NIDCAP® Uma realidade possível…
Autora. Madalena Ramos
INTRODUÇÃO
A característica sofisticação tecnológica das modernas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN’s), tem repercussões no desenvolvimento da criança (American Academy of Pediatrics, 1997; Benini et al. 1996; Zahr, & Balian , 1995; Oehler, 1996; Blackburn, 1998). O recém-nascido de termo, beneficia rapidamente duma estabilização dos seus sistemas, após o nascimento. Ao contrário, o pré-termo é um ser cujas competências comportamentais não estão ainda adaptadas ao ambiente extra-uterino, pelo que as condições ambientais da UCIN o impedem de usufruir dos benefícios das estimulações, que se revelam excessivas e prematuras.
A exposição permanente a uma luz branca e fria, como a fluorescente, é, para pré-termo, um estímulo inapropriado do meio ambiente (Ostfield, 1990). Esta intensa e constante luminosidade, interfere nos padrões de repouso e nos ritmos circadianos (Ackerman et al., 1989; Blackburn & Patteson, 1991; Blackburn, 1996; Bullough & Rea, 1996).
Berens e Weigle (1995,1997) referem que as incubadoras e os ventiladores são dos equipamentos aos quais são atribuídos níveis mais elevados de poluição sonora, em simultâneo com a actividade dos profissionais (Graven et al., 1992, 1997).
A frequência da manipulação das as crianças na UCIN, aumentou significativamente em poucos anos. Murdoch & Danford et al (1983) verificaram uma média de 234 manipulações em 24 horas de observação, e que estas chegam a ocorrer em média todos os 5-20 minutos, sendo as enfermeiras as principais responsáveis por essas intervenções, seguidas dos pediatras e finalmente pelos pais (Gottfried, 1985).
Associado aos procedimentos foram registadas alterações, nomeadamente ao nível dos sinais vitais, pelo que não só as consequências dos procedimentos estão em causa, mas também o facto de estes se repetirem inúmeras vezes, potenciando a adversidade dos seus efeitos (Danford et al., 1983; Evans, 1991; Murdoch & Darlow 1984; Wolke, 1987; Pacheco, 2001).
Heidelise Als, uma psicóloga americana, que começou a observar pré-termos nos finais dos anos 60, desenvolveu um trabalho considerado pioneiro nesta área. No início da década de 80, divulgou a sua teoria, centralizada na habilidade do recém-nascido em interagir com o meio envolvente (Als et al., 1986). O recém-nascido, cujo sistema nervoso continua o seu desenvolvimento, mesmo após o nascimento, tem agora de se ajustar a um ambiente de sobrecarga sensorial (Wolke, 1987; Gottfried & Gaiter, 1985; Berens & Weigle, 1997). Nesta perspectiva, a adaptação entre estímulos ambientais e as expectativas do sistema nervoso em desenvolvimento, requerem um gasto energético acrescido, sobretudo no caso do pré-termo (Als, Lester, Brazelton, 1979; Als & Gilkerson, 1997).
A teoria de Als, assenta na avaliação individual do recém-nascido, permitindo uma adaptação ao ambiente da unidade e dos cuidados, na sua globalidade e integrando os pais, como actores indispensáveis na relação com o recém-nascido (Als, 1986).
O NIDCAP®
(Newborn Individualized Developmental Care and Assessment Program)
O modelo de Cuidados Desenvolvimentais Individualizados e Programa de Avaliação para o Recém-nascido (NIDCAP®), foi elaborado com o objectivo de implementar a filosofia de cuidados centrada na família, numa perspectiva do desenvolvimento (Als & Gilkerson, 1997).
Este programa pretende proporcionar orientações educacionais e treino específico, em avaliação e observação comportamental, da equipa multidisciplinar responsável pela assistência ao recém-nascido de risco e à sua família. Baseando-se na observação naturalista, sistematizada e semanal, do recém-nascido (Westrup et al.,2000), utilizando uma grelha de avaliação, inspirada nos trabalhos desenvolvidos por Brazelton.
A observação realizada antes, durante e depois das intervenções, permite definir as estimulações adaptadas ou seja as que provocam comportamentos de aproximação, e simultaneamente identificar o limiar da desorganização de um ou mais dos sub-sistema envolvidos, bem como as estratégias utilizadas pelo recém-nascido, para manter a auto-regulação global. A partir destas observações, é elaborado um plano holístico de cuidados, discutido pela equipa de saúde com a participação dos pais (Montgomery, 1998; Westrup et al., 2000).
As áreas de intervenção centram-se no controlo dos estímulos externos (vestibular, auditivo, visual e táctil), agrupamento dos cuidados de enfermagem e dos outros profissionais, posicionamento e parceria parental nos cuidados a prestar ao recém-nascido (Als, 1996):
-O ambiente é modificado com a finalidade de adaptar a intensidade dos diferentes estímulos ambientais, já referidos anteriormente, às competências da criança - reorganização funcional e arquitetónica, redução do nível sonoro e de luminosidade, reflexão sobre a pertinência e necessidade da realização de alguns procedimentos invasivos (Blackburn, 1996).
-A concentração dos cuidados em períodos limitados, através da coordenação global da equipa de saúde, permite preservar a organização do sono ao favorecer períodos de repouso (Torres et al., 1997). Pelo contrário, os períodos de alerta devem ser aproveitados para a prestação de cuidados e se o bebé o suportar, para encorajar as interacções sociais, particularmente com os pais.
-O posicionamento da criança na incubadora, deve preservar a posição natural em flexão, para promover a estabilização motora e vegetativa. A contenção, a sucção, o aconchego, durante as intervenções ao recém-nascido, podem ser um contributo valioso, para conseguir a estabilização (Ulrich, 1991; Medoff-Cooper & Ray, 1995; Drosten, 1997; Beckman, 1997).
Os sinais comportamentais do recém-nascido, são ensinados aos pais que são incentivados à participação activa nos cuidados desenvolvimentais - contacto pele com pele, estimulação táctil, massagem (Ludington, 1990; Sloan et al., 1994, Bauer et al., 1997) – permitindo um melhor conhecimento e acompanhamento da evolução do seu filho.