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Sinais Vitais nº 50
Setembro 2003

 


 

A visibilidade dos Cuidados de Enfermagem 

Agora que terminou o verão e com as baterias carregadas é altura de nos preocuparmos com o desenvolvimento da profissão. Estamos num momento crucial de afirmação social, de confirmar à sociedade a razão de ser da nossa profissão e da necessidade de existir uma formação sólida que capacite cada um dos enfermeiros para tomar decisões na sua pratica clínica.Que os cuidados de enfermagem são imprescindíveis ninguém tem dúvidas, onde se situam as dúvidas é na visibilidade dos contributos dos cuidados na saúde da comunidade, quando nos situamos em contextos de análise social e politica de saúde. Objectivamente não conseguimos hoje avaliar quanto e em que medida o saber dos enfermeiros veiculado pela própria disciplina contribui para ganhos em saúde das populações, apesar de todos “sabermos” que contribuímos imenso nos diferentes indicadores.Contribui para este facto alguns condicionantes, nomeadamente, a juventude da disciplina de enfermagem; a hegemonia da disciplina medicina na prática clínica; o valor que a população atribui ao trabalho dos enfermeiros; o valor que os próprios enfermeiros atribuem ao seu papel; o modelo em uso na formação inicial dos enfermeiros; o modelo em uso prática clínica de enfermagem; a organização do trabalho centrada na tarefa; as práticas de gestão de cuidados centrada no limitado aproveitamento do potencial de cada colaborador; a limitada utilização de uma linguagem comum; a ausência de um sistema de informação em saúde e a limitada utilização dos sistemas informatizados de apoio à prática de enfermagem.Muitos destes condicionantes já foram identificados em diferentes contextos por grande parte dos enfermeiros, dos docentes e das organizações Sindicais e Ordem. Denota-se no entanto, falta de determinação e o espírito de classe que, durante a última metade do século passado, possibilitou à enfermagem uma afirmação sem paralelo no panorama das profissões emergentes no nosso país.É altura de eleger estrategicamente as áreas prioritárias da saúde da população, onde é forçoso intervir com uma acção concertada de forma a potenciar os recursos existentes mas simultaneamente poder fazer prova dessa intervenção através de um sistema de documentação devidamente sistematizado e organizado.No que respeita à nossa posição e à posição que já vi escrita por de algumas estruturas responsáveis da profissão, parece haver consenso relativamente à utilização de uma linguagem classificada internacionalmente para melhorar a comunicação entre os enfermeiros e os outros profissionais, para descrever de forma rigorosa os cuidados de enfermagem para efeitos de avaliação ou seja, para obtermos indicadores de processo e de resultado. Para que isso seja possível é necessário desenvolver um sistema de informação em enfermagem a nível nacional e dispor de um resumo mínimo de dados de enfermagem para diferentes propósitos, nomeadamente a avaliação da qualidade e continuidade de cuidados, produção de diversos indicadores, a formação e investigação.Neste sentido, todos (instituições de cuidados e de formação, Ordem, Sindicatos e outras instituições) temos que dirigir o nosso esforço nos próximos cinco anos para que seja possível colocar de pé a ideia de utilizar uma linguagem comum na prática clínica e de ter um sistema de informação que retrate a concepção de cuidados e nos permita tornar visível o que fazemos em prol da saúde das cidadãos do nosso país.

Carlos Margato
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Entrevista:  Ana Pereira de Campos
Enfª Directora do IPOFG Lx

Dados pessoais (de forma sucinta)
Idade: 54 Anos
Percurso Académico:
1- Curso Complementar dos Liceus, concluído no Liceu Nacional de Aveiro em 1969.
2- Frequência do 2º Ano da Faculdade de Letras de Lisboa, no ano lectivo de 1976/77
3- Curso de Enfermagem Geral, concluído em 1972 na Escola Técnica de Enfermeiras
4- Curso de Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica, concluído em 1988 na Escola de Enfermagem Pós-Básica de Lisboa
5- Equivalência ao grau de Bacharel em Enfermagem, por despacho do Secretário de Estado do Ensino Superior de 30 de Novembro de 1990.
6- Equivalência ao Diploma de Estudos Superiores Especializados em Enfermagem, por despacho do Secretário de Estado do Ensino Superior de 30 de Novembro de 1990.
7- Master em Gestão de Empresas (MBA), concluído em 1998 no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE)

 

