Transição do doente dependente para a família
Autores: Ana Cristina Almeida, Márcia Rodrigues, Mónica Miranda e Ricardo Monteiro
RESUMO
A família desempenha um papel fundamental na garantia da continuidade de cuidados. Assim, centrarmos os nossos cuidados na díade doente/família, passando, por exemplo, por um planeamento de alta clínica efectivo, constitui um instrumento básico para optimizar a capacidade da família para o cuidar e minimizar os efeitos negativos inerentes a um processo de transição do internamento hospitalar para o domicílio.
A questão central que orientou o nosso estudo diz respeito ao doente dependente e ao cuidador principal. Procurámos averiguar se existia relação entre o grau de dependência do doente e a sua transição para o contexto familiar. Enveredámos por um estudo longitudinal, recaindo a nossa opção metodológica na triangulação dos métodos quantitativo e qualitativo. O estudo foi realizado utilizando como população as doentes do serviço de Ortopedia II do Hospital de Santarém, S.A., que se encontravam internadas nos meses de Junho, Julho e Agosto. Daqui foi constituído um painel com vinte e nove doentes, ao qual chamámos amostra primária e, posteriormente, seleccionámos a amostra secundária, constituída por três díades doente dependente/cuidador principal. Os métodos utilizados na recolha de dados foram o Índice de Barthel, o questionário e a entrevista não directiva. No tratamento dos dados utilizámos a estatística descritiva e a análise de conteúdo.
Palavras-chave: Transição; planeamento da alta; grau de dependência; cuidador principal.
INTRODUÇÃO
As transformações políticas e sociais que têm ocorrido no nosso país, nos últimos anos, levaram à constante reorganização dos cuidados de saúde. No entanto, várias situações vão-se mantendo inalteradas; por vezes ganham novos contornos, mas a essência do problema continua a prevalecer. É o que podemos verificar na transição de doentes dependentes para a família. Se durante o internamento hospitalar, todos os aspectos relacionados com dependência assumem um carisma problemático, no momento da alta que, na maioria das vezes, se efectua de forma precoce, atingem um carácter ainda mais complexo, o que facilmente se justifica pela escassez de recursos na comunidade e pelas dificuldades sentidas pela família, quando esta assegura o papel de cuidador.
O familiar cuidador, tal como refere AUGUSTO e outros (2002:63), apresenta “uma responsabilidade acrescida e uma sobrecarga de trabalho, (...), sem que nada lhe possamos oferecer como incentivo/reconhecimento do seu esforço, à semelhança do que acontece na maioria de outros países, onde existem redes de apoio à família aos mais variados níveis.”
A reflexão sobre esta realidade levou-nos a formular a questão central para a orientação do nosso estudo: “Existirá relação entre o grau de dependência e a transição do doente dependente para a família?”
Traçámos como objectivos:
Verificar se existe relação entre o grau de dependência e a transição do doente dependente para a família;
Identificar as dificuldades encontradas na transição do doente dependente para a família.
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