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A Conspiração do Silêncio – sua caracterização e implicação nos cuidados de saúde
Ana Margarida Loff de Almeida (Enfermeira)
Maria José Viana de Almeida
(Enfermeira)

RESUMO
Abundantemente referenciada na bibliografia sobre comunicação de más notícias, a conspiração do silêncio é caracterizada por motivações, sentimentos e atitudes, que são multidireccionais entre doentes, familiares/pessoas significativas e os próprios profissionais, os quais se vêem envolvidos num dilema caracterizado pela ponderação entre os príncipios éticos de benificência/autonomia versus não maleficência/ justiça. O artigo pretende caracterizar o que se designa por conspiração do silêncio, sublinhando os seus efeitos e apresentando alguns exemplos do nosso quotidiano.
Quando habitualmente falamos de conspiração do silêncio, associamo-la à prestação de cuidados de saúde aquando da comunicação de más notícias, geralmente a explicação de um diagnóstico grave com prognóstico reservado, implicando uma situação constrangedora e sobretudo muito incómoda para todos, pretendendo-se atenuar a dureza da verdade dita ao doente visado e/ou à sua família. Esta chamada conspiração do silêncio está abundantemente referenciada em bibliografia, mas raramente está caracterizada de forma precisa.
De uma forma geral a conspiração do silêncio está conotada com a prestação de cuidados em fim de vida, o que pode ser explicado pelo facto, de até à primeira metade do Séc. XX, na área da saúde, haver a crença paternalista de que as más notícias desencadeiam angustia no doente em vez de lhe manter a esperança, e por isso devem ser evitadas e a verdade dolorosa omitida…
Com a liberalização da Medicina e da Enfermagem e o desenvolvimento dos Movimentos a favor do poder dos doentes (cidadania, direitos), veio-se gradualmente a mudar esta convicção, assistindo-se nos dias de hoje, à reclamação da qualidade na assistência em saúde, ao acesso a toda a informação necessária à tomada de decisão e à prestação humanizada de cuidados de saúde. Apesar disso, na Europa Latina, apenas recentemente se fizeram estudos sobre a posição assumida pelo doente face à informação fornecida, revelando que ela é ambígua, pouco clara e incompleta. Esta situação será influenciada pela ausência de normas explícitas e detalhadas que impõem a obrigatoriedade de informar os doentes, o que conduz a que o termo “verdade” seja transformado em “verdade possível”, sinónimo de Prudência.

Palavras-chave: Comunicação; Conspiração do silêncio;Omissão; Verdade; Dilema ético; Protecção; Insegurança; Impotência.