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AVANÇOS TECNOLÓGICOS NO TRATAMENTO DE FERIDAS 

 

AUTOR: Marlene Isabel Lopes

PALAVRAS CHAVE: Feridas crónicas; Pensos passivos/interactivos; Cicatrização húmida

RESUMO
Conhecidos que são os problemas associados aos pensos convencionais – secos (dissecação da ferida, bioadesão e dor associada à remoção, falta de propriedades de barreira, maceração e pouca coesão das fibras), houve uma consequente alteração do mercado dos pensos. Assim, uma larga variedade de “modernos” produtos tem vindo a ser comercializados, concebidos a pensar na solução dos problemas apresentados pelos pensos convencionais e melhorando o processo de cicatrização natural.

INTRODUÇÃO
A investigação feita sobre feridas demonstrou que o método tradicional de realização de pensos através de compressas, removia os exsudados mas também o tecido recém-formado. As feridas cicatrizam mais depressa num ambiente húmido, pois os factores naturais presentes no exsudado promovem a sua cicatrização. Existem variadíssimos tipos de pensos que proporcionam este ambiente húmido e os estudos feitos revelam que a sua utilização permite uma cicatrização mais rápida e eficiente. Sendo que o plano de cuidados para uma ferida deve assentar numa base científica, os enfermeiros devem manter-se a par das investigações mais recentes. O processo de tomada de decisão acerca dos pensos implica que se relacionem as características da ferida com as particularidades de cada penso, sendo que estas devem ser escolhidos de forma a protegerem a ferida nas suas diversas fases.
A realização deste artigo surge da constatação de algum desconhecimento face a estes novos materiais de penso, nomeadamente a sua composição e indicação terapêutica. Antes de se abordar os materiais de penso propriamente dito gostaria ainda de relembrar alguns aspectos relacionados com a fisiopatologia da cicatrização e a caracterização dos vários tipos de feridas.
Cicatrização das feridas
A reparação/cicatrização das feridas envolve uma cascata de acontecimentos fisiológicos que têm início aquando do traumatismo de um tecido e que se dividem em três fases: defensiva, proliferativa e de maturação. Estas processam-se de forma interactiva, com sobreposições entre si.
1) Fase defensiva – esta fase, que corresponde à resposta inicial do organismo à lesão, divide-se noutras duas: a hemostase e a inflamação. As suas principais finalidades são controlar a hemorragia e limpar o  leito da ferida. A hemostase parece ser um factor primordial para que se inicie o processo de cicatrização, o que pode ser importante para compreender a natureza das feridas crónicas que não cicatrizam: pouco vascularizadas e resultantes de compromissos circulatórios, pelo que não recebem os estímulos necessários para promover a cicatrização. Na inflamação ocorre vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar, vasocongestão e extravasamento de líquido seroso para os tecidos circundantes. Os macrófagos desempenham um papel importante intervindo no desbridamento da ferida, produzindo factores de crescimento e estimulando a síntese de colagénio. A fase defensiva dura 3 a 4 dias e a ferida apresenta-se avermelhada, ruborizada e edemaciada.
2) Fase proliferativa – esta fase, cujo resultado esperado é o preenchimento do espaço da ferida por tecido conjuntivo e a sua cobertura com epitélio, compreende três estádios: a granulação, a contracção e a epitelização. Durante o processo de granulação a neoangiogénese (produção de novos vasos sanguíneos) e a síntese de colagénio combinam-se para criar uma nova rede capilar e irrigar o tecido colagenoso que preenche o leito da ferida. O tecido formado por este processo denomina-se tecido de granulação, cuja coloração é vermelho translúcido. É muito vascularizada, frágil e facilmente sangrante. A contracção consiste na redução das dimensões da ferida através da retracção do tecido de granulação e da pele circundante. Na epitelização as células de zonas íntegras da epiderme reproduzem-se e migram sobre a ferida. Nas feridas que cicatrizam por segunda intenção, a reparação só tem início depois de restabelecido o leito da ferida. Nas feridas crónicas, em que os bordos têm “rebordo”, não é possível a migração das células epiteliais porque os bordos não são proliferativos, sendo que estas feridas dependem da intervenção cirúrgica para cicatrizarem.
3) Fase de maturação – a maturação corresponde à fase em que se dá a remodelação. Tem início quando a ferida fica encerrada com tecido conjuntivo e epitelial. A produção de colagénio estabiliza, as fibras organizam-se e aumenta a resistência do tecido à tracção. Depois de cicatrizado, um tecido recupera apenas 80% da resistência à tracção e a cicatriz tem menos elasticidade que a pele intacta. O processo de cicatrização pode persistir até 2 anos.
Caracterização das feridas

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