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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA LOUCURA - UMA ABORDAGEM QUALITATIVA
Luís Manuel de Jesus Loureiro(1); Carlos Augusto Amaral Dias(2)
Ricardo Jorge Oliveira Ferreira(3); Rui Oliveira Aragão(4)

Resumo
O relatório da OMS (2001), o Livro Verde (2005) da Comunidade Europeia ou ainda, no caso português, o relatório (2007) da Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental (CNRSSM), reconhecem, por um lado, o estigma e discriminação associados às doenças mentais, por outro que as intervenções na comunidade, mais próximas das pessoas são mais efec­tivas, o que implica um progressivo encerramento dos hospitais psiquiátricos. No entanto esse retorno é complexo pois diz respeito à controversa relação entre uns (sãos) e outros (doentes), daí que não se possa pensar numa sociedade «antropofágica» capaz de esquecer as barreiras simbólicas erigidas durante séculos e que tem perpetuado estereótipos dos doentes mentais como perigosos, imprevisíveis e incuráveis.
Partindo destas inquietações e recorrendo aos pressupostos subjacentes à teoria das representações sociais foi desenvolvido o presente estudo qualitativo tendo como objectivos descrever e analisar as representações sociais da loucura. Compreendeu 49 participantes residentes em quatro fregue­sias do concelho de Penacova (Lorvão; Penacova; São Pedro de Alva e Travanca do Mondego), tendo-se utilizado como instrumento de colheita de dados uma entrevista semi-estruturada e como modelo de análise qualitativa de dados uma adaptação das propostas de Spiggle (1994) e Miles & Huberman (1994). Os dados colhidos foram analisados a partir do software ATLAS.ti WIN 5.0. da Scientific Software Development GmbH.
Dos resultados salienta-se que o conceito de saúde significa silêncio do corpo, a doença desponta como uma avaria da máquina, ruído que se faz ouvir. Enquanto na doença o corpo fala porque está doente, na doença mental a verborreia torna-se contínua, é-se doente, distinção entre ser/estar do­ente, uma visão nebulosa que confunde e avoluma destino com doença, constituindo uma espécie de anátema. Emergem representações ancoradas nos conceitos de malevolência versus inocência, introjecção versus projecção. De um lado a imagem do esquizofrénico do outro a do deficiente mental, ou a imagem do deprimido oposta à do alcoólico.

Palavras-chave: Representações sociais, Loucura; Doença mental

(1) Professor Adjunto da ESEnfC - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
(2) Professor Catedrático da FPCE da Universidade de Coimbra.
(3) Enfermeiro no Serviço de Cirurgia Vascular dos HUC. Mestre em Sociopsicologia da Saúde
(4) Professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada