ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO DAS CEFALEIAS EM AMBIENTE LABORAL DE ENFERMAGEM: ESTUDO EXPLORATÓRIO EM AMBIENTE HOSPITALAR
Ana Filipa dos Reis Marques Cardoso(1)
C. A. Fontes Ribeiro (2)
Resumo
Numerosos estudos apontam para uma elevada prevalência das cefaleias em meio laboral. Todavia, pouco é sabido, de forma objectiva, sobre o impacto dos diferentes tipos de cefaleias na perda efectiva de dias de trabalho e redução da produtividade. O estudo vertente pretendeu identificar, num grupo de enfermeiros, a prevalência de cefaleias e respectivos tipos, os factores desencadeantes, agravantes e adjuvantes associados a cefaleias nos enfermeiros, os factores relacionados com a actividade profissional que podem constituir causa de cefaleias e ainda avaliar o absentismo por cefaleias.
Foi utilizado como instrumento de colheita de dados, um questionário desenvolvido para o estudo baseado no utilizado por Monteiro (1995). Aplicou-se a 445 enfermeiros do Hospital Geral do Centro Hospitalar de Coimbra, no período de Junho a Outubro de 2005, ao qual responderam 201 enfermeiros. A classificação das cefaleias foi feita com base nos critérios de diagnóstico do International Headache Society (IHS) de 2004.
Os resultados evidenciam uma prevalência das cefaleias ao longo da vida de 79,6% (n=160). Os tipos de cefaleias com maior prevalência foram as cefaleias do tipo tensão episódicas frequentes (26,9%) e a enxaqueca sem aura (19,4%). Cinco por cento (n=8) dos 160 enfermeiros que referiram ter cefaleias faltou ao trabalho por este motivo.
Quarenta e cinco por cento dos enfermeiros considerou que as cefaleias estavam relacionadas com a sua actividade profissional. O stresse, trabalho por turnos, excesso de trabalho, alterações do ritmo de sono, muitas horas seguidas de trabalho, falta de arejamento do serviço e ruído ambiente assumem-se como os principais factores desencadeantes identificados pelos enfermeiros. O consumo de medicamentos devido a cefaleias foi elevado (85,6%) e a auto medicação muito frequente (87,6%). A consulta ao médico foi feita por 22,5%, principalmente ao neurologista. Dado o baixo nível de absentismo, o estudo indica que os enfermeiros mantêm as suas funções, apesar das dificuldades causadas pelas cefaleias (presenteísmo), podendo o recurso à automedicação justificar este achado.
Palavras-chave: Cefaleias; Enfermeiros; Absentismo laboral; Factores desencadeantes das cefaleias ligados ao trabalho.´
(1) Licenciada em Enfermagem. Mestre em Saúde Ocupacional. Enfermeira Graduada em comissão extraordinária de serviço na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
(2) Professor Auxiliar com Agregação de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.