Índice do artigo

Sinais Vitais nº 51
Novembro 2003

 


 

EDITORIAL

Com este número comemora-se mais um ano de edição da Revista Sinais Vitais e é toda a Enfermagem portuguesa que está de parabéns.
Nestes já nove anos de existência temo-nos pautado pela seriedade, honestidade e isenção face a todos os poderes instituídos sempre na busca da qualidade que os nossos assinantes procuram e merecem.
O projecto Formasau, Formação e Saúde L.da, que está na base da criação da Revista Sinais Vitais, do Jornal de Enfermagem e da Revista Investigação em Enfermagem, completa 10 anos ao serviço da Enfermagem Portuguesa. Nestes anos de actividade nas áreas da formação e da edição tem apostado forte em tornar visível o que de bom os Enfermeiros produzem. Hoje podemos afirmar que este projecto é uma referência nessa divulgação e em todas as suas áreas de actividade.
Ao longo destes anos temos contado com um conjunto muito largo de pessoas que , com o seu saber, a sua disponibilidade e sobretudo o seu querer ser enfermeiro, muito têm contribuído para o sucesso deste projecto.
Temos apoiado de forma significativa a investigação em Enfermagem, com a atribuição de prémios e de uma bolsa de investigação para a realização de trabalhos nas mais diversas áreas.
No âmbito da edição de livros, editamos um conjunto importante de títulos e de obras que se tornaram de leitura obrigatória. Muitos destes livros resultam de trabalhos de investigação, o que realça, sobretudo, a capacidade dos enfermeiros.
Queremos, como o dissemos à nove anos, mostrar a vitalidade da nossa profissão mostrar do que somos capazes, mesmo quando o clima sócio-político nos é adverso, queremos continuar a merecer a deferência dos enfermeiros, queremos continuar a ser uma porta aberta para o desenvolvimento do conhecimento em enfermagem e para a sua divulgação.
Cabe aqui um agradecimento sincero a todos aqueles que confiaram em nós para a edição das suas obras, queremos continuara a merecer essa confiança. A todos os que de tantas formas têm colaborado connosco, na formação, na publicação de artigos etc. para além do agradecimento, queremos reiterar a nossa vontade para continuar a apostar numa enfermagem mais centrada no seu objecto e por isso mais indispensável ao sistema de saúde.
Dada a proximidade da época natalícia queríamos desejar a todos os enfermeiros portugueses e suas famílias um santo Natal e um ano de 2004 cheio de venturas.

Muito obrigado pelo apoio.

 


 

A ENFERMAGEM E A GLOBALIZAÇÃO
A educação para a incerteza

AUTORA: Maria Arminda Mendes Costa

Nota introdutória.
No artigo de reflexão que se apresenta, tomando como conceitos-chave: ensino de enfermagem, globalização, mudança, “empowerment”, reflexão, educação /aprendizagem, explicitaremos um conjunto de questões sobre as quais urge pensar e debater no ensino de enfermagem; analisaremos ainda alguns pressupostos que, face à globalização e suas implicações para a sociedade do conhecimento, poderão sustentar um debate que, genericamente intitulamos “ A enfermagem e a globalização. A educação para a incerteza”.
A enfermagem não pode ficar indiferente aos debates da actualidade sejam eles do âmbito social, ou do foro específico da saúde. Um dos debates que atravessa hoje a sociedade moderna é o da chamada globalização. Desafio para uns, fonte de muitos males para outros, incógnita para quase todos, a globalização aí está: discute-se nos forum mais diversificados, origina encontros internacionais, grandes manifestações, alinham ricos e pobres em espaços e com fins distintos. Que relação se estabelece então entre globalização e enfermagem?
O movimento de profissionalização de enfermagem emerge com o início do século XX e tem a sua origem num corpo de saberes baseado na ciência moderna, em ruptura com a tradição empírica. Os enfermeiros têm vindo a empenhar-se na aquisição do poder de certificação da exclusividade de formação e do monopólio do seu campo de actividade, como forma de deterem o controlo do exercício profissional e ainda a delegação de outros poderes, como o controlo da formação e das condições de trabalho. A título de exemplo, diríamos que o debate que, recentemente atravessou algumas escolas superiores de enfermagem públicas foi só a ponta do iceberg: a integração das instituições de enfermagem no ensino universitário insere-se neste desafio da globalização e da educação global, no qual, a incerteza do conhecimento aplicado (ensino politécnico) não se escreve (nem inscreve...) na mesma linha autonómica da concepção e aplicação do conhecimento (ensino universitário).
O ensino de enfermagem poderá  desempenhar um papel fundamental, paradigmático e de mudança para outras modalidades de ensino, quer por se apresentar como o palco onde ocorrem muitos dos acontecimentos comuns que à formação dizem respeito, quer porque se trata de um universo de pessoas empreendedor e irrequieto, quer porque muitas (demasiadas?) e rápidas mudanças sociais e políticas no Sistema do Ensino Superior o têm afectado. Quem o nega? Os medos de hoje, não serão o reflexo de um carreirismo acéfalo que durante algum tempo estagnaram os fluxos da mudança? O ajustamento da enfermagem às expectativas e necessidades sociais, além de um desejo natural, tem representado nos últimos tempos um considerável esforço da comunidade académica de enfermagem e da profissão em geral. Disso nos dão conta as inumeráveis obras e artigos científicos que temos visto ser publicados.

