Revista Sinais Vitais nº 94 Janeiro de 2011 |
SUMÁRIO
O tratamento de feridas: uma especialidade em enfermagem?
FERIDASAU
Hipergranulação: conhecer melhor, para melhor intervir
FERIDASAU
Cicatrizes hipertróficas e quelóides
FERIDASAU
Cirurgia plástica reconstrutiva em úlceras de pressão - estudo de caso
CIÊNCIA & TÉCNICA
A infecção nosocomial associada aos cateteres vasculares
FERIDASAU
Desbridamento de feridas : uma abordagem baseada na evidência
FERIDASAU
O tratamento de feridas e a sua história : uma abordagem global
FERIDASAU
PH no controlo do microambiente das feridas crónicas
EDITORIAL
No nosso país o tratamento de feridas foi sempre uma prática da responsabilidade dos enfermeiros em articulação com outras áreas disciplinares da saúde, nomeadamente a medicina e a farmácia. Esta realidade tem conduzido os enfermeiros a recriarem as suas práticas tornando-as cada vez mais focadas na evidência científica contribuindo para tal uma oferta formativa interessante, uma investigação em vias de desenvolvimento e o envolvimento das empresas farmacêuticas com igual um papel de relevo.
O conhecimento desenvolvido no domínio do tratamento de feridas é ainda insuficiente não existindo muitos RTCs (Randomised Controlled Clinical Trial). Isto deve-se talvez ao facto das feridas complicadas estarem presentes principalmente em pessoas que também têm outras doenças tornando-se difícil e dispendioso efectuar o tratamento e o grupo de controlo mutuamente comparável. Além disso, a extrapolação para outras indicações não é permitida.
Os resultados obtidos em pessoas saudáveis que apenas têm, por exemplo, uma ferida por abrasão, não podem sem motivo ser aplicados a alguém com uma úlcera venosa. Efectivamente, não existem evidências sólidas nos cuidados por esse motivo. Ainda assim, no tratamento de feridas utilizamos o termo Enfermagem Baseada em Evidências. No entanto, é de realçar um aspecto importante. Aquilo a que chamamos "evidências" são, na realidade, partes da informação adquirida na prática que sugerem que algo pode ou, pelo contrário, não pode ser verdade.
Quando coligidas, estas informações (evidências) apontam numa direcção específica: positiva ou negativa, através da qual se podem compilar uma grande quantidade de informações importantes. E quanto mais destas evidências forem compiladas, mais poderosas e valiosas se tornam. Se não existir qualquer evidência, é a opinião dos peritos numa especialidade que dá o mote. Em suma, a sua experiência prática com centenas ou milhares de doentes resultou numa "opinião de perito".
Nos últimos anos, tem existido muitos debates relevantes sobre inúmeras questões relacionadas com a gestão de feridas, associado à criação de grupos de trabalho multidisciplinares que têm conduzido à criação de Guidelines (condutas que são desenvolvidas a partir de um consenso envolvendo peritos, revisões literárias, pesquisas científicas, entre outros, visando práticas mais consistentes, eficazes e eficientes, possibilitando um melhor prognóstico) e claramente que os enfermeiros em todo o mundo têm tido um papel de liderança destes processos.
Com a recente publicação das competências específicas dos enfermeiros especialistas (Diário da República, 2.ª série - N.º 35 - 18 de Fevereiro de 201, pg. 8648 -8673), coloca-se frequentemente a necessidade de uma especialidade em tratamento de feridas.
Em minha opinião o modelo, que está subjacente à criação de especialidades em enfermagem agora publicadas, não tem a ver com contextos específicos de cuidados nem com patologias clínicas e devemos mantê-lo. Mas também reconheço a necessidade de se explicitar e reconhecer por parte da Ordem dos Enfermeiros a área do tratamento de feridas, até porque ela faz parte do dia a dia desta área disciplinar da saúde. Por isso, o que devemos reclamar à Ordem é o reconhecimento de competência acrescida no âmbito do tratamento de feridas, tornado esta área regulável quer ao nível da formação quer ao nível da prática clínica, garantido assim, junto dos cidadãos, que o Enfermeiro é o mais preparado para responder às suas necessidades.
Esta decisão poderia garantir e confirmar a posição da Enfermagem neste campo de intervenção da saúde das pessoas e ajustaria a moldura legal, necessária às reais competências e papel desempenhados pelos Enfermeiros e às decisões que eles tomam de forma sistemática na liderança dos processos terapêuticos e organizacionais.
Este número da Revista Sinais Vitais é dedicado ao Tratamento de Feridas. Esta decisão editorial prende-se com a relevância que este assunto tem para a saúde das pessoas, para a economia do país e para o papel que a enfermagem e os enfermeiros desempenham.
