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Revista de Investigação nº 19

Fevereiro de 2009

 

Editorial

À procura da essência: síntese provavelmente redutora.
Paulo Joaquim Pina Queirós

SITUAÇÃO DO VIH/SIDA EM PORTU GAL E PROPOSTAS DE ENFRENTAMENTO
Problems related to HIV/AIDS in Portugal and the strategies proposals to their confrontation
Simone Helena Santos Oliveira; Margarida Silva Neves Abreu; Maria Grasiela Teixeira Barroso

SENTIMENTOS DO FAMILIAR CUIDADOR FACE À INTERVEN ÇÃO DO ENFERMEIRO DE REABILITAÇÃO
Feeling of the family caregiver in the face of intervention of rehabilitation nurse
Maria de Fátima Santos; Maria do Céu Pedro; Nuno Miguel da Silva Lopes; Tânia Sofia de Azevedo

QUEDAS DOS IDOSOS EM INTERNAMENTO HOSPITALAR: QUE PASSOS PARA A ENFERMAGEM?
Older inpatients falls: Which nursing steps?
Maria Nilza Guimarães Nogueira de Caldevilla; Maria Arminda Silva Mendes C. Costa

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO DAS CEFALEIAS EM AMBIENTE LABORAL DE ENFERMAGEM: ESTUDO EXPLORATÓRIO EM AMBIENTE HOSPITALAR
Epidemiological and clinical study of headaches in a nursing working environment: exploratory study in a hospital setting
Ana Filipa dos Reis Marques Cardoso; C. A. Fontes Ribeiro

OS COMPORTAMENTOS DE CUIDAR DOS ENFERMEIROS NA PERSPECTIVA DOS DOENTES
Nurse Caring Behaviours as Perceived by Patients
Isabel Maria Ribeiro Fernandes; Regina Sofia Simões Seco; Paulo Joaquim Pina Queirós

TRABALHO POR TURNOS E A VIDA FAMILIAR DE ENFERMEIROS: VIVÊNCIAS DOS PARCEIROS
Shiftwork and familiar life of nurses: Partner experience
Raquel Lourenço; Susana Ramos; Arménio Cruz

A PERSPECTIVA DOS EN FERMEIROS PORTUGUESES DOS CUIDADOS DE SA ÚDE PRIM ÁRIOS SOBRE A SEXUALIDADE DOS ADOLESCENTES : DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA ESCALA (E.P.E.P.C.S.P.S.A)
The perspective of portuguese nurses primary health care nurses on adolescent’s sexuality: development and validation of a scale (E.P. E. C. S. P. S. A.)
Manuel Alberto Morais Brás; Zaida de Aguiar Sá Azeredo

ACIDENTES DE TRABALHO NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE DO DISTRITO DE BRAGANÇA
Work Accidents In health Institutions of Bragança District
Matilde Delmina da Silva Martins

 

 

EDITORIAL

À procura da essência: síntese provavelmente redutora

I

O que é a enfermagem?
Muitas são as definições que poderemos encontrar para o enquadramento actual da enfermagem. De certo que uma evolução histórica dos conceitos estará intimamente ligada à evolução conceptual e prática da enfermagem, também por certo aquilo que se possa hoje pensar para definir o que é a enfermagem, não estará afastado do desenvolvimento das ciências no seu todo e particularmente das que lhe estão mais perto. O que é certo, é que o mundo e as suas cognições são plurais e complexas e daí que definir algo que é por essência humano – a enfermagem -, possa sem que nenhum mal venha a este mundo ser também plural e complexo.
No entanto no meio da diversidade e complexidade o esforço de síntese torna-se essencial, assumindo-se desde logo, e à partida, como redutor. De facto quando nos perguntam - O que é a enfermagem? -, não esperam de nós divagações teóricas, de grande folgo, mas de preferência definições numa frase que seja suficientemente inteligível, caracterizadora e diferenciadora. Aí reside a grande dificuldade, mas tentemos.
A enfermagem é uma profissão e uma disciplina científica. Tudo bem, carece de demonstração.