SV - Pode falar-nos um pouco mais detalhadamente sobre o seu percurso pessoal, experiência profissional, locais de trabalho, actividade associativa...
APC
– Iniciei a minha carreira profissional como auxiliar de monitora, no Centro Regional de Lisboa do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil em Outubro de 1973, tendo desenvolvido a minha actividade em diversos serviços do IPOFG, quer na área da prestação de cuidados, quer na área da gestão.
Entre Novembro de 1981 e Janeiro de 2003, desenvolvi a minha actividade como enfermeira chefe, em diversos serviços do IPOFG, nomeadamente medicina, cirurgia e cuidados intensivos.
Em Janeiro de 2003 fui nomeada para o cargo de Enfermeira Directora do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, Centro Regional de Oncologia de Lisboa, S. A., cargo que ainda mantenho após nova nomeação em Maio de 2005.
Desenvolvi toda a minha actividade profissional no Centro Regional de Lisboa do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, tendo desempenhado funções em diferentes serviços deste Centro, como já referi.
Após terminar a especialidade, foi-me proposto participar na criação da Unidade de Cuidados Intensivos do IPOFG, projecto que abracei com muito orgulho e envolvimento. Assim em finais de 1991, integrei a Comissão Instaladora da então futura Unidade de Cuidados Intensivos do IPOFG.
Na sequência do desenvolvimento deste projecto, em Janeiro de 1992 realizei um estágio com a duração foi de 3 semanas. na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Universitário de Gröningen, na Holanda,.
De Março de 1992, até Junho de 1994, estive envolvida na criação desta unidade, tendo participado em todas as fases deste projecto desde a construção, passando pela organização dos recursos humanos e materiais até à sua entrada em funcionamento.Após a abertura desta Unidade em Junho de 1994, mantive-me como enfermeira chefe, funções que aí desempenhei até Outubro de 1999.
Desde esta data e até Fevereiro de 2002, desenvolvi a minha actividade profissional no Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde (IGIF), em regime de requisição, integrando o grupo coordenador do Sistema de Classificação de Doentes Baseado em Níveis de Dependência de Enfermagem (SCD/E).
Em Fevereiro de 2002, regressei ao Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, tendo sido colocada num serviço de Cirurgia.
Mantive a minha colaboração com o IGIF, desenvolvendo actividades de formação no âmbito do SCD/E e exercendo funções de auditora externa em hospitais utilizadores desta metodologia de gestão.
Ao longo de todo o meu percurso profissional, simultaneamente com a actividade de gestão dos serviços, desenvolvi outras actividades, nomeadamente: participação em várias comissões de análise de material e equipamento, júri de concursos, formação dirigida a alunos de enfermagem, apresentações em congressos, colaboração com a Associação Portuguesa de Enfermeiros na organização de algumas actividades de formação, participação em grupos de trabalho, dos quais saliento a minha participação num grupo de trabalho para a dinamização do Projecto: “ A Enfermagem Oncológica na Formação Básica dos Enfermeiros”, coordenado pelo Comité Permanente dos Enfermeiros da CE. Este projecto desenvolveu-se entre Outubro de 1992 e Junho de 1995 e implicou a participação em várias reuniões realizadas em Copenhague, onde estiveram representados todos os estados membro da então CE, através dos grupos de trabalho constituídos em cada país, incluindo Portugal

Um percurso profissional de cerca de 30 anos não se consegue facilmente colocar em tão poucas linhas. As vivências e a experiência adquirida, enriquecem a nossa vida pessoal e profissional, permitindo-nos desenvolver competências indispensáveis à prestação de melhores cuidados, caminhando no sentido de atingir a excelência.

SV – No seu actual cargo de direcção foi confrontada com um novo modelo de gestão, Sociedade Anónima e com gestores oriundos de outras empresas. Quer falar-nos dessa experiência? Teve concerteza vantagens e inconvenientes!

APC – Qualquer experiência, constitui sempre uma oportunidade de aprendizagem e de crescimento, contribuindo sempre para a construção do nosso percurso profissional. Foi com este espírito que aceitei assumir o cargo de Enfermeira Directora, consciente das dificuldades que iria enfrentar num período de grande mudança das nossas instituições de saúde. Gosto de desafios.
A nova filosofia de gestão dos hospitais S.A. orienta-se para a libertação dos hospitais das regras e formalismos que obstacularizam a agilização dos processos, conferindo-lhes uma maior autonomia da gestão, em moldes mais próximos da realidade empresarial. No entanto, confrontámo-nos com a inexistência de instrumentos de apoio à mudança, como por exemplo sistemas de informação de saúde, canais de comunicação eficazes que tornassem a informação mais célere, criando problemas de ausência informação no que respeita por exemplo a questões tão importantes como a empregabilidade, a insegurança dos profissionais, decorrente da precaridade do vínculo contratual e da constante instabilidade dos efectivos, não se encontrando respostas para questões como por exemplo a articulação das carreiras específicas da saúde com os contratos individuais de trabalho, ou o processo de avaliação do desempenho.
No que respeita à gestão dos recursos humanos de enfermagem, confrontámo-nos com um aumento da rotatividade dos enfermeiros, situação que tem causado grande instabilidade nos serviços, com consequente desgaste de todos aqueles que lidam constantemente com estas dificuldades. Para ultrapassar este problema, os Hospitais S.A. apresentam a vantagem de poder oferecer aos seus profissionais contratos individuais de trabalho mais aliciantes, criando vantagens competitivas em relação aos outros hospitais. Contudo, esta situação cria desequilíbrios, no que respeita às condições contratuais dos enfermeiros contratados pela empresa S.A. e os funcionários públicos, dificultando por vezes as relações dentro da própria equipa de enfermagem.
Considero que a Unidade de Missão teve um papel importante como impulsionadora de vários projectos, que de certa forma vieram imprimir alguma dinâmica ao funcionamento dos hospitais e refiro-me concretamente ao processo de acreditação pela Joint Commission International

SV – A passagem para o modelo de Empresa Pública como está a decorrer?
APC
– O decreto-lei n.º 93/2005 transforma os Hospitais Sociedades Anónimas em entidades públicas empresariais, com efeitos a partir da data de entrada em vigor dos respectivos estatutos. No entanto, não tenho conhecimento que ao nível dos hospitais se estejam a efectuar quaisquer procedimentos no sentido da transformação neste novo modelo.

SV – Como Enfermeira Directora como lida com a rotação actual do pessoal de enfermagem. As equipas têm pouca estabilidade ou consegue-se mesmo assim alguma?

APC – A escassez de enfermeiros com que ao longo dos anos nos temos confrontado, tem de certa forma contribuído para uma maior mobilidade dos enfermeiros relativamente a outros profissionais da área da saúde, uma vez que existindo carência, as oportunidades de escolha do local de trabalho surgem facilmente. Apesar deste contexto, a expectativa dos enfermeiros era o ingresso no quadro da função pública, pelo que lhes era vantajoso fixarem-se nas instituições, o que lhes permitia adquirir alguma antiguidade, factor habitualmente considerado como um dos critérios de selecção nos concursos de ingresso.
O estatuto jurídico dos Hospitais S. A., veio alterar esta realidade e os enfermeiros viram-se confrontados não só com a impossibilidade de ingressar nos quadros da função pública como também com o desconhecimento do seu futuro profissional em termos de progressão numa carreira que entretanto deixara de existir para quem iniciava uma vida profissional. Neste contexto, sem quadro e sem oportunidade de carreira profissional e perante um mercado com ofertas variadas de emprego, encontram-se reunidas as condições facilitadoras da mobilidade, na procura de melhores contratos e de melhores condições de trabalho. Acresce a esta situação, o facto dos hospitais não empresarializados e das sub-regiões de saúde continuarem a abrir concursos internos de ingresso, originando a procura destas organizações pelos enfermeiros já com vínculo à função pública. Ainda para além destes factores, tem-se verificado que os enfermeiros recém formados nas escolas do norte do país, no momento em que terminam a sua licenciatura, não encontrando oportunidade de trabalho nos hospitais da sua área de residência, procuram o primeiro emprego nos hospitais da área de Lisboa. No entanto, logo que lhes surge oportunidade de emprego perto de casa, regressam, abandonando aquele que foi o seu primeiro emprego. Situação semelhante acontece com os enfermeiros de nacionalidade espanhola, cujo primeiro objectivo é obter trabalho no país natal, não tendo na sua maioria, intenção de se fixar definitivamente em Portugal. Recentemente a revista da Ordem dos Enfermeiros publicou um artigo interessante que aborda com clareza as implicações da migração dos enfermeiros espanhóis. O IPOFG debate-se com esta problemática ainda com maior agudeza, por ser uma instituição oncológica conotada com o sofrimento e a morte. A insuficiente preparação académica dos enfermeiros para lidar com estes doentes, contribui para que o Instituto não seja um local de trabalho atractivo para os jovens profissionais.
Gerir a instabilidade causada por esta intensa mobilidade, exige alguma criatividade na procura de estratégias de atractividade e retenção dos enfermeiros na instituição. Estas estratégias têm passado pela oferta de contratos de trabalho mais competitivos, processo de integração nos serviços adaptado às necessidades individuais de cada enfermeiro, colocação dos enfermeiros nas suas áreas de trabalho preferenciais, criação de oportunidades de formação em enfermagem oncológica e em outras áreas consideradas de interesse.
Acredito que esta rotatividade e estes fluxos migratórios irão diminuir rapidamente, à medida que a carência existente for satisfeita, situação que não parece estar muito longínqua pois tem-se vindo a notar um aumento da oferta de cursos de licenciatura em enfermagem.

