O Cuidador e o doente paliativo
ISBN: 972-8485-49-2
Autora: Maria Manuela Amorim Cerqueira
Nº de Páginas: 228
Formato: 15 X 21 cm
Editora: Formasau
Ano de edição: 2005
Prefaciar \"O cuidador e o doente paliativo\" é, antes de mais, o enorme prazer de estar presente na obra de uma amiga e colega, enfermeira for-madora de enfermeiros, que a vida brindou, com as delícias do entusiasmo que nasce do facto de acreditar no sonho, que partilhamos inteiramente, do desenvolvimento pleno da prática de cuidados paliativos no Alto Minho. Creio ter sido esta a razão do honroso convite da Manuela para prefaciar a sua obra, que percorre um itinerário de profundas e intensas emoções, na incerteza e insegurança do caminho a desbravar.
Estão em jogo os valores do altruísmo, da solidariedade, da propor-cionalidade... os direitos à vida, à qualidade de vida e ao alívio do sofrimento… mas, a força da obra, reside na crença de que o sonho se pode materializar, porque, para além do rigor da pesquisa, sentimos a subtileza da esperança que a alimenta e impulsiona.
A esperança começa quando alguém esgota os seus próprios recursos e tem de se socorrer dos recursos dos outros, criando uma expectativa dinâmica e activa. É neste ambiente onde coabitam a partilha e a cooperação que se expressa a \"alma\" dos cuidados paliativos. É neste \"amoroso\" encontro de uns com os outros que as fragilidades se transformam em força e a compaixão gera competência humana e científica.
A Manuela conduz-nos através do terreno da pesquisa científica, contando a história dos cuidados paliativos e do seu significado, procurando duma forma sistematizada elementos de análise, que permitam uma melhor identificação e compreensão das necessidades dos doentes e cui-dadores, em situação de intenso sofrimento.
Trata-se de um forte apelo aos profissionais de saúde e ao público em geral, mas, em particular, aos enfermeiros e formadores de enfermeiros, justificado na génese e pressupostos que envolvem os cuidados paliativos, enquanto sistema de apoio para auxiliar os doentes a viverem tão activa e criativamente quanto possível, esta etapa da sua vida e auxiliar as famílias a adaptarem-se durante a doença do familiar e no processo de luto.
À medida que avançamos na leitura, aqui e além, duma forma quase solta, porém precisa, a Manuela transporta-nos ao mundo encantado da poesia e, além do modelo assistencial em saúde, permite-nos ouvir a sonoridade recriada da arte de cuidar.
Nesta simbiose entre enfermeiro, cuidador e doente paliativo, coexiste uma concentração de forças que congregam energias e activam capaci-dades para diminuir os sentimentos de impotência e de desespero. O clima de confiança gerado em torno desta intervenção que se deseja profissionalmente relevante, nas dimensões técnica e humana, deve promover o imen-so potencial psicossomático que existe na pessoa, se reconstrói na família e se renova em cada projecto de vida criativo. É desejável que entre os que partem e os que ficam se construa um mundo de paz, nas memórias, nas histórias para contar e nos sonhos para perpetuar.
A pesquisa identifica rupturas na articulação entre os diferentes es-paços que sustentam o sistema organizacional da prestação de cuidados de saúde, visível, no isolamento, insegurança e angústia dos cuidadores, confrontados com a realidade duma doença terminal do seu familiar e chamados a dar respostas a problemas para os quais não foram devidamente preparados e apoiados. Por outro lado, as enfermeiras expressam dificuldades justificadas em políticas de saúde, onde os valores técnicos e de rentabilização dos recursos, assumem um papel principal, tornando difícil uma assistência que pressupõe uma relação interpessoal contínua.
Estamos, assim, perante um frutuoso trabalho de pesquisa científica que nos informa quanto ao campo social das práticas de enfermagem e do seu impacto na manutenção da saúde das populações, neste caso, quando estas são sujeitas a processos de crise e de luto que colocam em risco a sua recuperação e integração no quotidiano de vida.
Convido-vos a percorrer com a Manuela o terreno da pesquisa, a sentir o cansaço da caminhada, o desespero da dor e o aconchego do encontro de uns com os outros. Convido-vos ainda a sentir a frescura da mensagem de esperança, materializada no projecto de intervenção na construção de uma rede de cuidados, orientados para o alívio do sofrimento, da promoção da paz e da dignidade humana.
PREFÁCIO: Prof. Florbela Sampaio