II

A enfermagem uma profissão? Não parece ser difícil a sua argumentação. A enfermagem dá lugar a uma actividade prática estruturada, que necessita de ser aprendida e ensinada, organizando-se num corpo de pares de ofício, sendo socialmente reconhecida, bem como é regulada, tutelada e controlada no seu desempenho.

A profissão de enfermagem é objecto de um corpo legislativo e regulamentar específico: Carreira de Enfermagem do SNS; Carreiras dos particulares; Regulamento do Exercício Profissional de Enfermagem; Código Deontológico; Competências do Enfermeiro de Cuidados Gerais. A profissão de enfermagem conta com órgãos institucionais próprios: Ordem dos Enfermeiros; Sindicatos; Associações Profissionais e Sociedades.

III

A enfermagem uma disciplina científica? Carece na mesma a sua demonstração. Afirmar-se que determinado saber é uma disciplina científica implica identificar objecto, objectivos, finalidades, propósitos e características de conhecimento ao mesmo tempo singulares, suficientemente próprias e diferenciadoras de outras, sobretudo das que lhe estão próximas. Será assim possível identificar os aspectos enunciados para caracterizar a enfermagem como disciplina científica?
Simplificando poderíamos dizer:

 

A enfermagem tem como objecto as vivências humanas nos processos de transição (desenvolvimentais, situacionais e de saúde-doença). Como objectivo conhecer as experiências das pessoas nos processos de transição, com o propósito de cuidar1 nesses processos, e a finalidade de facilitar os processos de transição no sentido de se alcançar uma maior sensação de bem-estar (Meleis & Trangenstein, 1994).

Para isso as características do conhecimento específico em enfermagem assentariam em oito padrões fundamentais de conhecimento: empírico, estético, pessoal, ético, processual, relacional, cultural e tácito (Abreu, 2007). O sentido que é dado a cada um destes padrões de conhecimento é explicitado por Wilson Abreu na obra citada. Empírico alicerçando-se em evidências científicas. Estético no que respeita à qualidade resultante da “arte”, forma diferenciada de bem-fazer. Pessoal pelos contactos personalizados e individualizados. Ético reportando-se ao conhecimento moral e resolução de dilemas. Processual porque resulta de algo sistematizado, assente num raciocínio conducente à tomada de decisão e com uma linguagem própria. Relacional porque decorre na interacção individual ou de grupo. Cultural porque tem em conta as diferenças e as características individuais. Tácito porque também construído na prática, espontâneo e intuitivo.

IV

No meio deste arranjo e desta facilidade subsiste um problema. A singularidade, se quiserem a identidade. Baseando nos na perspectiva da psicologia social de Eric Erikson para identificar qualquer objecto é necessário segundo este autor: 1) Distingui-lo de qualquer outro objecto; 2) Atribuir-lhe um significado; Conferir-lhe um valor.
Ou seja, a questão primordial é a das características próprias que permitem definir um domínio, com um núcleo relativamente autónomo, ainda que de contornos e fronteiras partilhantes com conhecimentos afins. O que nos remete mais uma vez para a natureza do conhecimento em enfermagem.
Em segundo lugar, a identidade advém do significado que lhe é atribuído, ou seja, o que significa a enfermagem. Esta questão terá uma resposta endógena e exógena. Com certeza, os milhares de profissionais encontram um sentido específico para a sua actividade prestadora de cuidados, - o seu cuidar. Esse sentido é suficientemente forte e estruturado verificando-se na coesão, traduzida nas formas de fazer e nas práticas de grupo resistente ao fluir do tempo cronologicamente marcado na já longa evolução secular.
Este significado traduz-se, em última instancia, na representação mental que os próprios enfermeiros constroem da enfermagem. Por outro lado, o significado exógeno atribuído, desenvolve-se nos quadros conceptuais que externos, utentes e cidadãos em geral, fazem da enfermagem.
Por último, e de grande interesse, a equação do valor que lhe é atribuído. Neste tópico, importa discutir o reconhecimento social, a expectativa da prestação de serviço, os ganhos (em saúde) expectáveis desta actividade e a demonstração dos ganhos reais que lhe podem ser atribuídos, como se refere e bem na actualidade, os “resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem”.

Continuemos.