SV – Há a noção de que os espaços de trabalho dos enfermeiros ainda são muito pouco multidisciplinares. Quais as estratégias que tem utilizado no seu Hospital para tornar a disciplina de enfermagem mais utilizada?
APC
– Essa noção existe e é real, mas parece-me que cabe aos enfermeiros, alterar este status quo. Se bem que por vezes seja difícil intervir nos comportamentos e nas práticas individuais, quando a cultura dominante não facilita nem reconhece os benefícios da mudança, não podemos assumir atitudes conformistas. Temos que identificar claramente onde é que se encontram os obstáculos que verdadeiramente impedem os enfermeiros de assumir o seu papel nas equipas multiprofissionais. Tem sido minha preocupação que o corpo de Enfermagem integre os grupos de trabalho da instituição, tornando-os verdadeiramente multiprofissionais e multidisciplinares. Por outro lado irão decorrer em Outubro as 4ªs Jornadas de Enfermagem do IPOFG – CROL, S.A., cujo tema se prende com a reflexão e a sensibilização para a problemática do “ Enfermeiro na Multidisciplinaridade em Oncologia”. Este é daqueles caminhos que só se faz caminhando.

SV – O Hospital vai passar por um processo de acreditação? Como vai decorrer? Quer-nos falar desse processo?

APC – O IPOFG, iniciou este ano o caminho para a acreditação segundo os padrões da Joint Commission International.
É genericamente um sistema de Garantia de Qualidade que não vive espartilhado em normas estanques segundo as quais os hospitais se devem reger com vista à certificação, mas antes na exigência do cumprimento de padrões ou standards (do modo que cada instituição considerar mais adequado à sua realidade) que requerem ser evidenciados por elementos mensuráveis. De salientar que todo o modelo se encontra centrado no doente, em termos de filosofia, processos e hierarquização de valores e o objecto de avaliação é sempre a consequência dos vários actos/episódios de cuidados.
Ou seja, é um modelo que permite a individualização do processo e a sua adaptação à realidade e ás particularidades de cada hospital, assegurando, apesar disso, que estão garantidos os mínimos aceitáveis para que possa ser uma instituição acreditada segundo os princípios da JCI.
Este processo já foi iniciado no ano passado por alguns hospitais, mas o nosso, conjuntamente com mais seis iniciou-o agora.
Foi criado pelo CA um Núcleo de Acreditação, responsável pela coordenação do processo e nomeados 11 grupos multiprofissionais que se encontram responsáveis pelo desenvolvimento das acções necessárias à satisfação das exigências dos vários padrões.
Em Maio de 2005, fomos sujeitos a uma auditoria externa que teve a duração de cinco dias, efectuada por uma equipa de auditores americanos (médico, enfermeiro e administrador), com o objectivo de se proceder a uma avaliação inicial que nos ajudasse a identificar o grau de conformidade em relação a cada norma e também a elaborar o plano de acção para os próximos meses. Neste momento encontramo-nos na fase de implementação do plano de acção, prevendo-se que dentro de um ano sejamos sujeitos a uma auditoria simulada, que decorrerá em moldes semelhantes à auditoria inicial e que nos irá ajudar a implementar acções correctivas. O processo culmina com a auditoria final para a acreditação.
Apesar da fase inicial em que nos encontramos, a transversalidade do trabalho a desenvolver lança desafios que serão diferentes dos processos organizacionais verticais clássicos, pelo quer o acompanhamento e envolvimento de todo o Conselho de Administração é imprescindível ao longo do projecto.
Temos pela frente uma oportunidade de melhoria única e urge saber aproveita-la, pelo potencial de intervenção coordenada que este projecto contém.

SV – Os sistemas de informação informatizados são essenciais nas grandes organizações, mas com o processo de acreditação eles tornam-se nucleares. Já pensaram na solução global e na da área de enfermagem? Estão a pensar usar linguagem classificada?
APC
– No que respeita à enfermagem, temos planeado iniciar ainda no corrente ano, formação sobre a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) e posteriormente introduzir a utilização do Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem (SAPE). Neste momento, vamos iniciar a utilização do Sistema Informático de Classificação de Doentes (SICD/E), já na sua nova apresentação, ou seja, integrado no SAPE.
Não tenho qualquer dúvida que temos que caminhar para a utilização de um Sistema de Informação, que nos permita produzir informação sistematizada que evidencie os ganhos em saúde, sensíveis aos cuidados de enfermagem. Nesta perspectiva, emerge a necessidade dos enfermeiros se dedicarem à investigação na área dos Sistemas de Informação, que têm que ser hoje um meio para o desenvolvimento do corpo de saberes da profissão.

SV – Em termos globais e enquanto enfermeira o que acha dos cursos de especialização existentes? São suficientes para responder às necessidades da população e das organizações?

