Revista Investigação em Enfermagem (2002), nº5 - Fevereiro: 3-25
Adaptação à paraplegia traumática
FERNANDO MANUEL DIAS HENRIQUES(*)
Palavras chave: Paraplegia; Deficiência motora; Adaptação, Lesão medular traumática.
Ao longo de alguns anos desenvolvemos a nossa actividade como enfermeiro num serviço onde pudemos constatar grandes diferenças na forma como as pessoas com Lesão Medular Traumática (LMT) encaravam as suas limitações físicas e como perspectivavam o futuro. Perante idênticas lesões e deficiências, algumas pessoas, davam sinais de superar quer física quer psicologicamente a sua deficiência, apresentando-se conformadas e perspectivando novas formas para a sua vida futura, enquanto outras se mostravam angustiadas e deprimidas desde o primeiro momento, não colaboravam nos cuidados, e pareciam não ser capazes de encarar o seu futuro. Tal como Gagnon (1996) perguntamo-nos, porque será que certos indivíduos conseguem bons níveis de readaptação funcional e social após um traumatismo vertebro-medular, enquanto que para outros, esse processo é muito mais difícil, mesmo que os níveis e o tipo da lesão sejam semelhantes. As lesões medulares traumáticas (LMT), apesar de terem uma incidência relativamente baixa comparativamente com outras patologias, atingem um número considerável de pessoas, constituindo uma situação trágica face à quase sempre irreversibilidade de algumas lesões, uma situação que surge de forma súbita e inesperada, numa população predominantemente masculina e na faixa etária dos 16 aos 30 anos como indica Lobosky (1996), o que pode levar a alterações profundas na capacidade de adaptação ao ambiente, com alteração da imagem corporal que o indivíduo construiu ao longo dos anos.
A paraplegia é uma deficiência em que a pessoa passa a utilizar uma cadeira de rodas, embora possam existir em alguns casos outras soluções, surgindo algumas alterações típicas nos aspectos fisiológicos. O indivíduo fica sem controle motor e sensitivo dos membros inferiores e de parte da região do tronco e abdómen, à qual se associam alterações nas funções vesical, intestinal e sexual, para além de outras, normalmente de dimensões mais desprezíveis. A deficiência significa desde logo diminuição, numa sociedade onde o ser saudável, robusto e ágil é valorizado face à fragilidade, inabilidade ou doença. Apesar dos muitos obstáculos, muitas pessoas conseguem altos níveis de adaptação e desenvolvem uma vida razoável, conseguindo desenvolver as actividades fundamentais à sua vida, superando a sua deficiência.
(*)Professor na ESEBB
Trabalho subsídiado pela Comissão de Fomento da Investigação em Cuidados de Saúde, Ministério da Saúde.