A Influencia Da Musica Na Pessoa Submetida A Cirurgia Cardíaca
ISBN: 972-8485-43-3
Autora: Ana Rodrigues, Célia Silva, Clotilde Bento, Paula Lourenço, Zaida Charepe
Nº de Páginas: 178
Formato: 15 X 21 cm
Editora: Formasau
Ano de edição: 2004
PREFÁCIO
A enfermagem como disciplina do conhecimento científico em pleno desenvolvimento, tem vindo a estar cada vez mais presente no seio da sociedade actual e a demarcar a sua identidade perante os parceiros das equipas de saúde. É com o objectivo de encontrar cuidados de excelência, para melhor cuidar a pessoa, que têm surgido no seio da enfermagem estudos como este, \"A Influência da Utilização da Música na Pessoa Submetida a Cirurgia Cardíaca\".
Coube-me a responsabilidade e o privilégio de prefaciar esta obra, que teve o seu início no âmbito de uma bolsa de investigação e se tornou num trabalho muito sério, com um empenho, dedicação e persistência notável por parte das investigadoras. Tive ainda outro privilégio como júri da bolsa de investigação, que foi o acompanhamento deste trabalho, desde a sua concepção como projecto até à presente obra. li, apreciei e comentei ao som da música, que o próprio trabalho me propiciava. Fui testemunha, mesmo à distância, das dificuldades e constrangimentos que as autoras tiveram de ultrapassar para chegar até aqui. Todo o mérito desta obra, se deve ao espírito de vencer e ao desejo que todos os elementos do grupo têm, em contribuir para o desenvolvimento da investigação em enferma-gem, na busca da excelência para a prática dos cuidados.
A temática desta obra fascinou-me desde o início, porque tem uma vertente que me é particularmente cara e à qual sou muito sensível \"A Música\". Considero que na disciplina de enfermagem, a música à semelhança do toque, do tom de voz, da escuta, entre outras pequenas grandes coisas, pode ser considerada uma ferramenta de trabalho fascinante, com efeitos benéficos, desde que devidamente enquadrada e ajustada às necessidades e vontade de cada pessoa. Tal como as palavras, a música pode ter uma função comunicativa-expressiva que facilite e promova a relação terapêutica entre enfermeiro/utente, consequentemente pode contribuir, para que da parte do utente exista uma maior aceitação das intervenções terapêuticas e um maior envolvimento na participação dos cuidados, o que concerteza será uma mais valia na obtenção de melhores resultados.
Sabe-se que, Platão e Pitágoras na Grécia Antiga, descreviam a música como um meio para harmonizar o ser humano e que Nightingale já em 1859 mencionava o uso da música como sendo importante para a saúde. No entanto, passados séculos e apesar da evolução que tem ocorrido na relação do Homem com a música, através de estudos e investigações e na difusão das novas tecnologias musicais, ainda existe um grande fosso entre a importância que se lhe atribui e a utilidade que se lhe dá.
Por tudo o que tenho vindo a referir, considerei desde o início este trabalho com carácter inovador e grande espírito de iniciativa. Em termos meto-dológicos, trata-se de um estudo exploratório, descritivo, quase-experimental utilizando metodologia quantitativa e qualitativa. O seu desenvolvimento e concretização não se tornaram tarefa fácil para as autoras, pois para além das dificuldades e constrangimentos inerentes ao percurso de um trabalho de investigação, considero que o cruzamento das duas metodologias é algo complexo e que requer elevado rigor científico. No entanto, entre a humildade e a ambição as autoras conseguiram o rigor necessário para chegar até aqui \" Esta Obra\".
Gostaria ainda de tecer algumas considerações sobre a análise que fiz aos resultados. Parece-me que não restam dúvidas que qualquer que seja o meio, recurso, estratégia, instrumento, …a utilizar nos cuidados de enfer-magem, deve ser preferencialmente negociado com o utente, de acordo com a suas necessidades, gostos e vontades.
A música, enquanto meio, recurso, estratégia, instrumento, …pode ser utilizada como uma forma de cuidar, desde que ajustada à pessoa na sua singularidade, como ser holístico, tendo em conta as suas necessidades, a sua vontade, a sua cultura e o seu ambiente.
Termino com o mesmo sentimento das autoras quando afirmam:
\"Mesmo que neste momento não vejamos o sol a brilhar em todo o céu, é bom saber que num hospital e num serviço existe a energia neces-sária para continuar a caminhar … ao som da música\".
E eu acrescentaria:
Ao ritmo, ao toque, à luz, ao ambiente de acordo com a vontade e ne-cessidade daquilo que, cada pessoa em conjunto com a equipa de saúde, entender ser o melhor projecto de cuidados para a satisfação das suas necessidades humanas fundamentais e consequente bem estar.
Por último, como estímulo para que as autoras continuem a investir no desenvolvimento científico da enfermagem, gostaria de usar as palavras de Osborn \"não existe nenhum esforço criativo comparável àquele que consagramos à investigação científica, destinada a melhorar os produtos que utilizamos\".
Maria do Céu Mestre Carrageta
RESUMO
Este estudo pretendeu analisar se a utilização da música influência o nível de ansiedade e da participação nos cuidados de enfermagem dos doentes submetidos a cirurgia cardíaca no período pós-operatório e quais os contributos para o bem estar do doente.
Para a sua realização foi efectuado um estudo exploratório-descritivo de carácter quase-experimental, onde a metodologia quantitativa é complementada por dados que foram tratados através de uma abordagem qualitativa.
Os sujeitos foram divididos em dois grupos: um grupo de controlo e um grupo experimental com 18 indivíduos cada. Todos eles submetidos a cirurgia cardíaca no Serviço de Cirurgia Cardio-Torácica do Hospital de Santa Marta S.A.
Salienta-se dos resultados obtidos que a utilização da música não evidenciou influência no nível de ansiedade dos indivíduos em estudo mas verificou-se alterações positivas na participação nos cuidados por parte dos indivíduos que constituem o grupo experimental. De outro modo os mesmos indivíduos reconhecem alguns contributos da utilização da música neste contexto e situação específica.
Por outro lado o estudo revelou a existência de várias variáveis que não foram controladas, o que em alguns momentos avaliativos condicionaram os resultados.