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ADENOMA DA HIPÓFISE

 AUTORAS: Eunice Sousa; Glória Couto

Palavras chave: Hipófise; Adenoma; Transfenoidal

RESUMO
A hipófise é uma glândula com um papel importante na secreção e regulação de várias hormonas. O principal tumor que a afecta é o adenoma. Mediante as alterações hormonais que produzem e o comprometimento, ou não, de estruturas cerebrais adjacentes, são tomadas as decisões terapêuticas. A cirurgia por via transfenoidal é a forma de tratamento cirúrgico mais usada. Os cuidados de enfermagem devem ser prestados de acordo com a especificidade desta cirurgia.

INTRODUÇÃO
Os adenomas da hipófise são tumores frequentes e representam cerca de 10 a 15% de todas as neoplasias intracraneanas. As suas manifestações clínicas passam por diversas alterações hormonais e/ou pela compressão dos orgãos adjacentes a esta glândula.
Os tumores da hipófise têm a particularidade de serem quase todos benignos. As suas causas não estão bem definidas, mas pondera-se os factores genéticos. Sendo esta patologia tão frequente nos serviços de neurocirurgia, cabe aos enfermeiros actualizar e aprofundar conhecimentos para prestar melhores cuidados. Foi nesse sentido que decidimos elaborar este trabalho. Pretendemos  fazer uma revisão da anatomo-fisiologia da hipófise, descrever o principal tumor que a afecta, suas manifestações clínicas e tratamentos usados, dando especial atenção à cirurgia por via transfenoidal. Elaboramos um plano de actuação de enfermagem  para doentes submetidos a esta cirurgia, baseado na realidade do serviço de Neurocirurgia do Hospital Geral de Santo António.

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A monitorização da dor como 5º sinal vital

 

AUTORA: Maria dos Anjos Berjano Valadas 

Resumo
A dor é uma experiência pela qual, todos já passámos. Para alguns tratou-se de dores agudas, para outros tratou-se de dores crónicas de duração prolongada. Qualquer que seja a sua natureza MACCAFFERY (1989), considera que ela é multidimensional e subjectiva, o doente é a única autoridade na sua existência e não o profissional de Saúde, cabendo a este acreditar incondicionalmente nas queixas do doente e agir de forma a minimizá-las. Desta forma, a avaliação da dor é presentemente um objectivo prioritário das equipas de cuidados, que pretendem tornar objectivo algo que é eminentemente subjectivo. Foi com este intuito que desenvolvi em âmbito académico e apliquei no serviço de Especialidades Médicas onde exerço funções, uma folha própria de registo para controlo da dor.


