Comportamentos e Disturbios Alimentares
Autor: Águeda Gonçalves Marques
Editora: Formasau
ISBN: 978-972-8485-83-2
Ano de edição: 2007
Quando pensamos em alterações do comportamento alimentar a anorexia e bulimia nervosa ocorrem-nos de imediato como a expressão extrema de perturbações do comportamento alimentar. Neste caso estamos perante doenças que implicando um risco sério para a saúde, provocam um enorme sofrimento, interferem severamente no funcionamento social e não raramente desorganizam emocionalmente as famílias das (dos) jovens doentes devido á sua duração e dificuldade de tratamento. Contudo seria errado pensar que o sofrimento associado à alimentação se restringe á anorexia e bulimia nervosa. A investigação mostra que a maioria das jovens ocidentais está insatisfeita com o seu peso e forma corporal. Portugal não é excepção. Os ideais ocidentais de beleza e forma corporal originam uma forte pressão cultural para a magreza á qual muitas jovens adolescentes respondem com uma preocupação constante com o peso e comportamentos de dieta, numa tentativa de alcançar o corpo que supostamente lhes abrirá a porta da aceitação e do sucesso. Sem nunca atingirem os extremos exigido para um diagnóstico de anorexia ou bulimia nervosa muitas destas jovens, na sua procura do emagrecimento, fazem dietas selvagens, períodos de jejuns prolongados ou alimentações bizarras não tendo em conta os mais elementares princípios de uma nutrição adequada. Em algumas, e como resultado disto mesmo, origina-se uma desregulação do controlo natural da fome e saciação que as leva
depois a não resistirem a se empanturrarem compulsivamente. Em todas há sofrimento e preocupação permanente com o que comem e com a possibilidade
de aumentarem de peso.
O peso, forma corporal e dietas são hoje temas incontornáveis para quem tem que lidar com adolescentes, seja na família, na escola ou hospitais. No início da adolescência a auto-representação fica muito focada em características interpessoais, como competências sociais e atributos que influenciam a aceitação pelos outros e, neste período do desenvolvimento, a vivência do corpo e a sua confrontação com o ideal de beleza culturalmente prescrito é um aspecto importante na construção da identidade psicológica e social. As adolescentes são assim particularmente sensíveis ao ideal de beleza que é imposto pelos media. Contudo, muitas das considerações que acabamos de tecer acerca das significativo de mulheres adultas e em muitos casos o sofrimento não é menor.
É por isso bem-vindo este livro da Doutora Águeda Marques Comportamentos Alimentares Numa População Portuguesa pela sua oportunidade e utilidade para quem se interessa por estas questões.
No primeiro capítulo são abordados importantes aspectos da alimentação, como os padrões alimentares mediterrâneo e português descrevendo depois o que seria um padrão alimentar saudável e os erros alimentares mais frequentemente cometidos pelos adolescentes. Termina com algumas recomendações alimentares que são auxiliares preciosos para uma alimentação correcta.
No segundo capítulo são descritas as perturbações do comportamento alimentar. Para cada tipo diagnóstico a autora descreve a evolução do conceito, a sua caracterização clínica, os critérios de diagnóstico e factores etiológicos. É um capítulo recheado de informação que será muito útil a quem se quiser familiarizar com este tipo de perturbações.
O terceiro capítulo aborda a questão da insatisfação corporal e a sua relação com o conceito de ideal corporal, o estereótipo ocidental de magreza como beleza e a sua influência no desenvolvimento de alterações do comportamento alimentar.
Nos capítulos IV, V e VI apresenta a sua investigação sobre os comportamentos alimentares numa amostra de adolescentes portugueses e os resultados obtidos. O último capítulo é dedicado à análise e implicações dos resultados obtidos. Nele é apresentado um quadro dos hábitos alimentares das adolescentes estudadas, assim como da sua insatisfação corporal e comportamentos com vista á perda de peso.
No seu conjunto é um livro bem escrito, com muita informação sobre estes temas, de leitura fácil mas mantendo o rigor científico e que não hesito em recomendar pela sua utilidade para pais, educadores e técnicos de saúde mental que trabalhem com adolescentes.
José Pinto Gouveia
Professor Catedrático Convidado Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.