Carlos Margato, Enfermeiro
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HIPERGRANULAÇÃO: CONHECER MELHOR , PARA MELHOR INTERVIR
Revisão Sistemática da Literatura
Elsa Menoita
Enfermeira coordenadora do FERIDASAU. Coordenadora Pedagógica e Científica do II Curso
de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas
Cláudia Gomes
Enfermeira do Serviço de Medicina 2B do Hospital Curry Cabral. Aluna do II Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas (FERIDASAU)
Vítor Santos
Enfermeiro coordenador do FERIDASAU. Coordenador Pedagógico e Científico do II Curso
de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas
Ana Santos
Enfermeira do Centro Hospitalar do Oeste Norte e membro do grupo de Formação em feridas do CHON
RESUMO
O tecido de hipergranulação resulta da cascata de fenómenos celulares e moleculares desregulados na cicatrização das feridas crónicas/complicadas, ficando a mesma estagnada na fase proliferativa. Por outro lado, representa inviabilidade tecidular, devendo ser, portanto, gerido, controlado, de modo a promover a contracção da ferida, a migração das células epiteliais basais e reorganização das fibras de colagénio.
Na prática diária e mesmo na literatura científica encontra-se falta de consentaneidade no tratamento, precisamente porque não se conhece o fenómeno. Neste sentido, este artigo consiste numa revisão sistemática da literatura sobre a temática. Focaram-se as abordagens baseadas na evidência e as mais controversas, mas que alguns autores advogam. Palavras-Chave: Hipergranulação, TIME, Cicatrização
CICATRIZES HIPERTRÓFICAS E QUELÓIDES
ANA MARGARIDA SOUSA / VANIA LUISA GOMES
Enfermeiras do serviço de Cirurgia1/Urologia do Hospital Reynaldo dos Santos (Vila Franca de Xira). Alunas do II Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: uma abordagem de boas práticas (FERIDASAU)
RESUMO
As cicatrizes hipertróficas e quelóides são causadas pela excessiva deposição de colagénio durante o processo de cicatrização, como consequência de uma lesão na pele. Os quelóides encontram-se mais frequentemente na parte superior do corpo, pavilhão auricular, membros superiores e podem aparecer muitos anos após a lesão, ultrapassando os limites da cicatriz/ lesão original. As cicatrizes hipertróficas aparecem mais cedo que os quelóides mantendo-se dentro dos limites da cicatriz original e apresentam bons resultados com os tratamentos.
Ambas apresentam como sintomas: prurido, dor e são inestéticas. Os tratamentos disponíveis actualmente incluem: terapia compressiva, pensos de silicone, excisão cirúrgica, radioterapia, criocirurgia, administração de corticosteróides, laserterapia, etc.
Palavras-Chave Cicatrizes hipertróficas; quelóides
CIRURGIA PLÁSTICA RECONSTRUTIVA EM ÚLCERAS DE PRESSÃO
Estudo de Caso
Elsa Menoita
Enfermeira coordenadora do FERIDASAU. Coordenadora Pedagógica e Científica do II Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas; Especialidade de Enfermagem de Reabilitação
Joana Simão
Enfermeira no serviço de Medicina Interna - Unidade Funcional A do Centro Hospitalar Torres Vedras. Aluna do II curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas
Telma Abreu
Enfermeira no Centro de Saúde de Sintra Extensão São João das Lampas. Aluna do II curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas
Carlos Testas
Enfermeiro Especialista no Hospital Curry Cabral. Licenciado em Psicologia Social e das Organizações
Vítor santos
Enfermeiro coordenador do FERIDASAU e Coordenador Pedagógico e Científico do II Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas
Ana Sofia Santos
Enfermeira do Centro Hospitalar do Oeste Norte e membro do grupo de Formação em feridas do CHON.
Este artigo foi realizado no âmbito do curso de pós-graduação em gestão de feridas crónicas: uma abordagem de boas práticas (FERIDASAU).
RESUMO
O tempo de cicatrização de uma úlcera de pressão (UPr), com elevada perda tecidular, pode ser consideravelmente reduzido pela cirurgia reconstrutiva.
Este artigo não esgota a temática de reconstrução cirúrgica em UPr, contudo pretende oferecer uma abordagem global da pessoa com UPr com necessidade de cirurgia reconstrutiva. Pretende-se deixar explicito pela exposição do estudo de caso que, o sucesso efectivo da cirurgia reconstrutiva não depende unicamente do acto cirúrgico. É fundamental, o enfermeiro, não só, apostar nas medidas preventivas de novas UPr e de tratamento ao retalho, como, também, desenvolver um trabalho em equipa interdisciplinar, não descurando a pessoa com ferida.
Palavras-chave Cirurgia Plástica Reconstrutiva; Úlceras de Pressão.
A INFECÇÃO NOSOCOMIAL ASSOCIADA AOS CATETERES VASCULARES
Revisão Sistemática de Literatura
João Fonseca
Licenciado em Enfermagem. Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Exerce funções no Centro Hospitalar Barreiro Montijo - EPE, no Serviço de Urgência da Unidade do Montijo.
Nota: artigo republicado neste número. No número 93 da Revista Sinais Vitais saiu este mesmo artigo com o autor errado. As nossas desculpas aos envolvidos.