Palavras chave
Dor, Cuidados de Enfermagem, Monitorização da dor


A DOR É...
... Um sintoma que acompanha de forma transversal, a generalidade das situações patológicas que requerem cuidados de Saúde. Segundo DIAS (2000), a dor pode ser considerada, sob vários pontos de vista e analisada à luz de vários conceitos e linguagens diferentes. Como é uma experiência puramente subjectiva, torna-se um conceito difícil de definir.
A dor segundo MACCAFFERY (1989), “é tudo aquilo que a pessoa que a vive diz que é, e existe da forma que a pessoa diz que existe”, para MELZACK & CASSEY, citados por DIAS (2000:87), “a dor é um fenómeno multidimensional, envolvendo componentes sensitivos, afectivos, motivacionais, ambientais e cognitivos”.
Para SWENSON, referido por OTTO (2000), a dor pode ser categorizada de várias formas: dor aguda, é de duração breve (menos de três a seis meses), conhece-se quase sempre a causa, a intensidade pode variar de moderada a intensa e o tratamento destina-se à eliminação da causa. A dor crónica, estende-se para além dos três meses. Pode ou não conhecer-se a causa, e não responde ao tratamento, ou não diminui após a cicatrização da lesão. A intensidade pode variar de moderada a severa e o tratamento é variável. A dor crónica oncológica, que é a mais comum no meu Serviço e foi o ponto de partida para a criação da folha de registo, pode ser aguda ou crónica, a intensidade pode ser severa e a sua duração prolongada. Quando assim é, essa dor torna-se em si mesma uma doença com caracter insidioso, muitas vezes intemporal, com ou sem lesões subjacentes, criando no doente desequilíbrios de humor e alteração das actividades de vida diárias, com implicações nas componentes familiar, social e económica. Neste sentido falamos em “DOR TOTAL”, DIAS (2000:88). Verifico diariamente que o grau de dependência dos doentes, depende do grau de dor sentida, ou seja, quanto menor for a dor, maior é a sua autonomia e a vontade de viver.
Segundo BASTOS (1997) e FOLLEY (1993), referidos por DIAS (2000), a dor, é um dos sintomas que reflecte maior carga negativa a nível biológico e emocional devendo ser entendida como um fenómeno global e encarada mediante uma perspectiva holistica, tendo em conta vários factores: o contexto sociocultural do doente, a sua condição biológica e psíquica, experiência anterior de dor e a sua religião, assim sendo, deve ser afastada a ideia errónea que se trata de uma dor imaginária e ter-se em mente que toda a dor é real, ainda que ela nos pareça desproporcionada em relação à lesão causal, ou ainda que melhore com a administração de um placebo ou com uma intervenção psicológica.
Por vezes há casos em que o apoio psicológico alivia a ansiedade do doente podendo “mascarar” ligeiramente a dor, no entanto ela persiste ao longo do tempo, a administração de placebos não se faz, a dor do doente é sempre valorizada e são sempre tomadas medidas no sentido de a aliviar.
Verifico frequentemente que, quando a dor não está controlada, os doentes vivem centrados nessa dor. A sua presença constante impede-os de desviarem a sua atenção para outra actividade, porque ela, está de tal forma presente, que os impede de terem outro ponto de interesse.  O testemunho de alguns doentes, revela que ela incomoda-os, faz-lhe perder a vontade de tudo o que não seja no sentido de a aliviar.
A dor passa a fazer parte integrante da vida dos doentes, sendo capaz de dominar tanto o corpo como a mente, transformando a sua vida numa cansativa, e alarmante corrida de obstáculos, afectando tanto o trabalho como o descanso, desorganiza a sua capacidade de se alimentar, de dormir e de desempenhar qualquer actividade, influenciando assim a sua qualidade de vida.

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ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA NO RECÉM-NASCIDO

AUTORA: MARIA FILOMENA DA SILVA CÂNDIDO TEIXEIRA 

PALAVRAS-CHAVE: Alimentação entérica; amamentação; prematuridade; leite materno; leite adaptado; suplementos.

RESUMO
O suporte nutricional neonatal deve ser iniciado precocemente de modo a permitir ao recém-nascido pré-termo o desenvolvimento e crescimento semelhante ao intra-uterino e ao recém-nascido termo o seu desenvolvimento normal.

INTRODUÇÃO
Um suporte nutricional adequado permite aumentar a resistência a doenças e melhorar a resposta à medicação ou à terapia cirúrgica. Déficits nutricionais prolongados podem provocar atrasos no desenvolvimento cerebral irreversíveis.
Sempre que a situação clinica do recém-nascido o permita deve-se utilizar a alimentação entérica e não a parentérica. Isto porque esta é mais segura, mais fisiológica, facilita uma normal homeostasia hormonal e enzimática, estimula o desenvolvimento da função gastrointestinal prevenindo a atrofia do lúmen intestinal, evita certos efeitos secundários da alimentação parentérica como por exemplo a colestase, o aumento dos níveis séricos de bilirrubina e de fosfatasse alcalina e as infecções e tem uma melhor relação custo-eficácia. Não necessita também de tanto controlo laboratorial e é mais rápida de obter. A alimentação entérica produz um aumento de peso mais rápido diminuindo assim o tempo de internamento hospitalar.