Paulo Joaquim Pina Queirós

 


 

 

SITUAÇÃO DO VIH/SIDA EM PORTUGAL E PROPOSTAS DE ENFRENTAMENTO

Simone Helena dos Santos Oliveira(1)
Margarida da Silva Neves Abreu(2)
Maria Grasiela Teixeira Barroso(3)

Resumo
O objetivo do presente estudo foi identificar os principais problemas relacionados ao HIV/SIDA em Portugal e as estratégias propostas para o seu enfrentamento. Estudo exploratório, de natureza documental, em que foi analisado o Plano Nacional de Saúde 2004-2010. Foram identificados quatro problemas relacionados à infecção por HIV/SIDA: mudança na situação epidemiológica; verticalização das acções; desarticulação com outros sectores e atenção inadequada às necessidades de saúde de grupos específicos. Para estes problemas foram relacionadas as seguintes orientações estratégicas: melhorar o conhecimento da situação epidemiológica, reduzir a transmissão do HIV /SIDA, melhorar o apoio aos portadores e monitorizar os riscos de transmissão vertical e no ambiente prisional; fortalecer um modelo mais integrado de intervenção; reconhecer a importância estratégica do envolvimento ampliado de diversos sectores da sociedade, e promover intervenções prioritárias em grupos populacionais específicos. Aos organismos governamentais cabe a concretização de estratégias que venham quebrar o ciclo de propagação do HIV /SIDA entre a população, requerendo para isso a efetiva participação dos diversos segmentos sociais

Palavras-chave: HIV, SIDA, Estratégias

(1) Doutoranda. Bolsista CAPES. Professora da Universidade Federal da Paraíba/Brasil.
(2) Doutora. Professora da Escola Superior de Enfermagem do Porto/Portugal.
(3) Doutora. Professora da Universidade Federal do Ceará/Brasil.

 


 

SENTIMENTOS DO FAMILIAR CUIDADOR FACE À INTERVENÇÃO DO ENFERMEIRO DE REABILITAÇÃO

Maria de Fátima Santos(1);
Maria do Céu Pedro(2);
Nuno Miguel da Silva Lopes(3);
Tânia Sofia de Azevedo(4)

Resumo
Existe uma tendência crescente para transferir o cuidar para o domicílio responsabilizando assim o familiar cuidador como base do cuidar, assegurando a grande parte da assistência a esse nível.
Da nossa experiência profissional constatamos que a Enfermeiro de Reabilitação assume um papel primordial no processo interactivo pessoa dependente/familiar cuidador, provocando neste um conjunto de sentimentos e significados face à sua intervenção.
Desta forma quisemos compreender os sentimentos do familiar cuidador face às intervenções do Enfermeiro de Reabilitação, com a perspectiva de reflectir o papel do Enfermeiro de Reabilitação neste processo interactivo. Tendo por base as narrativas dos participantes, foi efectuada uma reflexão fenomenológica interpretativa e hermenêutica, através da qual determinámos quais as unidades temáticas de acordo com Van Manen.
Dos significados atribuídos pelos cuidadores familiares, à intervenção do Enfermeiro de Reabilitação, emergiram duas unidades temáticas que considerámos como sentimento de Segurança e de Respeito.
Ao relacionarmos estas unidades, verificámos que o sentimento de Segurança é influenciado pelo sentimento de Respeito e que ambos contribuem para o significado que os familiares cuidadores atribuem à intervenção do enfermeiro de reabilitação.
Concluímos dessa forma que os participantes ao atribuírem um significado a essa intervenção basearam-se essencialmente na informação, nas competências profissionais, na ajuda disponibilizada e na eficácia do programa terapêutico, tendo sido manifestados através de sentimentos como confiança, tranquilidade, gratidão, satisfação e valorização.
Pensamos que os Enfermeiros de Reabilitação, tendo em conta a visibilidade e a posição que ocupam na equipa deverão reflectir nesses sentimentos de forma a manterem ou alterarem comportamentos e atitudes com a finalidade de ajudar a promover a autonomia do familiar cuidador e a diminuir a sobrecarga existente.

