Revista Sinais Vitais nº 90 Maio de 2010 |
EDITORIAL
A propósito da tomada de decisão clínica em enfermagem
ÉTICA
Bioética e investigação em cuidados intensivos
CIÊNCIA E TÉCNICA
Terapia de pressão negativa no tratamento de feridas complexas
CIÊNCIA E TÉCNICA
O enfermeiro como gestor de caso no tratamento das toxicodependências
CIÊNCIA E TÉCNICA
A importância do marketing e comunicação nos cuidados de saúde
CIÊNCIA E TÉCNICA
Princípios éticos como focos de atenção da prática dos enfermeiros : uma possível reflexão
CIÊNCIA E TÉCNICA
Análise do conceito de autonomia profissional em enfermagem segundo a metodologia de Walker e Avan
FORMAÇÃO
Supervisão clínica: que estratégias?
CIÊNCIA E TÉCNICA
Traumatismo crânioencefálico: Um trauma familiar - estudo de caso
VIVÊNCIAS
Enfermeira portuguesa na Índia: uma experiência para partilhar
EDITORIAL
A PROPÓSITO DA TOMADA DE DECISÃO CLÍNICA EM ENFERMAGEM
O conceito de decisão clínica em saúde tem actualmente um significado mais amplo dado o conhecimento das áreas de intervenção das diferentes disciplinas. Com o Regulamento de Exercício Profissional dos Enfermeiros e mais tarde com a definição do quadro conceptual, a Enfermagem clarificou as suas áreas de intervenção específica. Assim, nestes dois instrumentos estão definidas as áreas de intervenção autónomas e interdependentes.
No dia-a-dia, perante as situações de saúde das pessoas é exigido processos de tomada de decisão ao enfermeiro que implicam a utilização de habilidades, capacidades cognitivas e disposições afectivas. Naturalmente que, a sociedade e os outros profissionais que connosco trabalham esperam o uso de conhecimento e capacidades em enfermagem.
Élvio Jesus na sua tese de doutoramento, editada pela Formasau em 2006, chega à seguinte conclusão:
“do processo de decisão clínica de enfermagem fazem parte, basicamente, cinco grandes categorias de estratégias inerentes ao pensamento das participantes - interagir, intervir, conhecer a utente, resolver problemas e avaliar -, as quais ocorrem de modo contínuo, interrelacionado e dinâmico.
Inclui tanto o julgamento como a decisão. Foram identificados dois padrões de decisão clínica de enfermagem. O padrão A, revelador de um processo metódico, personalizado e de maior proximidade com as utentes, apresentando o padrão B um carácter mais funcional, menos sistemático e de relacionamento mais superficial com estas. Quando comparados estes padrões com os de habilidade cognitiva, constatámos, analogamente, dois padrões distintos, sendo um deles caracterizado por níveis mais elaborados de pensamento crítico e pensamento criativo, e menores índices de inteligência emocional, verificado no grupo B, e um outro, apresentando níveis menos elevados de pensamento crítico e de pensamento criativo e maiores níveis de inteligência emocional, característico do grupo A”.
Fica claro que o pensamento crítico, reflexivo, constitui uma ferramenta essencial no processo de decisão dos enfermeiros. Os cuidados de enfermagem de qualidade são prestados por enfermeiros, cujas decisões se revistam de pensamento crítico, sendo que uma boa prática é, intuitiva, pensada, autoconscienciosa e crítica. Por isso a necessidade dos enfermeiros pensarem de forma crítica nunca foi tão necessária.
O uso de pensamento crítico e da resolução de problemas no quotidiano facilita a utilização do processo de enfermagem ajudando os enfermeiros a tornarem-se mais autónomos e mais efectivos em todos os aspectos da vida e do trabalho e a melhorarem as suas decisões. O enfermeiro perito possui a habilidade mais elevada para se munir de elementos de decisão, tanto analíticos como intuitivos, o que lhe permite reconhecer rapidamente sinais clínicos relevantes, identificar as acções que são necessárias e os seus possíveis resultados, bem como ainda organizar, efectivamente, o envolvimento interdisciplinar nos cuidados ao utente.
Analisar o processo de decisão clínica de enfermagem é abordar uma parte importante do saber de enfermagem, sua construção, formação, especificidade e generalidade. É um campo profundamente relevante e actual, no âmbito dos saberes e das identidades dos profissionais, pois permite esclarecer condições centrais da qualidade de prestação de cuidados, mas também configurar referenciais mais sustentados do profissionalismo em enfermagem, com incidência tanto nos sistemas de formação como em dimensões organizativas e comunicativas dos contextos de trabalho que lhe são próprios.
Sabe-se que os modelos de organização do trabalho e os contextos profissionais influenciam decisivamente o processo de decisão clínica em enfermagem (Rebelo, T., 2002). Assumimos sistemas rotineiros de decisão que dado o contexto ou o modelo de organização do trabalho se tornam mais ou menos claros levando, sem pensar, a fazer sempre o mesmo procedimento, pensando que é a forma correcta e melhor para o cliente e consequentemente para a entidade que se representa, esquecendo-se algumas vezes a sua própria área disciplinar com desvantagem para o cliente.
Também no domínio da formação inicial, contínua e pós graduada, este assunto deve ser analisado com clareza, para que se formem profissionais capazes de tomar decisões fundamentadas nas situações clínicas que se lhe apresentam.
A Revista Sinais Vitais Nº 90, tem um conjunto de artigos no âmbito de áreas de decisão clínica por excelência. Salientamos, o tratamento de feridas, a intervenção domiciliária e o marketing no seu uso na alteração de comportamentos.
Boas leituras. Divulgue a Revista Sinais Vitais
Enf. Carlos Margato
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