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Revista Sinais Vitais nº 97

Julho de 2011

 

 

 

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SUMÁRIO

EDITORIAL

ENTREVISTA
Enfermagem Emigrante

CIÊNCIA & TÉCNICA

Enfermagem, Ciência Humana Prática

Traumatismo Vértebro-Medular. Boas Práticas em Enfermagem?

O Cuidar na dor oncológica

O enfermeiro e o cuidar da pessoa de etnia cigana

Necessidades das mães de recém nascidos internados em U.C.I.

O Doente com Drepanocitose Cuidados numa Crise Dolorosa Aguda

A Angústia de uma Laringectomia Total

O Preço de Ser Velho

A Ansiedade dos Doentes Durante a Recuperação da Anestesia do Neuro-eixo na Unidade de Cuidados Pós-anestésicos (UCPA)

 

EDITORAL

Caros colegas estão aí as férias, tempo para retemperar e recarregar de energia. Vêm aí também tempo de expectativa. O novo governo, que tomou posse há alguns dias, ainda não foi claro quanto à orientação das políticas para a saúde. Sabemos que como está não ficará. Teremos concerteza maior rigor no controlo, do que chamam desperdícios, maior rigor nas contas, teremos novas nomeações para os cargos habituais (esperamos que pela competência de gestão e não apenas porque sim…), teremos concerteza um discurso que apela à eficiência, á qualidade etc. Mas será que finalmente temos um sistema de saúde que valoriza, de facto, as pessoas, quer os utilizadores de cuidados quer os prestadores, um sistema que incentive à criação de hábitos de vida que possibilitem evitar a doença, que quando doentes incentivem as pessoas a lidar com essa doença, ou vamos continuar a ter mais do mesmo.

Maior investimento nos hospitais, um sistema que não é de saúde, mas de doença, porque centrado em políticas medicocêntricas e hospitalocêntricas, sem investir em cuidados de proximidade, em cuidados que valorizem o capital dos capitais que é a saúde das pessoas. Quando se fala em ganhos de eficiência, estamos habituados, porque essa tem sido a prática, a pensar em cortes na despesa, muitas vezes cegos, no constrangimento da procura por alterações na forma como se estrutura a oferta ou como se condiciona a procura pela via do pagamento no acto do consumo. No entanto raramente se fala que, para se conseguir eficiência é necessário e indispensável mudar as estratégias na prestação de cuidados. Portugal continua a gastar uma fatia significativa do orçamento que dedica à saúde em medicamentos (mais de 20% do orçamento) e a manter um disponibilidade de enfermeiros por mil habitantes que é das mais baixas da OCDE. Ao contrário, países que investem nos cuidados de proximidade, com mais enfermeiros por mil habitantes, gastam uma parcela muito menor em medicamentos (no norte da Europa <9%) e mais, quando se estuda a satisfação dos utentes, são exactamente esses países que manifestam níveis de satisfação, com o sistema, mais elevados. Portanto a estratégia tem que ser mudar o paradigma.

Valorizar o que mais contribui para a saúde dos indivíduos e das populações. Pensar a eficiência não numa perspectiva de poupança, mas numa perspectiva de incremento do valor. Pensar os cuidados não na perspectiva dos profissionais e muito centrada nas tarefas (nºs de consultas, números de cirurgias), mas numa perspectiva de competências e de ganhos que as pessoas podem obter com esses cuidados. Não faz sentido continuarmos a ter serviços onde o número de médicos é maior do que o de enfermeiros e, sistematicamente ouvirmos dizer que há falta de médicos.

Vamos esperar para ver. Espero sobretudo que o que vier não retire aos portugueses aquela que, foi uma das principais conquistas da democracia e sobretudo um ganho civilizacional, que é o direito a cuidados de saúde universais e gerais. Os sistemas assistencialistas como parece ser o modelo implícito nos discursos, já provou que não serve porque deixa de fora dos cuidados de qualidade uma fatia enorme da população. E isso constrange o próprio desenvolvimento dos países.

Estou expectante como profissional, mas também como cidadão utente e contribuinte para o sistema de saúde.

Boas férias.

Fernando Amaral, Enfermeiro

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