Palavras-chave: Sentimentos; Familiar cuidador; Intervenção do Enfermeiro de Reabilitação

(1) (3) (4) Enfermeiros. Pós-licenciados em Enfermagem de Reabilitação. Hospitais da Universidade de Coimbra.
(2) Enfermeira. Pós-licenciada em Enfermagem de Reabilitação. Hospital de Macedo de Cavaleiros.

 


 

QUEDAS DOS IDOSOS EM INTERNAMENTO HOSPITALAR: QUE PASSOS PARA A ENFERMAGEM?

Maria Nilza Guimarães Nogueira de Caldevilla(1)
Maria Arminda Silva Mendes C. Costa(2)

Resumo
A queda é frequentemente a primeira indicação de doença não detectada no idoso1. Na Europa, 50% dos idosos institucionalizados caiem pelo menos uma vez por ano1 e mais de 40% caiem várias vezes. Pelo que evitar a queda é uma conduta de boa prática profissional e um indicador de qualidade dos serviços, seja em hospitais ou lares. O risco de cair aumenta proporcionalmente com a idade, pelo que implementar estratégias de prevenção, desenhar protocolos de intervenção e avaliar o risco de queda dos idosos em internamento hospitalar, são algumas das actuações que os enfermeiros devem desenvolver. Em Portugal, é forçoso melhorar os cuidados aos idosos.

Palavras-chave: Quedas, Risco de queda, Idosos, Prevenção de quedas, Instrumentos de avaliação de quedas.

(1) Professora-Adjunta na ESEP. Mestre em Saúde Pública. Doutoranda em Ciências de Enfermagem
(2) Doutora em Ciências da Educação. Professora Associada Convidada do ICBAS

 


 

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO DAS CEFALEIAS EM AMBIENTE LABORAL DE ENFERMAGEM: ESTUDO EXPLORATÓRIO EM AMBIENTE HOSPITALAR

Ana Filipa dos Reis Marques Cardoso(1)
C. A. Fontes Ribeiro (2)

Resumo
Numerosos estudos apontam para uma elevada prevalência das cefaleias em meio laboral. Todavia, pouco é sabido, de forma objectiva, sobre o impacto dos diferentes tipos de cefaleias na perda efectiva de dias de trabalho e redução da produtividade. O estudo vertente pretendeu identificar, num grupo de enfermeiros, a prevalência de cefaleias e respectivos tipos, os factores desencadeantes, agravantes e adjuvantes associados a cefaleias nos enfermeiros, os factores relacionados com a actividade profissional que podem constituir causa de cefaleias e ainda avaliar o absentismo por cefaleias.
Foi utilizado como instrumento de colheita de dados, um questionário desenvolvido para o estudo baseado no utilizado por Monteiro (1995). Aplicou-se a 445 enfermeiros do Hospital Geral do Centro Hospitalar de Coimbra, no período de Junho a Outubro de 2005, ao qual responderam 201 enfermeiros. A classificação das cefaleias foi feita com base nos critérios de diagnóstico do International Headache Society (IHS) de 2004.
Os resultados evidenciam uma prevalência das cefaleias ao longo da vida de 79,6% (n=160). Os tipos de cefaleias com maior prevalência foram as cefaleias do tipo tensão episódicas frequentes (26,9%) e a enxaqueca sem aura (19,4%). Cinco por cento (n=8) dos 160 enfermeiros que referiram ter cefaleias faltou ao trabalho por este motivo.
Quarenta e cinco por cento dos enfermeiros considerou que as cefaleias estavam relacionadas com a sua actividade profissional. O stresse, trabalho por turnos, excesso de trabalho, alterações do ritmo de sono, muitas horas seguidas de trabalho, falta de arejamento do serviço e ruído ambiente assumem-se como os principais factores desencadeantes identificados pelos enfermeiros. O consumo de medicamentos devido a cefaleias foi elevado (85,6%) e a auto medicação muito frequente (87,6%). A consulta ao médico foi feita por 22,5%, principalmente ao neurologista. Dado o baixo nível de absentismo, o estudo indica que os enfermeiros mantêm as suas funções, apesar das dificuldades causadas pelas cefaleias (presenteísmo), podendo o recurso à automedicação justificar este achado.