RESUMO
Objectivo: Identificar procedimentos dos profissionais saúde na prevenção da infecção nosocomial associada à utilização de cateteres vasculares. Metodologia: A pesquisa foi efectuada na base de dados ESBCO-CINHAL no período de 2004 a 2009.
Resultados: Verificou-se uma diminuição da taxa de infecção nosocomial através de procedimentos normalizados para colocação e manutenção dos cateteres vasculares. Conclusão: Uma percentagem considerável de infecções nosocomiais da corrente sanguínea adquiridas em meio hospitalar, estão associadas ao uso de dispositivos vasculares.
Palavras–Chave: Cateter, Infecção; Prevenção
DESBRIDAMENTO DE FERIDAS UMA ABORDAGEM BASEADA NA EVIDÊNCIA
Ana Sofia Teixeira Araújo Couto Santos
Enfermeira, Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON) / Membro do Grupo de Formação em Feridas (GFF) do CHON
Bruno Fernandes Cunha
Enfermeiro, CHON / Membro do GFF do CHON
José Manuel Costa Marques
Enfermeiro, CHON / Membro do GFF do CHON
Vítor António Soares Santos
Enfermeiro, CHON / Coordenador do GFF do CHON, Coordenador do Grupo FERIDASAU
RESUMO
A presença de tecido necrosado e desvitalizado, no leito da ferida, actua como meio ideal para a proliferação bacteriana e impede o processo de cicatrização, pelo que a actuação da equipa multidisciplinar deve passar pela rápida remoção do mesmo. Assim são apresentados os processos mais comuns utilizados na remoção de tecido inviável e que diminuem a carga bacteriana das feridas crónicas, sob a forma de uma linha orientadora para a prática profissional, tendo-se recorrido a revisões sistemáticas de literatura, com pesquisas nas bases de dados Nursing Reference Center database, Cochrane Database of Systematic Reviews, CINAHL e MEDLINE, de modo a legitimar a evidência obtida, com o maior rigor científico.
Palavras Chave: feridas, desbridamento, tipos de desbridamento
O TRATAMENTO DE FERIDAS E A SUA HISTÓRIA
Uma abordagem global
Sofia Costa
Enfermeira do Serviço de Cirurgia de Santa Maria / Aluna do II Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas (FERIDASAU)
Teresa Lopes
Enfermeira do Serviço de Medicina do Hospital dos Capuchos / Aluna do II Curso de Pós- Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas (FERIDASAU)
Elsa Menoita
Enfermeira coordenadora do FERIDASAU e Coordenadora Pedagógica e Científica do II Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas
Vítor Santos
Enfermeiro coordenador do FERIDASAU e Coordenador Pedagógico e Científico do II Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas
RESUMO
Perscrutando a História, verifica-se um recurso continuado de diversos produtos, acompanhados de práticas de tratamento de feridas, alguns considerados actualmente aberrantes, no entanto outros, ainda, hoje são utilizados. A História está marcada por práticas mágicas, por crenças religiosas e nomeadamente pelo empirismo, baseado em experiências práticas de tentativa e erro. Com o desenvolvimento da ciência, começou a haver uma maior aquisição deconhecimentos, nomeadamente na avaliação do estado da pele, da ferida e da própria pessoa.
Palavras-Chave: Feridas, História, Tratamento
PH NO CONTROLE DO MICROAMBIENTE DAS FERIDAS CRÓNICAS
Nota: artigo republicado neste número. No número 93 da Revista Sinais Vitais saiu este mesmo artigo com o autor errado. As nossas desculpas aos envolvidos.
ELSA CRISTINA PAZ CARVELA MENOITA
Coordenadora do Grupo FERIDASAU. Coordenadora Pedagógica e Científica da Pós-Graduação Gestão em Feridas Crónicas: Uma abordagem de Boas Práticas (FORMASAU)
VÍTOR ANTÓNIO SOARES SANTOS
Coordenador do Grupo FERIDASAU. Coordenador Pedagógico e Científico da Pós-Graduação em Gestão de Feridas Crónicas (FORMASAU)
ANA SOFIA TEIXEIRA ARAÚJO COUTO SANTOS
Enfermeira do Centro Hospitalar do Oeste Norte (CHON). Membro do Grupo de Formação em Feridas do CHON
CLÁUDIA PATRÍCIA SOARES GOMES
Enfermeira no Hospital Curry Cabral
RESUMO
As feridas crónicas que não cicatrizam continuam a representar um desafio aos profissionais de saúde.
O pH alcalino da ferida crónica pode afectar muitos factores, incluindo a libertação de oxigénio, a angiogénese, a actividade das proteases e a toxicidade bacteriana (GETHIN, 2007). Sendo assim, é fundamental a sua monitorização, contribuindo na determinação da resposta ao tratamento (GETHIN, 2007; SCHNEIDER, et al, 2007). Existe no mercado português algumas opções terapêuticas que permitem controlar o microambiente alcalino das feridas crónicas.
Palavras-Chave: pH, feridas crónicas, proteases, mel, maltodextrina, pomada moduladora de proteases