APC – Considero que os actuais cursos de especialização não estão adequados às necessidades da população, nem das organizações, sendo que a interrupção da oferta destes cursos, levou a que os enfermeiros na incerteza quanto ao futuro da continuidade da sua formação, optassem por fazer cursos de pós-graduação e mestrados em diversas áreas, os quais não lhes permitem obter a categoria de enfermeiro especialista. Existe uma aparente descoordenação entre o legislado e as reais necessidades das organizações. Um exemplo do que acabo de afirmar é o caso da inexistência da especialidade em enfermagem oncológica, tendo em consideração que o cancro é hoje a segunda causa de morte, situação que determinou a elaboração do actual Plano Oncológico Nacional. É verdade que a criação da pós-graduação em enfermagem oncológica é um enorme passo em frente, no entanto é paradoxal que as pessoas que já obtiveram esta pós-graduação, tendo adquirido certamente competências que irão reflectir-se na melhoria dos cuidados de enfermagem, se vejam impedidas de progredir na sua carreira profissional. Considero que de igual modo deveria ser equacionada a criação de uma especialidade dedicada à área dos cuidados paliativos.

 


 

A Dialéctica Teoria / Prática – Um Paradigma na Formação em Enfermagem

Autor: António Reis do Arco

RESUMO

A formação em enfermagem baseia-se num processo de alternância, entre formação teórica ou teórico-prática, normalmente desenvolvida na organização escolar, mais ligada à aquisição de competências cognitivas, e momentos de formação práticos, essencialmente nas organizações de saúde, onde essas competências cognitivas se associam a competências funcionais, exponenciadas pela prestação de cuidados aos utentes dos serviços de saúde.

Palavras-chave: Teoria; Prática; Formação; Enfermagem; Saberes.

INTRODUÇÃO

Nas profissões ligadas à saúde a formação assume uma importância determinante, pois numa actividade em actualização constante, face às inovações técnico-científicas do mundo contemporâneo, é fundamental estabelecer processos que privilegiem o pensamento reflexivo e promovam o acesso a saberes próprios, cuja transmissão é essencialmente “comunicável na sua integralidade apenas no interior do grupo de ‘oficiantes do mesmo ofício’” constituindo “um elemento estruturante da profissão, enquanto tal.” (Sarmento 1994: 55). A enfermagem tem sofrido transformações socioprofissionais e identitárias, construindo uma autonomia pela demarcação social e científica do poder médico, assumindo-se como um grupo profissional essencial nas organizações de saúde. Neste processo “a formação ocupa um estatuto de relevo, na medida em que facilita a visibilidade dos saberes práticos da profissão e traduz o processo de problematização das práticas profissionais, fundamentais para a demarcação social e científica da profissão.” (Abreu 1997: 149).A formação tem constituído o baluarte em que se fundamenta o crescimento e afirmação profissional da enfermagem, permitindo a estruturação e consolidação de saberes que lhes são próprios, estimulando simultaneamente o desenvolvimento de competências, a nível cognitivo, afectivo e motor, que possibilitam o efectivo estabelecimento de um campo de intervenção específico, no contexto multidisciplinar dos serviços de saúde.

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  A RELAÇÃO ENFERMEIRO - DOENTE IDOSO SOB UM OLHAR BIOÉTICO

Palavras-chave: relação enfermeiro - doente idoso; autonomia; recursos disponíveis em função da idade; morte.

Resumo
Pretendemos com a divulgação deste trabalho:
1.       Alertar para os problemas éticos que envolvem o processo do envelhecimento;
2.       Levar os enfermeiros á reflexão sobre as suas atitudes face ao doente idoso (questões relacionadas com a sua autonomia, estabelecimento de limites terapêuticos, disponibilidade de recursos em função da idade e morte).

É genericamente entendido que ao longo da vida se caminha para a morte num processo universal chamado de “envelhecimento” onde se correlaciona a passagem do tempo com o aumento do risco de adoecer, e com a diminuição da acuidade das funções fisiológicas, da capacidade de adaptação ás variações do ambiente e da esperança de vida [Baker III, 1997], ou seja, com a degenerescência do próprio indivíduo. Nesta perspectiva e sabendo que a população idosa está a aumentar exponencialmente em todo o mundo e muito em particular nos países em vias de desenvolvimento como Portugal, o envelhecimento da população deverá constituir para nós enfermeiros um autentico desafio pois a sua dimensão problemática exige e continuará a exigir um atendimento preferencial, privilegiado, de qualidade. Esta qualidade segundo o Comité Consultivo Europeu (20 de Janeiro de 1995, pág. 3-10), no domínio dos cuidados de enfermagem a prestar aos idosos, passa inevitavelmente por uma reflexão sobre os aspectos éticos do processo de envelhecimento.

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O ÁLCOOL NA ADOLESCÊNCIA

Autor: Ana Celeste Cordeiro Pimentel
Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa

PALAVRAS CHAVE
Álcool, Jovens, Hábitos e estilos de vida, Educação e Promoção da Saúde.