CONSIDERAÇÕES GERAIS
Em termos calóricos preconiza-se que para os recém-nascidos pré-termo sejam administradas 105 a 115 kcal/kg/dia e para os termo 120 kcal/kg/dia, isto para um ganho de peso durante o primeiro ano de vida de 15 grs/dia e 15 a 30 grs/dia respectivamente. As proteínas requeridas são 2,25 a 4gr/kg/dia. A gordura é 4 a 6gr/kg/dia e não deve exceder 55% do total calórico. A relação da distribuição calórica deve ser semelhante à do leite materno (6% do total das calorias deve vir das proteínas, 42% dos carbohidratos e 52% das gorduras).
A introdução da alimentação deve ser começada com menor volume e menor concentração de forma a evitar-se a intolerância alimentar e outros distúrbios como por exemplo a enterocolite necrozante. Deve-se ir aumentando gradualmente tanto em volume como em concentração. Nos recém-nascidos pré-termo em que haja necessidade de restrição hídrica o aporte deve ser dado para permitir o aumento de peso, aumentando a concentração do leite. Nos recém-nascidos com atraso de crescimento intra-uterino o calculo deve ser feito para o percentil 50 para um bebé daquela idade gestacional e não de acordo com o seu peso no momento pois o seu sistema gastrointestinal está desenvolvido de acordo com a sua idade gestacional e por isso permite maiores volumes e concentrações.
O ganho de peso, o aumento no comprimento e no perímetro cefálico nos recém-nascidos pré-termo deve ser semelhante à curva intra-uterina e 40 semanas após o nascimento deve ser semelhante aos recém-nascidos termo.
Se a alimentação entérica não for iniciada poderão ocorrer atrofia do sistema gastrointestinal que o deixa muito mais susceptível a infecções, à enterecolite necrozante e a distúrbios hormonais. Mínimas quantidades não aumentam o risco de enterecolite necrozante e podem começar a ser administradas 48 a 72h após o nascimento mesmo em recém nascidos de peso inferior a 1500grs.
Existe uma perda de peso fisiológica do recém- nascido, perda essa dependente da idade gestacional e do peso à nascença que é de mais ou menos 1 a 3%/dia. O suporte nutricional adequado deve permitir ao recém-nascido que essa perda não seja nem inferior a 10% nem superior a 20%. Se a perda for inferior a 10%, significa que está a haver um aporte excessivo com as possíveis consequências de uma persistência do canal arterial ou de uma displasia bronco-pulmonar. Se a perda for superior a 20%, pode significar um aporte insuficiente. Até ao máximo de 18 dias o peso à nascença deve estar recuperado. Quanto menor for o peso à nascença, maior é a perda fisiológica e mais longo o tempo de recuperação do peso ao nascer.
No caso de recém-nascido pré-termo o leite materno é insuficiente em termos proteicos, de fósforo e de cálcio pelo que devem ser adicionados fortificantes. Os recém-nascidos pré-termo necessitam maior aporte destes nutrientes do que os termo. O leite materno está adaptado para os termos e a evolução do leite materno é sempre de acordo com as necessidades do bebé termo conforme este vai crescendo.
Formulas para prematuros estão adequadas de acordo com a imaturidade do tracto gastrointestinal. São normalmente de concentração calórica elevada para permitir uma adequada nutrição num baixo volume devido à habitual restrição hídrica que estes bebés necessitam. Contém predominantemente proteínas, carbohidratos de fácil digestão, incluindo combinações de lactose e de polímeros de glicose e gorduras que combinam triglicéridos de cadeia média com triglicéridos de cadeia longa. Os Pré-termos conseguem absorver melhor os triglicéridos de cadeia média que os de cadeia longa porque a quantidade de bílis que conseguem segregar é inferior à necessária para a absorção dos triglicéridos de cadeia longa. As formulas são normalmente isosmolares ( aproximadamente 300mosm/kg de água ), de modo a reduzir a diarreia osmótica e a prevenir a enterecolite necrozante. Normalmente contém extra-vitaminas, electrólitos e minerais de modo a satisfazer as necessidades de crescimento dos bebés pré-termo.
Em termos de necessidades de suplementos para crianças pré-termo, só devem ser adicionados quando estas estão a tolerar toda a alimentação. Devem ser espaçados durante todo o dia e não unicamente numa refeição para evitar a hiperosmolaridade e a intolerância alimentar.

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AVANÇOS TECNOLÓGICOS NO TRATAMENTO DE FERIDAS 

 

AUTOR: Marlene Isabel Lopes

PALAVRAS CHAVE: Feridas crónicas; Pensos passivos/interactivos; Cicatrização húmida

RESUMO
Conhecidos que são os problemas associados aos pensos convencionais – secos (dissecação da ferida, bioadesão e dor associada à remoção, falta de propriedades de barreira, maceração e pouca coesão das fibras), houve uma consequente alteração do mercado dos pensos. Assim, uma larga variedade de “modernos” produtos tem vindo a ser comercializados, concebidos a pensar na solução dos problemas apresentados pelos pensos convencionais e melhorando o processo de cicatrização natural.