Palavras-chave: Cefaleias; Enfermeiros; Absentismo laboral; Factores desencadeantes das cefaleias ligados ao trabalho.´

(1) Licenciada em Enfermagem. Mestre em Saúde Ocupacional. Enfermeira Graduada em comissão extraordinária de serviço na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
(2) Professor Auxiliar com Agregação de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

 


 

OS COMPORTAMENTOS DE CUIDAR DOS ENFERMEIROS NA PERSPECTIVA DOS DOENTES

Isabel Maria Ribeiro Fernandes(1)
Regina Sofia Simões Seco(2)
Paulo Joaquim Pina Queirós(3)

Resumo
Considerou-se importante recolher informação por parte dos doentes, de forma a avaliar o comportamento de cuidar dos enfermeiros, com vista à excelência de cuidados e à satisfação dos doentes e dos profissionais de saúde.
Realizou-se um estudo descritivo-correlacional em que se analisa a relação entre as variáveis sócio-demográficas e clínicas dos doentes com a percepção dos comportamentos de cuidar dos enfermeiros, numa amostra de conveniência de 45 doentes, internados em três serviços do IPOCFG – EPE.
Os dados foram recolhidos por um questionário composto por questões sócio-demográficas e clínicas e pelo Inventário de Comportamentos de Cuidar (ICC).
Conclui-se globalmente que os doentes percepcionam os comportamentos de cuidar dos enfermeiros independentemente de variáveis sócio-demográficas e clínicas. Não é pelo facto de os utentes serem masculinos ou femininos, casados, solteiros, viúvos ou divorciados, terem ou não a escolaridade obrigatória que diferenciam os comportamentos de cuidar dos enfermeiros. Tão pouco é por estarem a ser atendidos em diferentes unidades prestadoras de cuidados, a ser internados pela primeira vez, ou num internamento recorrente, por um grau de satisfação bom ou muito bom, que os comportamentos de cuidar dos enfermeiros se diferenciam de forma significativa na percepção dos doentes.

Palavras-chave: Enfermeiros; Doentes; Comportamentos de Cuidar; Satisfação

(1) Licenciada em Enfermagem, Mestre em Sociopsicologia da Saúde, doutoranda em Enfermagem, IPOCFG, EP - Coimbra
(2) Licenciada em Enfermagem. IPOCFG, EP - Coimbra
(3) Professor Coordenador na ESEnfC

 


 

TRABALHO POR TURNOS E A VIDA FAMILIAR DE ENFERMEIROS: VIVÊNCIAS DOS PARCEIROS

Raquel Lourenço (1)
Susana Ramos (2)
Arménio Cruz (3)

Resumo
As implicações do trabalho por turnos na saúde e bem-estar nos enfermeiros que trabalham neste sistema estão confirmadas pela comunidade científica. No entanto, o reflexo daquele sistema de trabalho na dinâmica familiar tem sido pouco estudado. Por isso, decidimos conhecer e interpretar as vivências dos parceiros de Enfermeiros que trabalham por turnos, em termos de implicações na sua vida familiar.
Este estudo é de natureza qualitativa, segundo uma abordagem fenomenológica, no qual participaram nove cônjuges de enfermeiros (as). A colheita de dados foi feita através de entrevistas semi-estruturadas, que foram gravadas em suporte áudio e, posteriormente, transcritas na íntegra, tendo sido utilizada a variante de Collaizzi para a análise e interpretação das mesmas.
Na sequência das unidades de significação, categorias e temas constituídos, salientamos que, embora sejam relatadas pelos parceiros implicações ao nível dos filhos, do próprio casal, no desempenho das tarefas domésticas e implicações decorrentes do tipo de turno realizado, os casais socorrem-se de estratégias que lhes permitem colmatar as dificuldades sentidas, conseguindo encontrar reflexos positivos na dinâmica familiar decorrentes deste regime de trabalho.
De um modo geral, os nossos informantes mencionam que se adaptaram ao regime de trabalho dos cônjuges, sendo os filhos uma prioridade nas suas tomadas de decisão, embora os estudos realizados remetam para os efeitos desorganizadores na vida social e familiar dos trabalhadores (Melo, 2001; Fernandes et al., 2002).