Resumo
Ao que parece os adolescentes de hoje, começam a beber cada vez mais cedo, cada vez mais e seguindo padrões cada vez mais preocupantes.
Neste trabalho pretendo realçar que, o álcool é uma droga legal e totalmente aceite pela sociedade, o que levará muito mais tempo a ser reconhecida como letal.
O alcoolismo em Portugal é, a maior das toxicodependências, e por muito que se acene com os números, há muitos que não acreditam que o assunto seja grave!! É de salientar  que a população estudantil apresenta características, que a tornam um grupo vulnerável ou de alto risco para o consumo de álcool, e talvez por este motivo o álcool esteja a atingir números assustadores entre os adolescentes...

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O PAPEL DO PAI NA AMAMENTAÇÃO

Autores: Dulce Maria Pereira Garcia Galvão*; Joana Jardim**; Lélia Pagaimo**; Liliana Marques; Liliana Sousa**; Mª Inês Santos**; Mª da Graça Travasso**; Mª La-Salete Contente**

RESUMO
Desenvolveu-se um estudo descritivo e transversal, utilizando-se a técnica de pesquisa directa, junto de uma amostra constituída por alunos e docentes do género masculino, de uma Escola Superior de Enfermagem da cidade de Coimbra, que permitisse conhecer o que pensam os homens sobre o papel e envolvimento do pai na amamentação.
Para a recolha de informação utilizou-se um questionário elaborado pelas autoras.
A análise e interpretação dos resultados permitem afirmar que embora a totalidade dos participantes considerasse importante a inclusão do pai na amamentação, tendo desejado, apoiado e auxiliado neste processo, foram os homens sem filhos que atribuíram maior importância ao papel do pai na amamentação. Constatou-se ainda que a formação académica na área da saúde revelou-se importante na visão do papel do pai neste processo.

PALAVRAS-CHAVE
Amamentação; Papel do pai; Promoção.

ABSTRACT
It was developed a descriptive and transversal study, using a direct research technic, close to a sample made by male students and teachers, of a Nursing School in the city of Coimbra, that could allow to understand how men thinks about the role of the father in breastfeeding.
For the research of information, it was used a questionnaire made by the authors.
The analysis and interpretation of the results can affirm that, although the majority of the participants considers important the inclusion of the father in breastfeeding, have wished, supported and aided in this process, were the men without children who attributes the biggest importance to the role of the father in breastfeeding. It was also reported that the academical formation in the health area revealed to be important in the vision of the father in this process.

KEY WORDS
Breastfeeding; Role of the father; Promotion.

NOTA INTRODUTÓRIA
A chegada de um filho traz consigo um conjunto de mudanças, obrigações e cuidados acrescidos que, frequentemente, significam um aumento de tensões na vida do casal. Nos dias que correm, o papel do pai, que foi durante muitos anos relegado para segundo plano, é incomensuravelmente valorizado aparecendo como figura renovada, capaz de se envolver com grande entusiasmo e assumindo um papel tão importante como o da mãe (Balancho, 2003).
A forma como uma criança é alimentada é uma decisão complexa e multifactorial e vários factores de ordem social, psicológica, emocional e ambiental poderão estar na origem da sua escolha.
A amamentação prolonga o papel central da maternidade para além do parto, já que só a mulher pode amamentar. Dirá isto também respeito ao pai? Infelizmente, há poucas certezas relativamente às atitudes e ao comportamento dos pais sobre a amamentação (Davies, 1993).
Embora muitos pais se sintam, de certa forma, excluídos do processo de amamentação, pois efectivamente não amamentam o seu filho, o pai deve entender que pode contribuir em muito neste processo, não necessariamente amamentando, obviamente, mas procurando desempenhar o seu papel, dando apoio à esposa.
Para Davies (1993) a decisão sobre a maneira como o bebé será alimentado deve ser tomada solidariamente pelo casal e segundo Lana (2001), o êxito do aleitamento materno é altamente provável quando o pai é favorável a esta prática. A sua participação aumenta a prevalência da amamentação e frequentemente faz a diferença entre o seu sucesso ou o seu fracasso.
Reconhecendo que é importante que o casal tome a decisão de amamentar e manter a amamentação em conjunto, actuando em equipa, encorajando-se um ao outro e ajudando-se no que for preciso, quisemos saber o que pensam os sujeitos do género masculino sobre o papel do pai na amamentação. Neste sentido para compreender e contextualizar o papel do pai na amamentação desenvolveu-se um estudo descritivo, junto de enfermeiros e professores de enfermagem que permitisse identificar a importância atribuída ao pai no processo de amamentação e descrever os comportamentos que desenvolveram em termos de amamentação enquanto pais.