INTRODUÇÃO
A investigação feita sobre feridas demonstrou que o método tradicional de realização de pensos através de compressas, removia os exsudados mas também o tecido recém-formado. As feridas cicatrizam mais depressa num ambiente húmido, pois os factores naturais presentes no exsudado promovem a sua cicatrização. Existem variadíssimos tipos de pensos que proporcionam este ambiente húmido e os estudos feitos revelam que a sua utilização permite uma cicatrização mais rápida e eficiente. Sendo que o plano de cuidados para uma ferida deve assentar numa base científica, os enfermeiros devem manter-se a par das investigações mais recentes. O processo de tomada de decisão acerca dos pensos implica que se relacionem as características da ferida com as particularidades de cada penso, sendo que estas devem ser escolhidos de forma a protegerem a ferida nas suas diversas fases.
A realização deste artigo surge da constatação de algum desconhecimento face a estes novos materiais de penso, nomeadamente a sua composição e indicação terapêutica. Antes de se abordar os materiais de penso propriamente dito gostaria ainda de relembrar alguns aspectos relacionados com a fisiopatologia da cicatrização e a caracterização dos vários tipos de feridas.
Cicatrização das feridas
A reparação/cicatrização das feridas envolve uma cascata de acontecimentos fisiológicos que têm início aquando do traumatismo de um tecido e que se dividem em três fases: defensiva, proliferativa e de maturação. Estas processam-se de forma interactiva, com sobreposições entre si.
1) Fase defensiva – esta fase, que corresponde à resposta inicial do organismo à lesão, divide-se noutras duas: a hemostase e a inflamação. As suas principais finalidades são controlar a hemorragia e limpar o  leito da ferida. A hemostase parece ser um factor primordial para que se inicie o processo de cicatrização, o que pode ser importante para compreender a natureza das feridas crónicas que não cicatrizam: pouco vascularizadas e resultantes de compromissos circulatórios, pelo que não recebem os estímulos necessários para promover a cicatrização. Na inflamação ocorre vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar, vasocongestão e extravasamento de líquido seroso para os tecidos circundantes. Os macrófagos desempenham um papel importante intervindo no desbridamento da ferida, produzindo factores de crescimento e estimulando a síntese de colagénio. A fase defensiva dura 3 a 4 dias e a ferida apresenta-se avermelhada, ruborizada e edemaciada.
2) Fase proliferativa – esta fase, cujo resultado esperado é o preenchimento do espaço da ferida por tecido conjuntivo e a sua cobertura com epitélio, compreende três estádios: a granulação, a contracção e a epitelização. Durante o processo de granulação a neoangiogénese (produção de novos vasos sanguíneos) e a síntese de colagénio combinam-se para criar uma nova rede capilar e irrigar o tecido colagenoso que preenche o leito da ferida. O tecido formado por este processo denomina-se tecido de granulação, cuja coloração é vermelho translúcido. É muito vascularizada, frágil e facilmente sangrante. A contracção consiste na redução das dimensões da ferida através da retracção do tecido de granulação e da pele circundante. Na epitelização as células de zonas íntegras da epiderme reproduzem-se e migram sobre a ferida. Nas feridas que cicatrizam por segunda intenção, a reparação só tem início depois de restabelecido o leito da ferida. Nas feridas crónicas, em que os bordos têm “rebordo”, não é possível a migração das células epiteliais porque os bordos não são proliferativos, sendo que estas feridas dependem da intervenção cirúrgica para cicatrizarem.
3) Fase de maturação – a maturação corresponde à fase em que se dá a remodelação. Tem início quando a ferida fica encerrada com tecido conjuntivo e epitelial. A produção de colagénio estabiliza, as fibras organizam-se e aumenta a resistência do tecido à tracção. Depois de cicatrizado, um tecido recupera apenas 80% da resistência à tracção e a cicatriz tem menos elasticidade que a pele intacta. O processo de cicatrização pode persistir até 2 anos.
Caracterização das feridas

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TRATAMENTO DE FERIDAS – ESTUDO DE CASO

AUTORAS: Felisbela Valgôde e Irene Almeida

RESUMO:
Há um provérbio que diz: “ Mais vale prevenir do que remediar.” E na realidade está correcto. É importante prevenir as úlceras varicosas, para evitar os longos meses de tratamentos e os prolongados internamentos hospitalares.
Utilizando produtos adequados, embora de maior custo , pode diminuir-se o período de tratamento das feridas, esta foi a conclusão a que chegamos ao injectar um factor de crescimento, em duas úlceras varicosas.

