EDITORIAL
Os sistemas de informação e comunicação e o envolvimento dos enfermeiros na sua mudança
Começa-se a generalizar a implementação de novos sistemas de informação e documentação em enfermagem nas organizações e serviços a nível nacional. Esta realidade prende-se com a necessidade de representar formalmente o conhecimento de enfermagem, usando uma linguagem comum que permita a produção de informação acerca das decisões e dos resultados da prática da enfermagem. Para tal é necessário usar uma linguagem classificada, sendo a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) a que se revela mais adequada. Em alguns contextos onde foi implementada, tem-se revelado uma ferramenta fundamental, porque permite adequar o diagnóstico à concepção de cuidados de enfermagem, planear intervenções baseadas em evidência, utilizar planos de cuidados verticais, permitindo a percepção da condição problemática do utente/família e percepcionar os resultados obtidos face à evolução do diagnóstico.
Da análise da documentação de enfermagem que se desenvolve nos serviços que estão a implementar novos sistemas de informação, tem sido possível perceber a ausência de coerência dos dados com a situação diagnostica do doente, situando-se estes apenas na descrição das actividades desenvolvidas na prática clínica. Logo tudo o que favoreça a produção de informação relacionada com a situação do doente é relevante e oportuno. O processo de produção dos conteúdos para os novos padrões de documentação e apropriação de uma nova linguagem pode ser uma oportunidade dependendo da metodologia de implementação. Adoptar um novo sistema de informação sem prévia discussão, apropriação da linguagem e dos seus conceitos pode tornar-se apenas numa nova forma de produzir informação. Por isso a tentação de se adquirir junto do IGIF o sistema de apoio à prática de enfermagem (SAPE) com os conteúdos já introduzidos, subverte os propósitos de uma discussão ampla e frutífera para os enfermeiros. Para nós a implementação de um sistema de informação diferente ou se constitui como pretexto para reflectir as práticas, promover a formalização do conhecimento desenvolvendo a capacidade de tomada de decisão dos enfermeiros, o planeamento e a avaliação ou os resultados em termos práticos apenas se situam no domínio da mudança da informação produzida.
Para além disso, este processo tem que ser claro para os enfermeiros e estes têm que se sentir autores até porque as mudanças duradoiras só acontecem pela apropriação da ideia por aqueles que têm que responder por ela. Este processo não se pode comprar, nem adquirir por receita, requer organização, envolvimento de uma equipa e exige forte sentido de liderança.
Os sistemas de documentação em enfermagem devem assim ser definidos por todos os enfermeiros nos contextos onde se aplicam.
Carlos Margato