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Transição do doente dependente para a família

Autores: Ana Cristina Almeida, Márcia Rodrigues, Mónica Miranda e Ricardo Monteiro

RESUMO
A família desempenha um papel fundamental na garantia da continuidade de cuidados. Assim, centrarmos os nossos cuidados na díade doente/família, passando, por exemplo, por um planeamento de alta clínica efectivo, constitui um instrumento básico para optimizar a capacidade da família para o cuidar e minimizar os efeitos negativos inerentes a um processo de transição do internamento hospitalar para o domicílio.
A questão central que orientou o nosso estudo diz respeito ao doente dependente e ao cuidador principal. Procurámos averiguar se existia relação entre o grau de dependência do doente e a sua transição para o contexto familiar. Enveredámos por um estudo longitudinal, recaindo a nossa opção metodológica na triangulação dos métodos quantitativo e qualitativo. O estudo foi realizado utilizando como população as doentes do serviço de Ortopedia II do Hospital de Santarém, S.A., que se encontravam internadas nos meses de Junho, Julho e Agosto. Daqui foi constituído um painel com vinte e nove doentes, ao qual chamámos amostra primária e, posteriormente, seleccionámos a amostra secundária, constituída por três díades doente dependente/cuidador principal. Os métodos utilizados na recolha de dados foram o Índice de Barthel, o questionário e a entrevista não directiva. No tratamento dos dados utilizámos a estatística descritiva e a análise de conteúdo.

Palavras-chave: Transição; planeamento da alta; grau de dependência; cuidador principal.

INTRODUÇÃO
As transformações políticas e sociais que têm ocorrido no nosso país, nos últimos anos, levaram à constante reorganização dos cuidados de saúde. No entanto, várias situações vão-se mantendo inalteradas; por vezes ganham novos contornos, mas a essência do problema continua a prevalecer. É o que podemos verificar na transição de doentes dependentes para a família. Se durante o internamento hospitalar, todos os aspectos relacionados com dependência assumem um carisma problemático, no momento da alta que, na maioria das vezes, se efectua de forma precoce, atingem um carácter ainda mais complexo, o que facilmente se justifica pela escassez de recursos na comunidade e pelas dificuldades sentidas pela família, quando esta assegura o papel de cuidador.
O familiar cuidador, tal como refere AUGUSTO e outros (2002:63), apresenta “uma responsabilidade acrescida e uma sobrecarga de trabalho, (...), sem que nada lhe possamos oferecer como incentivo/reconhecimento do seu esforço, à semelhança do que acontece na maioria de outros países, onde existem redes de apoio à família aos mais variados níveis.”
A reflexão sobre esta realidade levou-nos a formular a questão central para a orientação do nosso estudo: “Existirá relação entre o grau de dependência e a transição do doente dependente para a família?”
Traçámos como objectivos:
Verificar se existe relação entre o grau de dependência e a transição do doente dependente para a família;
Identificar as dificuldades encontradas na transição do doente dependente para a família.

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O Pé Diabético


Autores:Mónica Andreia Carvalho Marinho
Eládio Artur de Oliveira Gomes

RESUMO
A elevada incidência de complicações da Diabetes, nomeadamente do Pé Diabético, exige uma atenção cada vez maior dos profissionais de Enfermagem.
É fundamental, na nossa área de actuação, ensinar o doente diabético sobre o que deve observar e, sobretudo, os cuidados que deve ter. Importa de facto, prevenir.

Palavras-chave: Pé diabético; Pé isquémico e pé neuropático; Manifestações; Prevenção/Ensinos.

 

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Posicionamentos no Recém-nascido Pré-termo

Autores: Nisa Souto; Rita Reis

Autores: Nisa Souto; Rita Reis

Resumo
Os recém-nascidos pré-termo pela sua imaturidade neurológica e instabilidade fisiológica são mais susceptíveis ao desenvolvimento de sequelas neuro-comportamentais. A promoção de estratégias para a sua prevenção constitui uma função de Enfermagem que serão abordadas no presente artigo.

Palavras-chave:
Recém-nascidos pré-termo; Sequelas neuro-comportamentais; Posicionamentos; Cuidados de Enfermagem.

Introdução
Os avanços científicos e tecnológicos verificados nas últimas décadas na área Neonatal proporcionaram a sobrevivência de recém-nascidos com peso e idade gestacional cada vez mais baixos. Contudo, esta situação coloca desafios em relação à morbilidade e qualidade de vida desses recém-nascidos numa perspectiva futura. O presente artigo tem como objectivos:
Aprofundar conhecimentos sobre o desenvolvimento neuro-motor do recém-nascido pré-termo;
Promover cuidados adequados ao desenvolvimento neuro-motor do recém-nascido pré-termo.

