Revista nº 103 Julho 2012 |
EDITORIAL
EVENTOS
1º CURSO Pós-Graduação Cuidados à Pessoa com Dor
2º CURSO Pós-Graduação Enfermagem em Cuidados Intensivos
CIÊNCIA & TÉCNICA
INOVAÇÕES NO TRATAMENTO DE FERIDAS
OBESIDADE E RISCO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES - RASTREIO DOS UTENTES DA UNIDADE DE SAÚDE DE SAMUEL – SOURE
EDUCAÇÃO PARA SA ÚDE ESTRATÉGIAS SUSTENTADAS EM PROJECTOS DE INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA
ALTERAÇÕES SEXUAIS EM UTENTES COM ESCLEROSE MÚLTIPLA
PRESTADOR DE CUIDADOS INFORMAL OPERACIONALIDADE
PERCEPÇÃO DOS UTENTES RELATIVAMENTE À UTILIZAÇÃO DO HUMOR NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
A IMPORTÂNCIA DO TOQUE TERAPÊUTICO NOS CUIDADOS PALIATIVOS
PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR DO RECÉM-NASCIDO
ÉTICA AO CUIDAR DO HOMEM FACE À SUA INDIVIDUALIDADE
INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM FACE A UMA CRIANÇA EM IDADE ESCOLAR COM LINFANGITE ESTREPTOCÓCICA (ERISIPELA)
O ABC DA PARAMILOIDOSE (PAF) - (DOENÇA DOS PEZINHOS)
ABORDAGEM DIFERENCIAL ENTRE ÚLCERA DE PRESSÃO E LESÕES POR HUMIDADE
O DOENTE COM MIELOMA MÚLTIPLO
EDITORIAL
Julho iniciou com grande efervescência, com as notícias de que haveria enfermeiros a ser contratados por cerca de 4 Euros a Hora (menos do que se paga a um empregado doméstico). As notícias dos jornais televisivos fizeram-lhe referência, nas redes sociais esse foi objecto de crítica, a maioria a defender que essa circunstância era uma afronta à dignidade da profissão e dos enfermeiros.
Concordei com a maioria das críticas que iam neste sentido, naturalmente. Penso no entanto que este problema surge por uma razão, muito mais complexa do que a de colocar apenas em causa as profissões na área da saúde. Para mim a questão é mais ideológica que, se prende com o pensamento dos nossos governantes e é o de quererem acabar com um serviço público de prestação de cuidados de saúde, constitucionalmente garantido. Essa é a questão…
Reparem, nos últimos anos, temos assistido a uma sangria de enfermeiros do Sistema, mantendo os serviços a trabalhar abaixo do limite mínimo da segurança para os doentes e das necessidades globais das pessoas.
Hoje a procura nos hospitais do SNS, por exemplo, é sobretudo por pessoas com idade avançada, com necessidades diferentes, mais dependentes e com maior risco de contrair aquilo que são os efeitos da hospitalização. Os gestores não têm percebido esta realidade e têm optado por introduzir mecanismos para obter eficiência pela via da diminuição dos custos operacionais, nomeadamente através da diminuição dos efectivos de enfermagem. Sistematicamente se ouve que não têm sido repostas as vagas deixadas pelos colegas que se reformam.
Tudo isto leva a que a qualidade dos cuidados prestados seja inferior. Basta ver que a evidência mostra que a qualidade percebida pelos clientes se deve em grande medida aos cuidados de enfermagem. Uma diminuição da quantidade de cuidados prestados faz com que as infecções hospitalares aumentem, aumente a incidência e a prevalência das úlceras de pressão e aumente a mortalidade. Tudo isto tem custos. A presença de uma úlcera de pressão faz aumentar em média 6 dias o tempo de internamento, se multiplicarmos esses dias que se aumentam pelo preço/ dia que são em média 400 € significa que, se a existência de mais um enfermeiro conseguir prevenir uma úlcera de pressão por mês, então poupar-se-iam 2.400€, o que é muito mais do que o que ganha um enfermeiro. Claro que se juntarmos a estas contas muito simples, o facto de que, a maioria das UP infectam, o que aumenta os gastos, então estaríamos a falar de uma poupança ainda maior.
Ora se os políticos sabem isto e continuam a aumentar os cargos de gestão intermédia com a contratação de mais administradores e a despedir ou a diminuir o número dos operacionais, só podemos tirar uma conclusão: o governo quer acabar com o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Quem vai querer ir para um hospital público para morrer. Isso acontecia na Idade Média em que os hospitais eram construídos para evitar que as pessoas morressem nas ruas. Ora não estamos na Idade Média.
A simples adjudicação de trabalho ou de serviços é bem prova desse objectivo, mas quem sofre são os doentes, quando não existe vínculo a uma instituição, o vinculo e o conhecimento dos clientes é menor e nada se faz para garantir que esse cliente continue a sê-lo. Ora o público será que se apercebe disso???
Vamos dar visibilidade a tudo isto. Vamos fazer ouvir a nossa voz mostrando ao mundo o que fazemos, mostrando que nós somos úteis e que a sociedade, no seu todo, só tem a ganhar tendo enfermeiros próximos. Vamos defender as pessoas, vamos defender o Serviço Nacional de Saúde. √sv
António Fernando Amaral, Enfermeiro