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A visibilidade dos Cuidados de Enfermagem 

Agora que terminou o verão e com as baterias carregadas é altura de nos preocuparmos com o desenvolvimento da profissão. Estamos num momento crucial de afirmação social, de confirmar à sociedade a razão de ser da nossa profissão e da necessidade de existir uma formação sólida que capacite cada um dos enfermeiros para tomar decisões na sua pratica clínica.Que os cuidados de enfermagem são imprescindíveis ninguém tem dúvidas, onde se situam as dúvidas é na visibilidade dos contributos dos cuidados na saúde da comunidade, quando nos situamos em contextos de análise social e politica de saúde. Objectivamente não conseguimos hoje avaliar quanto e em que medida o saber dos enfermeiros veiculado pela própria disciplina contribui para ganhos em saúde das populações, apesar de todos “sabermos” que contribuímos imenso nos diferentes indicadores.Contribui para este facto alguns condicionantes, nomeadamente, a juventude da disciplina de enfermagem; a hegemonia da disciplina medicina na prática clínica; o valor que a população atribui ao trabalho dos enfermeiros; o valor que os próprios enfermeiros atribuem ao seu papel; o modelo em uso na formação inicial dos enfermeiros; o modelo em uso prática clínica de enfermagem; a organização do trabalho centrada na tarefa; as práticas de gestão de cuidados centrada no limitado aproveitamento do potencial de cada colaborador; a limitada utilização de uma linguagem comum; a ausência de um sistema de informação em saúde e a limitada utilização dos sistemas informatizados de apoio à prática de enfermagem.Muitos destes condicionantes já foram identificados em diferentes contextos por grande parte dos enfermeiros, dos docentes e das organizações Sindicais e Ordem. Denota-se no entanto, falta de determinação e o espírito de classe que, durante a última metade do século passado, possibilitou à enfermagem uma afirmação sem paralelo no panorama das profissões emergentes no nosso país.É altura de eleger estrategicamente as áreas prioritárias da saúde da população, onde é forçoso intervir com uma acção concertada de forma a potenciar os recursos existentes mas simultaneamente poder fazer prova dessa intervenção através de um sistema de documentação devidamente sistematizado e organizado.No que respeita à nossa posição e à posição que já vi escrita por de algumas estruturas responsáveis da profissão, parece haver consenso relativamente à utilização de uma linguagem classificada internacionalmente para melhorar a comunicação entre os enfermeiros e os outros profissionais, para descrever de forma rigorosa os cuidados de enfermagem para efeitos de avaliação ou seja, para obtermos indicadores de processo e de resultado. Para que isso seja possível é necessário desenvolver um sistema de informação em enfermagem a nível nacional e dispor de um resumo mínimo de dados de enfermagem para diferentes propósitos, nomeadamente a avaliação da qualidade e continuidade de cuidados, produção de diversos indicadores, a formação e investigação.Neste sentido, todos (instituições de cuidados e de formação, Ordem, Sindicatos e outras instituições) temos que dirigir o nosso esforço nos próximos cinco anos para que seja possível colocar de pé a ideia de utilizar uma linguagem comum na prática clínica e de ter um sistema de informação que retrate a concepção de cuidados e nos permita tornar visível o que fazemos em prol da saúde das cidadãos do nosso país.

Carlos Margato
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