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Intervenção do Enfermeiro na Criança com Síndrome de Klinefelter e sua Família

Autora: Sílvia Albuquerque Leal

Sílvia Albuquerque Leal

Resumo
O Síndrome de Klinefelter é um distúrbio cromossómico que tem uma incidência aproximada de 1 em 500 crianças. Contudo, dadas as particularidades das suas manifestações clínicas, durante a puberdade, estas acarretam para o adolescente repercussões psicológicas graves. Normalmente, as crianças afectadas por esta patologia e respectiva família evidenciam uma necessidade extrema de apoio durante o desenvolvimento da mesma, pelo que se torna imprescindível a intervenção do enfermeiro da comunidade, quer para o fornecimento de informação adequada como para o estabelecimento de uma relação terapêutica de ajuda que permita a reabilitação e reinserção destas crianças e família na comunidade.
Durante a realização do Estágio de Saúde Infantil na Comunidade, tive oportunidade de acompanhar um caso particular de uma criança de 28 meses com o Síndrome de Klinefelter. Neste sentido, o presente trabalho pretende apresentar, resumidamente, a intervenção do enfermeiro num caso concreto de uma criança com este síndrome.

Palavras-chave:
Intervenção do Enfermeiro; Síndrome de Klinefelter; Criança com 28 meses de idade; Família.

 

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Os cuidados na administração do surfactante em neonatologia

Autores: Ivete Monteiro, Mónica Rafael, Paula Pereira.

RESUMO
O surfactante é uma substância produzida nos alvéolos pulmonares, com a função de reduzir a sua tensão superficial no final de cada expiração, prevenindo o colapso. A ausência ou insuficiência desta substância pode ser primária, o que motiva a Doença da Membrana Hialina, ou secundária, como pode ocorrer na pneumonia neonatal precoce ou na síndrome de aspiração de mecónio.
O facto do surfactante ser utilizado em neonatologia, devido à sobrevivência de recém-nascidos cada vez mais imaturos, torna imperativo que o enfermeiro, integrado na equipa multidisciplinar, mantenha actualizados os conhecimentos técnico-científicos em relação a esta terapêutica.

Palavras chave: Doença da Membrana Hialina; Prematuridade; Recém-nascido; Surfactante.

INTRODUÇÃO
A evolução técnica e científica tem permitido a sobrevivência de recém-nascidos cada vez mais imaturos, permitindo que estes atinjam a maturidade em ambiente extra-uterino. Para tal facto têm contribuído formas de ventilação cada vez mais “fisiológicas” e o aparecimento de novas estratégicas terapêuticas, entre as quais se inclui o surfactante.
O surfactante pulmonar tem a propriedade de reduzir a tensão superficial pulmonar. Este resultado advém da estabilização dos alvéolos, evitando o colapso dos mesmos no final da expiração. A ausência ou deficiência de surfactante pulmonar, seja qual for a causa, conduz a uma insuficiência respiratória grave. Se esta não for ultrapassada, pode aumentar a mortalidade e/ou morbilidade no recém-nascido, ao ser responsável por sequelas respiratórias, como a displasia broncopulmonar, ou sequelas neurológicas secundárias à hipoxémia grave e prolongada.
Neste contexto, o surfactante exógeno tem um papel relevante como terapêutica de substituição. Esta deve ser sempre realizada por médicos e enfermeiros com treino em neonatologia e na presença de um mínimo de condições, como seja a monitorização de parâmetros vitais e suporte ventilatório.

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Modelos de Gestão O Hospital S.A. Como Paradigma

Autora: Maria Rosário Fátima Sousa Pinheiro Vieira

Maria Rosário Fátima Sousa Pinheiro Vieira

RESUMO
A questão do público e do privado nas organizações de saúde tem sido objecto de alguma discussão entre vários sectores de opinião, não existindo, contudo, estudos empíricos em quantidade suficiente que visem esta temática, limitando-se muitos dos autores a defender os seus pontos de vista sem que procedam a análises mais consistentes e fiáveis. A relação público e privado encarada muitas das vezes em planos dicotómicos, tem vindo a esbater-se, possivelmente porque o privado se tem enredado em espaços que se confundem com o interesse público e o Estado, por sua vez, não se tem desprendido do seu papel, assumindo continuamente políticas centralistas e de controlo nada facilitadoras para a afirmação de quaisquer uma das esferas.
Perpassa hoje, na sociedade portuguesa especializada, a ideia de que os principais problemas da administração hospitalar pública são problemas de gestão e que somente os especialistas “com preparação cuidada e estatuto adequado” são dotados de competências para os resolver. Assim, segundo aquela perspectiva, para resolver os problemas da administração hospitalar, somente uma liderança de tipo empresarial unipessoal, sustentada por critérios de racionalidade técnica e por conceitos de eficácia e eficiência.

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