Sinais Vitais nº 76 Janeiro 2008 |
EDITORIAL
Queria começar este editorial por desejar a todos os nossos leitores um óptimo ano de 2008, com paz, felicidade, prosperidade e muito sucesso.
O ano de 2007 foi um mau ano para a enfermagem em Portugal. Foi o ano em que se parece ter consolidado o desemprego entre os Enfermeiros portugueses e ano em que, mais se assistiu ao ataque à nossa autonomia. Claro está que estas duas situações sendo paradigmáticas de uma certa visão médico-centrica dos cuidados de saúde, só prejudica os utentes do sistema de saúde e a nossa economia. Portugal tem ouvido de todos os quadrantes da sociedade portuguesa um discurso que dá conta da necessidade do sistema de saúde ser mais eficiente, mas a maioria dos que proferem este discurso apontam, para atingir este desiderato, a poupança nos recursos, esquecendo-se que o que é necessário é utilizar bem os recursos existentes de forma a maximizar os resultados que com eles podem ser alcançados.
Os dados do relatório da OCDE de 2007 mostram que Portugal é, dentro dos países da Europa aquele que tem um número menor de enfermeiros por habitante (4,6 por cada 1000 habitantes) contra os 15.4 da Noruega, os 14.5 da Holanda, ou mesmo os 7.7 da França. Claro está que estes valores reflectem uma perspectiva de cuidados de saúde, porque quanto ao número de médicos, o que acontece é que Portugal possui 3.4 por mil habitantes, a Noruega e a Holanda 3.7 o que mostra bem que nestes países se aposta nos cuidados de saúde de proximidade, preventivos de gestão das pessoas e não da doença, muito mais eficientes, porque permitem obter mais ganhos em saúde. Interessante é verificar que estes países gastam do seu Produto interno bruto em saúde menos que Portugal. Quando se analisa do lado dos gastos verifica-se que são os países que possuem um maior número de enfermeiros por habitante que gastam menos em medicamentos. A parcela dos gastos em medicamentos na despesa total é, para Portugal de 21.6% e para a Noruega de 9.1%.
Muitos estudos mostram que os cuidados de enfermagem possuem elevada efectividade, permitindo melhorar indicadores não apenas de qualidade, mas também de mortalidade. Nos serviços onde existem mais enfermeiros é mais fácil detectar complicações e assim evitar mais mortes. É possível diminuir a demora média já que os enfermeiros tendem a capacitar os doentes para a independência nos auto-cuidados, tornando a pessoa mais independente é possível o regresso a casa mais cedo (porque os doentes são internados, quando necessitam de cuidados de enfermagem portanto quanto mais cedo se tornarem independentes destes mais cedo podem regressar a casa). Por outro lado tem sido, e ainda bem, incentivada a cirurgia de ambulatório, mas será este objectivo alcançável sem uma rede de cuidados de enfermagem de proximidade realmente existente? Será que diminuindo o número de enfermeiros nos serviços se melhora a eficiência? Penso que não. Estes são apenas alguns aspectos que gostaria de deixar à reflexão dos nossos leitores, os portugueses merecem-nos a melhor atenção e os melhores cuidados, portanto penso que não é mantendo os enfermeiros no desemprego que a população terá melhores cuidados e, finalmente, Portugal deixe de ser um país em vias de desenvolvimento para passar a ser de facto um país desenvolvido.
Votos de um bom ano de 2008.
Fernando Amaral