Introdução
Desde que o homem existe na terra como caçador-colector, tem tido a preocupação de cuidar das suas feridas, sendo portanto um tema bastante antigo. Tão antigo como actual, pois ainda hoje, apesar dos progressos e dos estudos realizados, há muito para ser descoberto. À medida que a medicina se torna mais sofisticada, o cuidar de feridas  torna-se mais complexo.
Constata-se na maioria das vezes, se não sempre, que os doentes com feridas, nomeadamente as varicosas, implicam dor e sofrimento no doente, gasto de material e de tempo, atrasos no processo de cicatrização, resultando num aumento médio de tempo de internamento ,sequelas por vezes graves e irreversíveis nos doentes e uma enorme sensação de frustração no pessoal de enfermagem e médico, face aos resultados obtidos.
Tudo isto acaba por se traduzir em elevados custos económicos e sociais, quer para os doentes, quer para as instituições, quer mesmo para a política de saúde em geral.
Porque acreditamos que os novos produtos e as novas tecnologias nos darão forte contributo para a melhoria dos cuidados prestados, propusemo-nos realizar um estudo, com um produto ainda pouco conhecido – factor de crescimento (neupogen) - , mas já utilizado, com bons resultados.
Para cumprir a nossa missão, fizemos uma apurada pesquisa bibliográfica sobre considerações gerais de feridas e sobre úlceras varicosas e também um trabalho de campo, nomeadamente ao nível de um estudo de caso ( Sr.ª A), internada no nosso serviço a fim de aplicar o produto acima referenciado e testar a sua eficácia. Foi escolhida a Sr.ª A, porque já a conhecíamos de anteriores internamentos e porque vivia perto do hospital para que quando tivesse alta pudesse-mos dar continuidade à execução dos pensos.
Ao realizar  este estudo, pretendemos atingir os seguinte objectivos:
a-     Melhorar a qualidade dos cuidados prestados;
b-    Diminuir a dor e o sofrimento ao doente;
c-     Favorecer o processo de cicatrização;
d-    Melhorar o custo/benefício.

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Sobre a Saúde, a Doença e os Cuidados de Enfermagem

 AUTORA: Maria Alice Mártires

Resumo:
A saúde é uma experiência pessoal e, por isso, uma vivência subjectiva. Cada pessoa assume para si o que percepciona sobre aquilo que é a saúde, atendendo ao que considera normal, tendo em conta o seu nível cultural, social, económico, espiritual e forma de vida. Os enfermeiros encontram-se numa posição privilegiada para interpretar as expressões de saúde / doença manifestadas pelas pessoas, na relação terapêutica que estabelecem ao prestarem cuidados de enfermagem.Palavras – Chave: Saúde / Doença; Cuidados de Enfermagem.

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CONSENTIMENTO INFORMADO:
A voz da autonomia do utente reflectida na aceitação ou recusa da prestação de cuidados proposta

 

Autora: Sara Isabel de Jesus Ferreira

Resumo:
Actualmente temos assistido a uma mudança galopante no paradigma da prestação de cuidados, que veicula o respeito pela dignidade humana. Assim, os Enfermeiros devem reger as suas intervenções por questões éticas, as quais contemplam a necessidade de obter o Consentimento Informado do utente.

Palavras Chave: Consentimento Informado; Autonomia; Beneficência; Não maleficência;Justiça

