos nos artigos desta RIE, o que podemos encontrar?
É do conhecimento geral de que o ritmo de vida é cada vez mais rápido e exigente. Esta realidade afecta directa e indirectamente a qualidade de vida das pessoas em geral e dos profissionais de saúde em particular. O stresse está cada vez mais presente no dia a dia dos trabalhadores e as suas verdadeiras consequências devem ser conhecidas, de modo a poderem-se tomar as medidas adequadas.
Sobre este assunto temos dois estudos a referir. O primeiro, “O que causa mau-estar, stresse, em enfermeiros?”, é uma pesquisa do tipo exploratório/descritivo que pretende conhecer o que é percepcionado como indutor de stresse em enfermeiros. O segundo, “Estudo da influência de alguns factores de stress em profissionais das viaturas médicas de emergência e reanimação”, é um estudo quantitativo, transversal, do tipo descritivo e analítico, que pretende avaliar a percepção das fontes de stresse de profissionais que exerciam funções nas viaturas médicas de emergência e reanimação.
Outro artigo desta revista aborda uma questão diferente e utiliza métodos diferentes dos artigos anteriores. Intitula-se “O olhar dos enfermeiros sobre a profissão – um estudo de representações sociais” e pretende conhecer as representações que os enfermeiros têm de um profissional de enfermagem competente, tendo por base pressupostos qualitativos e quantitativos.
A problemática do doente oncológico é também muito pertinente, tendo em conta os desenvolvimentos mais recentes no tratamento desta doença e o seu reflexo na esperança e na qualidade de vida dos doentes. “Acolhimento do doente oncológico: o que valorizam os enfermeiros” é um estudo de características exploratórias e descritivas e pretende saber mais sobre o que os enfermeiros valorizam no acolhimento no momento de admissão do doente oncológico e da sua família. Enquadrado no mesmo tema, o estudo “O processo de comunicação em ambiente oncológico. Vivências dos enfermeiros e seus significados” é de características qualitativas e de orientação fenomenológica e o seu principal objectivo é descrever a dinâmica do processo de comunicação enfermeiro/doente em ambiente oncológico, partindo da experiência vivenciada pelos enfermeiros no decurso das suas práticas.
Ainda nesta área, o estudo “Atitude dos doentes oncológicos perante os direitos à informação e ao consentimento” é uma pesquisa descritiva-correlacional e pretende analisar o quadro de atitudes dos doentes oncológicos, perante os direitos que visam a sua autonomia.
Finalmente, o último artigo desta revista “A metodologia da Grounded Theory. Um contributo para a conceptualização na enfermagem” apresenta as principais etapas e respectivas características duma das metodologia de investigação cada vez mais utilizada pelos investigadores de enfermagem.
Continuamos à aguardar pelos vossos artigos. Mas atenção! Não pensem apenas no trabalho. Aproveitem bem as férias, gozem bem o sol, as praias, as montanhas, enfim, gozem a vida.
Arménio Cruz