Palavras-chave: Trabalho por turnos, Enfermeiros, Parceiros de Enfermeiros, Família.

(1) MS, Enfermeira, Serviço Medina III, HUC
(2) PhD, Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade de Coimbra
(3) PhD, Professor Coordenador, ESEnfC.

 


 

A PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS PORTU GUESES DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS SOBRE A SEXUALIDADE DOS ADOLESCENTES: DESENVOLVIMENTO E VALIDA ÇÃO DE UMA ESCALA (E.P.E.P.C.S.P.S.A)

Manuel Alberto Morais Brás (1)
Zaida de Aguiar Sá Azeredo (2)

Resumo
O artigo abaixo descreve o estudo realizado com o objectivo de desenvolver e validar para a população de enfermeiros portugueses dos Cuidados de Saúde Primários, o instrumento de medição da perspectiva dos enfermeiros sobre a sexualidade dos adolescentes (Escala da Perspectiva dos Enfermeiros Portugueses dos Cuidados de Saúde Primários. Sobre a Sexualidade dos Adolescentes). A amostra foi constituída por 1735 enfermeiros de 226 Centros de Saúde de Portugal Continental e das Regiões autónomas da Madeira e Açores. A análise psicométrica foi realizada por meio de um estudo de confiabilidade e a validade das medidas obtidas com o instrumento. Os resultados obtidos para a confiabilidade, por meio do Coeficiente Alpha de Cronbach (α=0,52), e validades de conteúdo, simultânea e de constructo; demonstram boa consistência interna. Desta forma, este estudo coloca ao dispor dos investigadores, uma ferramenta acerca da perspectiva dos enfermeiros portugueses dos cuidados de saúde primários sobre a sexualidade dos adolescentes.

Palavras-chave: Sexualidade, Adolescência, Enfermagem, Confiabilidade, Validade

(1) Escola Superior de Saúde de Bragança – Instituto Politécnico de Bragança
(2) Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) – Universidade do Porto

 


 

ACIDENTES DE TRABALHO NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE DO DISTRITO DE BRAGANÇA

Matilde Delmina da Silva Martins(1)

Resumo

O tipo de actividade profissional e as condições em que é desempenhada constituem factores determinantes do risco para a saúde dos trabalhadores. As últimas estatísticas do DRHS sobre acidentes de trabalho nas instituições de saúde, apontam para um aumento da incidência de acidentes e, consequentemente, para o aumento do absentismo laboral e dos encargos que lhe são inerentes.
Com o objectivo de obter elementos necessários a uma correcta análise dos acidentes de trabalho nas instituições de saúde do distrito de Bragança, no período de 1996 a 2001, nomeadamente identificação das características do acidentado e do próprio acidente, desenhamos um estudo retrospectivo, a partir da análise dos registos dos inquéritos sobre acidentes de trabalho do DRHS, referente a 223 trabalhadores.
Os resultados revelaram um aumento progressivo da incidência dos acidentes de trabalho. O grupo profissional responsável pelo maior número de acidentes foi o dos enfermeiros (45,3%), o grupo etário mais acidentado foi entre os 45-49 anos, relativamente ao tempo de serviço, o maior número de acidentes aconteceu em pessoas com mais de 10 anos de serviço (64,12%), e a principal causa de acidente foi a picada de agulha (36,3%). Os factores que contribuíram significativamente (p<0,000) para acidente com baixa, influenciando a média de dias perdidos, foram a idade superior a 45 anos, o baixo nível habilitacional, o desempenhar tarefa em horário fixo, os acidentes por quedas e as lesões músculo-esqueléticas.
Os Odds Ratios e respectivos IC a 95% demonstraram que os trabalhadores com lesões músculo-esqueléticas apresentam um risco maior de ter acidente com baixa (OR=18,113; IC=7,786-42,135). O possuir habilitações superiores ao 12º ano e o praticar horário por turnos revelaram-se factores protectores (OR=0,325 e OR=0,451 respectivamente).

Palavras-chave: Acidentes de trabalho, Riscos profissionais, Saúde ocupacional

(1) Licenciada em Enfermagem. Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Mestre em Saúde Pública. Assistente de 1º Triénio na Escola Superior de Saúde de Bragança