A  profissão de Enfermagem caracteriza-se por ser simultaneamente uma arte e ciência, cuja essência está orientada por um conjunto de princípios éticos. Assim, a ética em Enfermagem reflecte-se essencialmente no que devemos ser como Enfermeiros, na relação com os utentes (CAMACHO, CAMACHO, REIS, 1999). Devemos então aceitar que a profissão de Enfermagem se deve reger por normas ético-morais. Estas, decorrem da convicção universalmente reconhecida de que a pessoa tem um valor incomensurável, e de que a vida humana é inviolável. Este valor da dignidade da pessoa humana como marco axiológico fundamental está consignado na lei por vários documentos, como é o caso da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), que só passados 30 anos, portanto em 1978 foi instituída em Portugal, entre outros os quais pretendem sobretudo reconhecer e realçar a importância da pessoa humana (ARCHER,1999). Todas essas convenções, a par com o desenvolvimento tecnológico, biológico e médico, que cada vez mais tende a imperar no seio da nossa sociedade, começa agora a arrastar consigo problemas éticos, uma vez que aquilo que é tecnicamente possível, pode não ser eticamente legítimo (ANTUNES, 1996). Foi então que a 4 de Abril de 1997 em Oviedo, no seio do conselho da Europa, surgiu a Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e da Dignidade do Ser Humano Face às Aplicações da Biologia e da Medicina, a qual é um dos cunhos mais importantes na história do direito Biomédico (ARCHER, 1999).
Além de todos os documentos apresentados anteriormente, os quais têm como intuito salvaguardar os direitos da pessoa humana, existe também a Bioética, a qual citando TELES (p.2, 2000) “corresponde à necessidade que a presente sociedade tem de conciliar os conceitos da moralidade com os conflitos éticos resultantes do evoluir da biomedicina e da tecnologia científica, sob pena de comprometer os destinos da vida humana”. Desta definição incorrem dois conceitos muito comuns no campo das ciências da saúde, os quais estão na base dos actos de Enfermagem: ética e moral (CAMACHO, CAMACHO, REIS, 1999).
O termo moral relaciona-se sobretudo com um conjunto de normas que são genericamente aceites por determinada sociedade, enquanto que a ética procura fundamentar o agir, ou seja, explicar o porquê de determinadas atitudes. Assim, a questão ética reveste-se de extrema importância na prestação de cuidados de saúde, uma vez que estes têm por base a essência do Homem e também porque o médico deixou de ser soberano na decisão clínica (ANTUNES, 1996).

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Acompanhamento ao bloco operatório- Que Significado?

 

 Autores: Alberto Preto; Luis Pereira; Olinda Oliveira

RESUMO
Com o objectivo de perceber a forma como a grávida que vai ser submetida a cesariana electiva, vive o período que decorre desde o momento que sai do serviço de obstetrícia até à chegada ao bloco operatório, decidimos realizar um estudo exploratório/ descritivo, cuja pergunta de partida é “Qual o significado que as grávidas submetidas a cesariana electiva, atribuem a quem as acompanha ao bloco operatório?”.
Este estudo realizado, inserido numa abordagem qualitativa veio permitir-nos determinar quem deve acompanhar a parturiente submetida a cesariana electiva, de forma a protocolizar a actuação com vista à uniformização dos cuidados e consequente aumento da qualidade dos cuidados prestados.
Os dados foram colhidos através da realização de entrevistas individuais  semi- estruturadas. A amostra estudada era constituída por quinze puérperas.

INTRODUÇÃO
O processo de admissão de uma grávida num hospital produz um efeito psicológico que está condicionado de acordo com o acolhimento que lhe é feito. O primeiro impacto produzirá na sua memória, lembranças que perdurarão e que serão determinantes no seu comportamento em futuras hospitalizações, quer sejam suas, quer de familiares e parentes muito próximos. A relação que se estabelece, nesse momento, assim como no decorrer do internamento, deve ser determinante e considerada como suporte básico para uma real relação empática com a grávida De facto, não é uma doença que a traz ao hospital, mas sim, um momento de felicidade, é o momento de trazer o seu filho ao mundo.
O objectivo principal do nosso estudo é identificar quem deve acompanhar a grávida submetida a cesariana electiva até ao bloco operatório.
Pretendemos também:
-Perceber como a grávida que vai ser submetida a cesariana electiva, vive o período que decorre desde o momento que sai do serviço de obstetrícia até à chegada ao bloco operatório, nomeadamente quanto aos seus sentimentos tais como: ansiedade, medo, receios e dúvidas.
-Identificar que pessoas são mais importante para a gravida durante esse mesmo acompanhamento.
O trabalho que se segue encontra-se organizado em três partes. Na primeira, procedeu-se ao enquadramento teórico de temas fundamentais para o nosso estudo, como a ansiedade e os benefícios de um acompanhamento diferenciado.
Na segunda parte, definimos a metodologia e a problemática utilizada no trabalho.
Na terceira parte, apresentamos a análise dos resultados, bem como a discussão dos mesmos.
Por último, apresentamos algumas conclusões que surgiram deste trabalho.

