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Revista Sinais Vitais nº 84

Maio de 2009

 

 

Sumário

Editorial

O preço a dar aos cuidados de enfermagem

 

Dossier Especial: ASSOCIATIVISMO DOS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM

Os presidentes da FNAEE

Os encontros nacionais de estudantes de enfermagem

Os 6 primeiros encontros nacionais de estudantes de enfermagem

OS ANOS INQUIETOS E DE REBELDIA DOS ESTUDANTES DA ESCOLA CALOUSTE GULBENKIAN

ENTREVISTA: VII Encontro Nacional de estudantes de Enfermagem - 1986

O Nascimento da FNAEE - Breve relato de grandes momentos

O Porquê da actividade associativa

FNAEE na luta pela licenciatura

A FNAEE À ENTRADA DO SÉCULO XXI

XV ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM - Figueira da Foz

XXIV ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM - V. N. de Mil Fontes

XXV ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM - Vagueira

Federação Nacional de Associações de Estudantes de Enfermagem - 2004/ 2005

FNAEE 2003 a 2008 - Do caos à consolidação interna e expansão internacional

 

Ciência e técnica

Uso do álcool como anti-séptico na administração de injectáveis

Sofrimento e Qualidade de Vida em doentes com cancro no HDES, E.P.E.

Terapêuticas centradas na pessoa com alterações do sistema musculo-esquelético

 

Eventos

Curso de pós graduação em acupunctura



Editorial

O preço a dar aos cuidados de enfermagem

Dar preço aos cuidados de enfermagem e consequentemente ao serviço de enfermagem é, sem dúvida, uma questão essencial no actual momento político e social que vivemos. Ao pensar neste assunto pertinente para reflectir convosco nesta edição dedicada ao associativismo estudantil em enfermagem, dei comigo a analisá-lo sob três perspectivas que, apesar de serem distintas, se complementam: a dos cidadãos, a do governo e a dos enfermeiros e da sua profissão. Interrogarmo-nos sobre o preço dos cuidados de enfermagem é encontrar aquilo que cria a sua identidade propriamente dita, é perguntar em que se fundamentam, como se elaboram e se realizam e qual o seu alcance e significado em relação com o que faz sentido para a vida das pessoas e ganham sentido para a vida dos profissionais.

No que respeita ao que faz sentido para a vida das pessoas, é notório que hoje é mais claro o contributo que os cuidados de enfermagem têm para a sua saúde. Isso manifesta-se por uma melhor consciência social do papel que o enfermeiro desempenha na cadeia de cuidados de saúde, na participação que tem na promoção da saúde, tratamento e prevenção da doença ao longo do ciclo de vida. São inclusive, em vários contextos, os seus referentes em termos de saúde porque os ajudam a decidir sobre o projecto de saúde, tendo em conta as transições (desenvolvimentais, situacionais, de saúde-doença e organizacionais) por que passam os cidadãos e as populações.

Nenhum cidadão se imagina sem este grupo profissional a cuidar dele, tornando, por isso, estes cuidados imprescindíveis. A percepção deste fenómeno vai ajudar também na negociação da carreira que está a acontecer, pois tudo o que é imprescindível significa um preço a pagar.

A assunção desta ideia pelos enfermeiros, no momento em que se negocia com o governo a carreira profissional para vigorar nos próximos 20 anos, traz vantagens negociais. Ao governo interessa-lhe ter um corpo de profissionais de enfermagem, que sejam referência para as pessoas e para a sociedade, e que responda cada vez melhor e de forma mais motivada às múltiplas necessidades decorrentes das transições por que passam os cidadãos no decurso da sua vida. Nessa carreira definem-se responsabilidades, deveres, direitos, categorias profissionais, formas de progressão, remunerações, procedimentos de avaliação, entre muitos outros aspectos de um decreto-lei desta natureza.

Na mesa da discussão estão aspectos importantes que deverão ser assegurados:

Reconhecer valor aos Enfermeiros que prestam os cuidados aos cidadãos.

As condições remuneratórias dos Enfermeiros terão de ser diferentes, de modo a permitir fazer da enfermagem a profissão. Este aspecto é fundamental, quer sob ponto de vista disciplinar, quer sob ponto de vista da criação de emprego, uma vez que possibilita tempo (que pode ser usado no aprofundamento científico), evitando que os Enfermeiros tenham duplo emprego. Pois, quem quiser progredir na carreira não pode sentir necessidade de abandonar a prestação de cuidados.

Tem de se assegurar a necessária independência técnica e disciplinar às chefias operacionais e estratégicas. Hoje, como nunca, é preciso ter em conta as condições materiais, afectivas e sociais dos cuidados de enfermagem. É inútil dizer-se que os enfermeiros que prestam cuidados têm condições para trabalhar para além dos 60 anos. A penosidade do trabalho dos Enfermeiros exige outro tipo de reconhecimento, por parte do governo, também na idade de aposentação.

Na perspectiva dos Enfermeiros e da profissão, ao interrogarmo-nos sobre o que identifica os cuidados de enfermagem e o serviço de enfermagem, bem como as condições indispensáveis à sua realização, deparamo-nos com a noção de que resultam do mesmo processo. Isso implica estudar a coerência entre os fins pretendidos e os meios para os alcançar, bem como saber argumentar as condições indispensáveis à execução dos cuidados centrados no projecto de saúde de cada cidadão.

É para além disso necessário levar em conta, no processo de fazer enfermagem, a diferente natureza dos cuidados, tornando possível:

Tomar em consideração tudo o que tem uma importância vital para as pessoas e os grupos, tudo o que para eles faz sentido (uma maneira de organizar o seu dia-a-dia, de preparar as refeições, a relação familiar, etc.);

Relativizar os cuidados de reparação integrando-os no processo de cuidados, sem os isolar, sem fazer deles todo o acto de cuidar;

Desenvolver com criatividade os cuidados de manutenção de vida que, ao contrário do que se proclama agora (por questões de natureza economicista), exige muitos conhecimentos e competências.

Utilizar a evidência científica disponível para garantir as melhores respostas às necessidades dos cidadãos.

Que as enfermeiras e enfermeiros gestores trabalhem ao lado dos enfermeiros, utilizem a mesma linguagem, os mesmos conceitos e a mesma visão dos cuidados. Fica, em nosso entender, clara a noção de que os cuidados de enfermagem são imprescindíveis e que têm um preço que a sociedade quer pagar porque lhe faz sentido. Saibamos nós Enfermeiros tornarnos ainda mais imprescindíveis.

Este número da Revista centra-se na temática associativismo estudantil em enfermagem. A ideia nasceu há uns meses com a ajuda dos membros da Comissão

Organizadora do 30º ENEE, Enfermeiros Raul Fernandes e Valter Silva, e veio a tornar-se realidade com a publicação deste número da Revista Sinais Vitais. Não tivemos como objectivo ser exaustivos na pesquisa histórica, procuramos antes encontrar personalidades que em cada momento foram edificando este movimento, ímpar em todo o ensino superior.

E, faltou-nos o tempo, contactos, mais estórias, mas o que aqui hoje se deixa é já uma parte que permitirá iniciar uma caminhada. Mas, fica claro que nos momentos mais críticos da profissão também a academia se uniu, discutiu e deu contributos para a valorização destes profissionais.

Esperamos que façam o mesmo agora.

Boas leituras.

Enf. Carlos Margato

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