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A COMPLEXIDADE DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA COMUNIDADE

 

AUTORES: Carmen Gaudêncio; Matilde Santos; Graça Moraes Rocha

PALAVRAS-CHAVE
Comunidade; Cliente/Família; Ensino; Processo de Enfermagem

RESUMO
O processo de enfermagem é um elemento fundamental que orienta a prática dos cuidados de enfermagem ao cliente/família, de forma a assisti-lo no desempenho de actividades que contribuam para promover, proteger e recuperar a saúde. Neste contexto, apresentamos um processo de enfermagem de uma família cuidada em experiência clínica, com o objectivo de melhor compreender a importância do enfermeiro de família.

NOTA PRÉVIA
“ A didáctica dos cuidados de enfermagem tem um papel fundamental no processo de formação pelo que os estudantes necessitam de orientadores que estejam comprometidos com o Cuidar, onde os papeis que lhe estão inerentes são os de inspirar nos estudantes de enfermagem uma atitude cuidativa e o prazer de aprender.” (Rosa Carvalhal, p.XI, 2002
Este trabalho surge no contexto do Ano Complementar de Formação em Enfermagem, na fase de prática correspondente ao Ensino Clínico, realizado no ano de 2002.
Integrada numa Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC)  de um Centro de Saúde da área de Lisboa, realizei um trabalho na comunidade, desenvolvido em parceria com a enfermeira docente da Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa e enfermeira orientadora do Centro de Saúde.
Acreditando que os saberes e competências desenvolvidos são fundamentais numa formação ao longo da vida, pretende-se com o presente artigo transmitir a envolvente complexa dos cuidados na comunidade.

INTRODUÇÃO
A prática dos cuidados no âmbito da saúde comunitária pretende convergir para o caminhar de um profissional que é capaz de justificar as suas decisões e assumir responsabilidades, graças aos seus conhecimentos e competências humanas.
Sendo  o enfermeiro de família aquele que tem como responsabilidade cuidar de um grupo de famílias, devendo trabalhar em conjunto com estas para manter e/ou melhorar o equilíbrio a nível de saúde, ajudando-as a encontrar estratégias para lidar com agentes stressores. Consideramos que a proximidade e continuidade de cuidados com o mesmo profissional uma mais valia, para o caminhar do cliente no sentido da sua autonomia e responsabilização pelo seu estado de saúde.
Ao realizar um Processo de Enfermagem é necessário mobilizar adequadamente recursos, não só do próprio meio familiar como também da comunidade, a fim de que a família se encontre motivada para a autonomia, no sentido de promover a vida com o máximo de qualidade.

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Construção identitária da enfermagem e Modelos de prestação de cuidados de saúde - perspectiva sociológica

AUTORA: Ana Paula Teixeira de Almeida

O papel dos enfermeiros nas unidades de saúde não é homogéneo nem passível de uma radical uniformização. As estruturas específicas dos vários tipos de serviços e unidades de prestação de cuidados de saúde, condicionam, estruturalmente o exercício dos profissionais de enfermagem, delimitam as suas estratégias de revalorização profissional e as formas de visibilidade social do exercício da profissão.
Para uma compreensão mais aprofundada da construção identitária da enfermagem, torna-se necessário ter como referente os contributos teóricos da sociologia da saúde, em particular dos estudos específicos que analisaram moldes de funcionamento de unidades hospitalares e modelos de prestação de cuidados de saúde.
Chauvenet (1972) faz uma análise da organização e divisão do trabalho em meio hospitalar, estabelecendo uma classificação e caracterização dos serviços em três categorias: serviços de medicina geral, serviços especializados produtores de cuidados em larga escala e serviços de ponta, ou de elevada tecnologia, orientados para a pesquisa e investigação. O primeiro tipo de serviços ocupam a base da hierarquia hospitalar, quer do ponto de vista profissional quer do ponto de vista das relações de poder no interior do Hospital. As actividades desenvolvidas nestes serviços são polivalentes e as infraestruturas pouco importantes. Um segundo tipo de serviços considerados são os serviços especializados que praticam cuidados de massas. A orientação do serviço está centrada na produção de cuidados em função do tipo de patologias da área de especialidade em causa. As actividades de investigação não são aspectos essenciais da orientação e organização do trabalho. São feitas paralelamente às actividades de prestação de cuidados, sem que estas últimas sejam dependentes de programas de investigação. Os serviços de ponta, orientados para a investigação, possuem como especificidade o facto da organização da prestação de cuidados e a própria selecção da clientela objecto de cuidados diferenciados depender de programas de investigação e pesquisa. Este serviço caracteriza-se pela utilização de infraestruturas específicas e tecnologias de ponta.

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